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Sinceramente, não tenho ideia se a coincidência dos mandatos seria uma boa coisa para o Brasil. Talvez não seja a solução. Mas é algo a se pensar, especialmente quando tem início o circo em torno de alianças para a disputa.

O prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, candidato à reeleição, esperou o padrinho político, o governador Beto Richa (PSDB), voltar de viagem para anunciar o deputado federal Rubens Bueno (PPS) como vice de sua chapa. Era preciso um dia em que a agenda dos três coincidisse. Foi feito na hora do almoço, quinta-feira passada, para que ninguém precisasse "cabular" serviço.

Mas o deputado deixou de exercer funções como representante do povo – não participou da sessão da CPMI do bicheiro Carlinhos Cachoeira na quinta-feira – para fazer algo representando interesses próprios. Correção: representando interesses da família. Ao que consta, Rubens exigiu o apoio prioritário da chapa para em 2014 eleger a filha, a vereadora Renata Bueno (PPS), como deputada federal.

Por algum motivo esse grupo político se acha muito superior ao concorrente Gustavo Fruet (PDT), o qual, pelo isolamento que sofria no ninho tucano, deixou o PSDB para tentar voos próprios. Só que, para ter alguma chance na disputa, precisou se unir a um partido que criticou muito no passado – o PT.

Na semana passada, o que causou espanto foi o encontro entre Lula e Paulo Maluf (PP) – este, procurado pela Interpol. Tudo em nome do apadrinhado do ex-presidente, Fernando Haddad (PT), que concorre à prefeitura de São Paulo.

É claro, essas manobras fazem parte do jogo democrático. Mas só porque aceitamos. Como disse, não tenho opinião definida sobre isso, mas comecei a pensar que a coincidência de mandatos seria um verdadeiro balde de coerência na nossa política.

Será que em 2010, batalhando dia a dia para eleger a sucessora Dilma Rousseff, ao mesmo tempo em que exercia a Presidência da República, Lula teria tempo para fazer essa chacrinha em torno de Fernando Haddad? Há um mês ele apareceu no programa de Carlos Massa, o Ratinho, e promoveu uma verdadeira propaganda eleitoral fora de época, pela qual já foi punido. Depois, ao posar ao lado de Maluf, provocou a ira de Luiza Erundina (PSB), que não concordou com a palhaçada e desistiu de ser a vice de Haddad. Não se engane eleitor, até agora ela foi a única pessoa coerente nesse período pré-eleitoral.

Em 2010, Richa também estava na batalha para se eleger governador. Ele tinha um pouco mais de tempo, pois obrigatoriamente teve de deixar a prefeitura de Curitiba para concorrer. Talvez ele tivesse condições de ajudar Ducci na disputa pela prefeitura de Curitiba. Com certeza seria uma situa­ção preferível à que temos hoje, quando o governador deixa os interesses do estado de lado para apoiar um aliado político. Há quem diga que Richa vai se licenciar do cargo de governador para ajudar Ducci neste ano. Isso já ocorreu várias vezes nas disputas pela prefeitura da capital. Mas, nesses casos, o governador só se licenciou às vésperas da decisão do segundo turno, para dar aquela arrancada final na campanha. Será que Richa teria coragem de se licenciar do governo semanas antes do pleito? Preferindo atuar em nome de interesses partidários, em vez de governar o Paraná para todos seus cidadãos?

Custo

Em 2010, o ministro Ricardo Lewandowski, ponderou que a disputa custou R$ 3,60 por eleitor, e que esse era "um custo relativamente barato para termos uma democracia funcionando". Mas nesse valor não estão incluídas as campanhas milionárias dos candidatos, nem o desperdício de dinheiro ao pagarmos remuneração para os deputados que nem trabalhavam nas assembleias legislativas ou na Câmara, ocupados que estavam com as campanhas de reeleição.

Uma das propostas de reforma política que tramita no Senado é justamente a da coincidência de mandatos. A Proposta de Emenda Constitucional n.º 38/2011 já recebeu o aval da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, mas desde novembro aguarda para ser apreciada em plenário. Se aprovada, a coincidência de todas as eleições levaria alguns anos para ser implantada de fato. Mas isso vai ser difícil de ocorrer. Nossos políticos parecem preferir esse circo eleitoral a cada dois anos.

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