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Por que você vota em um partido e não em outro? Dois cientistas políticos norte-americanos fizeram uma pesquisa e chegaram à seguinte conclusão: o voto pode ter mais a ver com medo do adversário do que com amor pelo próprio partido. Vota-se num Democrata mais pelo temor do que os Republicanos possam fazer no poder. E vice-versa.

As perguntas que Alan Abramowitz e Steven Webster fizeram mediam a paixão do eleitor por sua própria legenda. Ao longo dos anos, esse amor por um partido diminuiu, mas pouco. Por outro lado, o ódio pelo partido rival aumentou consideravelmente. E assim eles tentam explicar esse estranho fenômeno que leva as pessoas a serem mais fiéis a um partido, apesar de gostar cada vez menos dele. Medo, essa é a resposta.

Assim, pode ser que um papel fundamental de um partido que deseje vencer as eleições seja não o de aumentar a paixão dos seus fiéis eleitores – e sim o de criar um medo, ainda que ilusório, em relação a seu opositor. O outro vai acabar com tal programa. O outro vai nos levar à guerra. O outro vai aumentar impostos. Isso é mais convincente do que “eu vou fazer algo bom”.

Nos Estados Unidos, isso é obviamente exacerbado pelo fato de só haver dois partidos com chances reais de poder. Mas é evidente que no Brasil, apesar do multipartidarismo, isso poderia ser objeto de estudo semelhante. E quem acompanhou eleições recentes por aqui sabe que a tática do medo tem sido amplamente empregada pelos dois principais concorrentes à presidência: PSDB e PT.

Na verdade, os dois partidos, aqui, apenas representam dois grupos diferentes de eleitores, de teses. (Quem diria no final dos anos 1980 que o PSDB acabaria sendo o partido da centro-direita conservadora brasileira?)

Em 2002, quando eleito presidente, Lula disse que a esperança tinha vencido o medo. Realmente, sua campanha enfrentou o medo gerado pelos tucanos: o que seria do país com o PT no poder? Regina Duarte, num clássico da política nativa, foi à tevê dizer exatamente em relação ao petismo: “Eu tenho medo”. Não colou. A situação do país era ruim e o sujeito que via a economia real brasileira não dando conta do recado escolheu mudar.

Mas o que levou o PT ao poder – e o que o manteve lá – também foi em grande medida o medo. O medo do FMI. Dos ianques. Da submissão internacional. Da Alca. Do neoliberalismo. E por aí vai. Não que alguns desses temores não tivessem razão de ser, assim como os medos gerados pelo outro lado podiam ou não ter base em fatos reais. Não é isso o que importa.

O que importa aqui é que ao longo dos anos as grandes democracias (de que EUA e Brasil são apenas dois exemplos) vêm sofrendo com um tiroteio infindável e macabro entre seus principais atores políticos. A ponto de parecer que todos têm razão para ter medo de todos. A ponto de tirar de qualquer um a vontade de crer na política. Eis o problema: os partidos têm sido muito mais eficazes em criar pânico do adversário do que em gerar interesse por suas propostas.

A demonização dos políticos e da política é a consequência. Mas sem política, o que resta? A barbárie. Ou a aposta em gestores isentos desses vícios. Discurso que já surgiu mais de uma vez na defesa de intervenções de militares, por exemplo.

O que, claro, também é a defesa da barbárie.

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