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Exclusões dramáticas 1

Em dois atos, mendigos roubaram a cena neste início do Festival de Curitiba. O primeiro foi na festa de abertura. Depois da estreia de Cinderela, no Teatro Guaíra, a Praça Santos Andrade foi fechada para celebrar o início do Festival. Cercas de metal separaram os convidados para festa regada a sucos e tira-gostos, dos excluídos, que ficaram de fora.

Exclusões dramáticas 2

A foto publicada no site da Gazeta do Povo é exemplar. Mostra uma pessoa simples observando a celebração dos convidados do Festival. Embora todas as formalidades e autorizações tenham sido dadas, como relata o jornal, é de se questionar porque ninguém teve a sensibilidade de pensar nos cidadãos sem credenciais para a festa. Não se trata de aqui fazer uma crítica desmedida aos organizadores. Porém, é necessário registrar o incômodo da situação criada. Fazer distinção, ainda que por tempo determinado, de quem pode ou não entrar em praça pública merece repreensão.

Exclusões dramáticas 3

O segundo ato aconteceu no Teatro do Bom Jesus, na estreia peça SPon SPoff Spend, trabalho da companhia Maracujá Laboratório de Artes, de São Paulo, que encena a vida de um grupo de moradores de rua. Julia de Campos Moura, estudante de Artes Cênicas da Faculdade Artes do Paraná (FAP), conseguiu ingressos com a organização do Festival (o que merece elogio) para levar 14 moradores de rua ver a peça. Numa espécie de intervenção artística a estudante proporcionou reflexões inusitadas.

Exclusões dramáticas 4

Conforme descrito na reportagem da Gazeta “Mendigos ‘convidados’ acompanham peça no Teatro Bom Jesus”, em certos momentos da peça dois moradores de rua passaram a falar alto, coisas no estilo “é assim mesmo que funciona”, o que incomodou outros espectadores. Algumas pessoas foram embora no meio da peça, por se sentirem desconfortáveis com as intervenões. Os mendigos, entretanto, ficaram entusiasmados de poder ir ao teatro.

Exclusões dramáticas 5

Se no primeiro ato a distância entre as pessoas era materializada em grades de ferro, no segundo se concretiza num abismo cultural separando moradores de rua das pessoas que têm acesso ao universo da cultura. Apesar da boa iniciativa que Julia Moura e os organizadores tiveram, a distância entre os cidadãos não conseguiu ser diminuída.

Exclusões dramática 6

Essa é uma realidade que não pode ser negligenciada pelo poder público e pela sociedade. É de importância extrema que empreendedores sociais, mais criativos e ágeis, invistam suas energias para no médio prazo conseguir reverter a exclusão cultural de parte da população curitibana.

Finalmente o Brasil tem um Poder Legislativo forte. Mas não pelos motivos que a sociedade gostaria. Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, ambos do PMDB, detêm hoje o controle da pauta de discussão e a influência necessária para conduzir a votação de projetos de interesse do governo, entre eles, um de vital importância, o de ajuste fiscal. Sabidamente sem a aprovação do ajuste o país demorará mais para sair da crise.

A discussão do Congresso com a União, entretanto, não tem se dado pautada em interesses republicanos. Não há debate técnico sendo realizado sobre a conveniência do ajuste ou sobre os efeitos que uma eventual desaprovação terá no crescimento do Brasil. O jogo de interesses está mais para a ampliação de influência dentro do governo, controlar ministérios, ter mais cargos para nomear.

O Poder Executivo forte, que passa o rolo compressor sobre oposicionistas, sempre foi criticado. Basta lembrar do caso recente dos deputados governistas do Paraná que aceitaram atropelar a democracia, entrando de camburão da Polícia Militar na Assembleia Legislativa para votar um “pacotaço” de medidas impopulares sem ter de discutir com a sociedade. Deu no que deu.

A experiência está demonstrando que ter um Legislativo forte, assim como ter um Executivo imperial, não resolve os entraves da democracia brasileira. O que falta são partidos que discutam ideias no Parlamento com base em programas de partido e representantes de qualidade. Sem discussão com base em ideias programáticas irá se continuar observando disputas escancaradas por cargos e poder. Sem a maciça entrada de pessoas de bem para a política partidária, os interesses pessoais vão prosseguir se opondo aos interesses da sociedade.

Dessa crise política, abre-se oportunidades para renovação. A opinião pública, a sociedade organizada, os cidadãos engajados precisam voltar a tomar a política como uma atividade nobre – buscando meios de assumir o controle dos partidos, democratizando-os, e excluindo de seus quadros os membros comprovadamente corruptos.

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