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ALmoço no Pastifício Dell’amore: cultura do não-restaurante. | Josi Basso/Divulgação
ALmoço no Pastifício Dell’amore: cultura do não-restaurante.| Foto: Josi Basso/Divulgação

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Idealizadores e frequentadores do Amaranta Cozinha Afetiva mostram e contam como funciona, na prática, um não-restaurante.

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Após duas décadas marcadas pela valorização da individualidade, a coletividade ganha força e marca os principais movimentos sócioculturais deste tempo. Resquícios dos anos 1990, conhecidos como década da ganância, e dos anos 2000, apelidados de noughties, a década do medo em que nada culturalmente original aconteceu, foram apagados após a crise financeira de 2008, quando muita gente perdeu muito dinheiro e passou perceber e exaltar a importância das coisas simples da vida. Valores e hábitos esquecidos no afã da busca por recursos financeiros começaram a ser resgatados por jovens questionadores, testemunhas cansadas da luta cotidiana dos pais, muitas vezes ausentes, em busca da sobrevivência – e só dela. Com uma horda de valores e hábitos desenterrados do túnel do tempo, compartilhar e estar junto se destacam na análise dos principais valores sociais inseridos no zeitgeist (espírito do tempo) atual.

Há quem divida a casa, o carro, o escritório e até o tempo. Mas nada é tão retrô quanto sentar à mesa e compartilhar o alimento.

Somos animais sociais e nenhum homem é uma ilha, já filosofaram em outras épocas. No início do século passado, o neurocientista britânico Wilfred Trotter disse que temos quatro instintos primários: autopreservação, nutrição, sexual e gregário. Uns anos depois, Freud concordou e foi além: percebeu que os três primeiros são narcísicos, ou seja, focam no “eu”, e o último, vejam só, é coletivo. Isso quer dizer que estar junto, compartilhar e, sobretudo, pertencer fazem parte da busca mais íntima de nossa natureza primitiva.

Assim, na segunda década século 21 vemos diversos movimentos de compartilhamento emergirem e tomarem forma à medida que necessidades surgem. Há quem divida a casa (Airbnb), o carro (Fleety), o escritório (coworkings) e até o bem mais valioso da atualidade, o tempo (Bliive). Mas nada é tão retrô quanto sentar à mesa com pessoas queridas (ou não) e compartilhar o alimento, com zero pressa e muita contemplação. Se os ingredientes forem orgânicos e locais, melhor ainda. Além disso, numa época marcada pela violência lá fora, receber na segurança aqui de dentro está absolutamente alinhado ao zeitgeist. No fim das contas, de que mais precisamos para ser feliz além de teto, comida e amor? Alguém aí disse muito dinheiro?

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