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O governador Beto Richa parece ter cometido um erro de cálculo. E a consequência imediata, que já se tornou visível, é a diminuição da força de seu grupo político em Curitiba. Um dos principais nomes do PSDB na capital, João Cláudio Derosso sofre uma inédita e inusitada CPI para investigar seus atos. Isso numa Câmara que tradicionalmente estava entre as mais dóceis que se poderia imaginar.

Pouco tempo atrás, a CPI seria não apenas improvável: seria impossível. Basta lembrar que Derosso foi eleito presidente pela oitava vez e, mesmo com todas as contestações sobre sua perpetuação no poder, não enfrentou sequer uma chapa de oposição. Ga­­nhou o cargo por W.O., como costuma acontecer a cada dois anos. E isso foi no fim do ano passado. Não faz tanto tempo assim.

Agora as coisas mudaram. E mudaram por quê? O raciocínio não é difícil. Por que saiu a CPI? Na última hora, até mesmo os partidos mais fiéis a Derosso aderiram, é verdade. Mas DEM, PP e o próprio PSDB só assinaram o pedido de investigação contra o vereador porque, àquela altura, na segunda-feira, a CPI já era inevitável. Em poucas horas, a oposição teria chegado às 13 assinaturas necessárias de qualquer jeito.

As adesões de última hora, assim, ocorreram apenas para garantir que os vereadores que apoiam Derosso possam disputar a relatoria e a presidência da CPI. Sem isso, perderiam o controle de vez da situação. E, se não tivessem assinado o pedido, como poderiam disputar o comando de uma comissão que não queriam que ocorresse?

Mas a oposição só tinha, até o mês passado, cinco vereadores. Como chegou a 13 adesões? A explicação está na saída de Gustavo Fruet do PSDB. Os vereadores que hoje fazem parte da base de Luciano Ducci (PSB), que são os mesmos que apoiam Derosso, viram que podem mudar de lado sem perder a perspectiva de poder.

E aí está o erro de cálculo de Richa. Talvez o governador não tenha percebido que, ao barrar a candidatura de Fruet e forçar sua saída do partido, estaria criando uma alternativa viável ao seu próprio projeto de poder. Derosso está naufragando? Ele seria o vice de Ducci? Os vereadores que não se sentem confortáveis com isso têm como pular para outro barco. Antes da saída de Fruet, isso seria impossível. Correriam para onde?

Claro que é cedo para dizer que o PSDB perdeu o poder. Pelo contrário, o partido continua com o governo do estado na mão e tem um aliado na prefeitura. Mas os paranaenses já viram esse filme. O dono do poder se empolga com sua artilharia e começa a detonar os que estão a seu lado, caso arrisquem fazer-lhe sombra. Depois, acaba num partido dominado por sua figura, mas que não tem um candidato à sucessão, um número dois, um nome qualquer para disputar uma eleição importante.

Beto tem se mostrado um bom estrategista. Chegou à prefeitura. Mesmo contra o conselho de alguns, abandonou o mandato para disputar o governo. Conseguiu o que queria. Pode bem ser que ele tenha um plano de longo prazo que venha a se revelar brilhante. Por enquanto, porém, não é o que parece. Parece mesmo que Beto deu um tiro no próprio pé.

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