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Plenário da Câmara: centrão demonstrou força ao retirar as contrapartidas dos estados no projeto da renegociação das dívidas. | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Plenário da Câmara: centrão demonstrou força ao retirar as contrapartidas dos estados no projeto da renegociação das dívidas.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

No papel, o governo de Michel Temer tem mais de um terço dos 513 deputados da Câmara em um só grupo aliado, o “centrão”. Na prática, porém, o cálculo não é tão simples. Quando não é atendido em seus interesses, o bloco costuma trazer problemas para o governo, vende caro o seu apoio e não se acanha em confrontar outros aliados da base de sustentação do Planalto. Na semana passada, o centrão deu mais um exemplo das derrotas que pode infligir ao governo, quando aliou-se à oposição e aprovou a renegociação da dívida dos estados com a União, mas sem contrapartidas – o que acabou sendo parcialmente vetado por Temer. Mesmo assim, o cordão do centrão está no topo da lista dos contemplados em uma possível minirreforma ministerial cogitada para fevereiro.

Por causa das movimentações do grupo, até a data da eleição para a presidência da Câmara está incerta. Jovair Arantes (PTB-GO), integrante do bloco e também pré-candidato ao cargo, acusou o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de “rasgar o regimento” ao marcar a eleição para o dia 2 de fevereiro de 2017. Jovair diz que a praxe da Casa é eleger o novo presidente no dia 1.°, logo na volta do recesso parlamentar.

O que é o centrão

O centrão é um bloco informal que reúne sete partidos e age ao sabor do vento governista. A atuação do “centrão” foi decisiva no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Na semana que antecedeu a aprovação da admissibilidade do processo, na Câmara, Dilma chegou a entregar dezenas de cargos a representantes do centrão, sem sucesso.

“Ele [Maia] está rasgando as tradições e as páginas da Constituição e do regimento interno mais uma vez. Ele usa de todos os casuísmos e vai continuar usando até alguém tirar ele de lá, e isso vai acontecer no voto”, diz Jovair.

O deputado do PTB alega que Maia está manobrando para que os adversários não possam contestar a candidatura dele. Segundo Jovair, não haveria tempo hábil para fazê-lo, já que as inscrições para candidatos estão abertas até as 23h de 1.° de fevereiro, e a eleição está marcada para as 9h do dia 2. O regimento interno da Casa, porém, só fixa a eleição neste dia quando é realizada no início de uma nova legislatura, o que não é o caso da disputa de 2017.

Rodrigo Maia, que o Planalto gostaria de ver reconduzido ao cargo, afirmou que não há irregularidade no cronograma anunciado. “A Constituição e o regimento estão e estarão sempre sendo respeitados”, afirma o presidente da Câmara.

Indicação barrada

É graças ao centrão – formado por um bloco de siglas heterogêneas como PP, PR, PSC e PRB – que Temer ainda não nomeou um novo ministro da Secretaria do Governo. Geddel Vieira Lima pediu demissão há um mês, mas quando o tucano Antônio Imbassahy (BA) foi garantido no cargo por auxiliares do Planalto e do Congresso, uma visita de representantes do centrão ao gabinete presidencial fez Temer recuar.

Além de exigirem nomeações que estariam atrasadas desde as negociações do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, os deputados do centrão reclamaram de interferência do governo na eleição para a presidência da Câmara, na volta do recesso. A ameaça foi clara: a reforma da Previdência não iria adiante. Deu certo. O Planalto prefere discretamente a reeleição de Rodrigo Maia, e um tucano na articulação com o Congresso deixaria o centrão em maior desvantagem ainda.

No vai e vem do centrão, o ponto mais baixo foi em julho, com a derrota do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), para Maia na eleição para a presidência da Casa, após a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), grande aliado do grupo. O centrão perdia duas vezes seguidas.

Horizonte confuso

A hibridez do bloco, que tem quatro vezes mais deputados do que o PSDB e só 20% menos parlamentares do que a base aliada, faz com que o horizonte para o ano que vem fique confuso. Com o fogo nem sempre amigo, os discursos em público não são claros.

“O centrão não existe. Não sou nem centrão, nem direitão”, desconversa Rosso, que também demonstra querer mais espaço no governo. “Se o governo pensa em estar mais perto de sua base, acho ótimo. Tem que olhar para todos. A base foi muito exigida nesse segundo semestre e vai ser ainda mais cobrada em 2017.”

Os partidos do centrão emplacaram sete dos 25 ministérios. Os nomes mais representativos são Marcos Pereira, presidente afastado do PRB e comandante do Ministério da Indústria e Comércio; Gilberto Kassab, também presidente licenciado do PSD, ministro das Comunicações; e Ricardo Barros, do PP, que ocupa o Ministério da Saúde. O bloco atingiu seu auge indicando, também, o líder do governo na Câmara: André Moura (PSC-SE).

Ministérios no horizonte

Custou ao governo manter a agenda de reformas duras que demandaram votações expressivas, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Teto de Gastos, que precisava de três quintos do plenário. Para desanuviar o clima, Temer cogita prestigiar o grupo com uma minirreforma ministerial para fevereiro – só depois da eleição para a presidência da Câmara, para não irritar o centrão novamente. Apesar de “mini”, a mudança colocará em jogo pastas importantes. Além da Secretaria de Governo, estarão à disposição a Saúde, o Planejamento e o Trabalho.

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