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O que faz um rei ser rei? Por que algumas pessoas mandam e muitas obedecem? Por que isso ocorre da direção da escola até a Presidência da República? Foi a partir de perguntas como essas que os artistas gráficos Larissa Ribeiro e André Rodrigues, a escritora Paula Desgualdo e o hacker-ativista Pedro Markun desenvolveram o projeto “Quem manda aqui?”, um livro feito por e para crianças a respeito do mundo da política e das relações de poder.

Era uma vez um rei muito ruim e mandão, dono de qualquer desmando e decisão. Não foi escolhido por mim ou por você, nem por uni duni tê.”

“Era uma vez uma prefeita.

Bem, ela não era perfeita.

Só que essa a gente escolheu,

pessoas comuns, como você e eu.

Nem sempre ela acerta.

Aí escolhemos outra: estamos sempre alerta!

Trecho extraído da obra “Quem manda aqui?”

Os quatro integrantes do Laboratório Hacker de São Paulo levantaram cerca de R$ 12 mil no Catarse para desenvolver a obra, usando uma metodologia para lá de interessante. Construíram o livro a partir de vivências que realizaram com diferentes perfis de crianças. “Em vez de a gente apenas escrever um livro para contar às crianças, invertemos o jogo, fomos fazer oficinas e, usando a experiência delas, elaboramos a história do livro”, explica Pedro Markun.

A realização das oficinas rendeu experiências inesperadas que serviram de reflexão para o desenvolvimento do livro. Em uma das vivências para explicar o absolutismo, os autores traziam figuras de um castelo, pediam para as crianças fazerem seus desenhos. Depois escolhiam uma delas para ser rei ou rainha e, então, pediam que os membros da realeza escolhessem qualquer uma das ilustrações para que fizesse parte do livro. Depois de escolhido o desenho, perguntavam se alguém mais gostaria de selecionar outra ilustração para também ser incluída no livro.

Porém, quando uma das crianças fazia a escolha, os autores diziam – “infelizmente você não vai poder escolher, por que nesse sistema só o rei é que manda”. Em uma dessas vivências, Markun relata que as crianças sentenciavam: “Quem foi que inventou a brincadeira idiota de rei e rainha?”. Foi, assim, na pele, que vivenciaram a experiência do autoritarismo real.

Disponível na rede

A obra está disponível para download na internet na página livroquemmandaaqui.wordpress.com, mas também será editada pela Companhia das Letrinhas, o braço de livros infanto-juvenis da Companhia das Letras. Detalhe, a obra será publicada com licença creative commons, o que possibilita a cópia e o compartilhamento da obra, com menos restrições que as existentes na legislação de direitos autorais.

Para o próximo ano, o grupo começou a trabalhar numa obra sobre eleições. “Fizemos uma segunda oficina que é começo do próximo livro, para lançar um pouco antes das eleições do próximo ano. A oficina que preparamos como ponto de partida começa com o rei leão perdendo o seu título monárquico, e aí vai ter uma eleição na mata”, conta Markun.

De baixo para cima

Um livro que explicasse política para crianças já seria interessante, mas um livro do gênero escrito a partir da experiência vivida com crianças em oficinas é muito mais instigante. Ao envolver crianças na produção do conteúdo da obra, a turma do Laboratório Hacker de São Paulo teve um grande aprendizado com as crianças a respeito de seu modo de ver a política, o que os tornam mais aptos a retratar essa visão.

Mais que sinal de respeito ou de humildade, a abordagem permite a adequação de um assunto de difícil compreensão. Se política fosse fácil, não haveria esse embate de jovens e adultos nas redes sociais que, incapazes de expor argumentos civilizados, travam uma intestina luta ideológica, mais parecidos com torcedores radicais de futebol, que com seres humanos racionais.

Criar formas inteligentes de levar o mundo da política para a vivência das crianças não é só educativo, como pode desenvolver nelas uma ética muito diferente daquela predominante na internet hoje. No livro produzido pelos integrantes do Laboratório Hacker, quem manda são as crianças.

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