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Confissão: torço contra o projeto do metrô. Acho terrível assumir essa postura negativa, mas esta é a verdade. Gostaria muito, mas muito mesmo que Curitiba tivesse esse meio de transporte, mas no momento não acho que é a melhor solução. E, quanto mais leio sobre sistemas de metrô no Brasil, mais me posiciono contra.

Torço contra o projeto do metrô. Acho que só mudarei de opinião caso a Operação Lava Jato consiga provocar uma limpeza real no modus operandi das empreiteiras e governos no Brasil.

Acho que só mudarei de opinião caso a Operação Lava Jato consiga provocar uma limpeza real no modus operandi das empreiteiras e governos no Brasil. Ou alguém consegue me assegurar que no projeto curitibano estaríamos imunes a casos de corrupção, superfaturamento e atrasos?

Vamos pegar dois exemplos de cidades que andam às voltas com obras do metrô. Salvador e São Paulo.

O metrô de Salvador foi inaugurado em julho de 2014, com 7,5 quilômetros de extensão. Quanto tempo levou para isso ficar pronto? Catorze anos. Sim. Ca-tor-ze (ou qua-tor-ze, para quem preferir). O contrato foi assinado em 1999 e as obras começaram em 2000. O custo dessa primeira etapa ficou em R$ 1 bilhão, quase o dobro do inicialmente orçado.

Aqui em Curitiba, o projeto prevê uma linha de metrô com extensão de 17,6 quilômetros. Estava orçado em R$ 4,69 bilhões, mas esse valor é de dois anos atrás, já está desatualizado. O desenho original previa o desembolso de R$ 1,8 bilhão do governo federal, R$ 1,5 bilhão em investimentos da iniciativa privada, R$ 700 milhões pela prefeitura de Curitiba e R$ 700 milhões pelo governo do Paraná.

No fim de abril, o secretário municipal de Planejamento e Administração, Fábio Scatolin, calculou que a União deveria entrar com mais R$ 463,4 milhões para garantir a reposição da inflação de 2013 até 2021, prazo para a obra ser finalizada.

Nem importa se o governo federal vai aumentar sua contrapartida ou não. O fato é que o custo final de obras de grande porte sempre tem extrapolado o valor inicial em um bocado de reais. Isso independentemente de governo, cor partidária, credo ou fé. Quem assinou o contrato do metrô em Salvador, em 1999, foi o prefeito Antonio Imbassahy, então no PFL (hoje DEM). Depois o cargo passou para João Carneiro, do PMDB e que passou para o PP. Em 2013, quando ACM Neto assumiu a prefeitura, foi acertado um acordo para transferir a responsabilidade pelo metrô ao governo da Bahia.

O modal foi inaugurado, mas é totalmente subsidiado pelos cofres estaduais. Não há cobrança de tarifa. E no momento ACM Neto e o governador da Bahia, Rui Costa (PT), não se entendem sobre o valor da tarifa de integração do metrô com os ônibus da capital. Já ouviu história semelhante?

O povo poderia ficar feliz, metrô de graça! Mas nunca é de graça. Entre 1.º de janeiro e 24 de julho, o governo da Bahia pagou R$ 166,4 milhões à CCR, que opera o metrô.

Considerando uma média de 26 mil passageiros transportados, o desembolso do governo estadual corresponde a R$ 31,39 por pessoa a cada dia. O pagamento não se refere ao transporte em si, mas é só para dar uma ideia do investimento necessário.

E ainda há um custo oculto, criminoso. As empreiteiras hoje envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras também foram acusadas pelo Ministério Público Federal de ter superfaturado o metrô de Salvador. O processo está suspenso por causa de escutas ilegais utilizadas para embasar a denúncia.

São Paulo

Nossa metrópole, com know-how para construção de metrô, se sai melhor? Não sei se alguém acha satisfatório isso: a construção da linha 4 - amarela, que começou em 2004, tem perspectiva para acabar em 15 anos – 2017, mas com extensão bem maior do que a linha de Salvador. Serão 12,8 quilômetros, se tudo der certo até lá (mas algumas estações só ficam prontas em 2018). O custo total da linha é de R$ 3,8 bilhões, atualmente.

Isso sem falar do custo da propina. Em 2013 veio a público um esquema de corrupção que teria ocorrido entre 1998 e 2008, durante as gestões tucanas. Empresas teriam feito acordo para garantir participação de todas em diferentes licitações do metrô e de trens em São Paulo. No mês passado, a Justiça aceitou denúncia contra seis executivos de empresas.

Estaremos livres disso em Curitiba? Alguém me garante? Se sim, mudo de ideia e passo a torcer pelo metrô.

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