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Jornalista teve perfil na Wikipedia alterado, com inclusão de críticas. | Fellipe Sampaio/SCOSTF
Jornalista teve perfil na Wikipedia alterado, com inclusão de críticas.| Foto: Fellipe Sampaio/SCOSTF

Procuradoria vai avaliar alteração de perfis

A Procuradoria da República no Distrito Federal irá analisar a alteração de perfis de jornalistas na Wikipedia feita a partir de computadores do Palácio do Planalto. A partir da avaliação inicial os procuradores irão decidir se abrem ou não algum procedimento de investigação sobre o caso. De acordo com um procurador ouvido pela reportagem, dificilmente algum membro do Ministério Público abrirá, por conta própria, uma investigação. A expectativa é que uma decisão mais concreta sobre a abertura ou não de um procedimento aconteça após análise de um pedido apresentado pela oposição na Procuradoria-Geral da República.

Na manhã desta sexta-feira (8) o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que caberia à PRDF analisar a abertura de um procedimento investigativo sobre o caso. Por isso, o material enviado à PGR deve ser encaminhado para os procuradores no Distrito Federal.

Além de alterações nas páginas de políticos, o computador da Presidência também foi usado para alterar perfil dos jornalistas Miriam Leitão, colunista de "O Globo" e da Gazeta do Povo, e de Carlos Alberto Sardenberg, da CBN e Rede Globo, na Wikipédia, conforme reportagem desta sexta-feira (8) de O Globo. De acordo com o jornal, o IP 200.181.15.10, da Presidência, realizou mudanças nos textos em maio do ano passado com o objetivo de criticá-los. O IP foi usado para associar Miriam Leitão ao banqueiro Daniel Dantas, afirmando que a colunista teria feito "a mais corajosa e apaixonada defesa" dele, e para desqualificar suas análises econômicas.

Já em relação a Carlos Alberto Sardenberg, a rede do governo incluiu comentários para atacar o jornalista pelo fato de ele ser irmão do diretor da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg. "A relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como colunista econômico", escreveram.

De acordo com o jornal, o Planalto afirmou que "o número do protocolo de internet (IP) citado pela reportagem é o endereço geral do servidor da rede sem fio do Palácio do Planalto. Isso significa que qualquer pessoa que utilizou essa rede via internet móvel terá como endereço de saída este número geral de IP. Por isso, não é possível apontar com segurança a identidade de quem alterou os textos citados pela reportagem a partir deste número de IP em maio de 2013".

Temer E Ideli

O mesmo endereço de IP registrado em nome da Presidência, que foi usado para editar a página do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha na Wikipédia, atuou para retirar informações possivelmente constrangedoras das páginas do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e da secretária de Direitos Humanos Ideli Salvatti.

No primeiro caso, a página de Temer sofreu alterações em relação à biografia de sua esposa, Marcela Temer. Foram retiradas a idade e a informação de que, antes de se casar com o vice-presidente, ela foi candidata a miss em Paulínia (a 117 km de São Paulo). O computador da Presidência também foi usado para retirar a informação de que Temer é membro da maçonaria. Ambas as mudanças no texto foram feitas em outubro do ano passado, mas somente a primeira não foi revertida.

No caso de Ideli, foi retirada a informação de que ela votou a favor do arquivamento de ações contra o senador José Sarney (PMDB-AL) na Comissão de Ética da Casa, em 2009. Também foi suprimida uma frase que a ministra disse à época: "Vou ser triturada politicamente".

Ambas as mudanças, feitas em janeiro deste ano, foram posteriormente revertidas por editores da Wikipédia.

Padilha

Onze computadores do governo federal foram usados para fazer alterações em páginas da Wikipédia, entre elas uma de dentro da Presidência a favor do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, conforme a Folha de S.Paulo revelou no dia 28 de julho.A conexão à web da Presidência foi usada para retirar trecho sobre suspeitas de corrupção na Fundação Nacional da Saúde (Funasa) quando Padilha era diretor do órgão, e incluir elogio ao programa Mais Médicos. "Com o sucesso do Mais Médicos Padilha se torna um dos pré-candidatos petistas à disputa pelo governo de São Paulo em 2014", dizia o texto.

Registros na página de Padilha na Wikipédia sugerem que o responsável pela inclusão de elogios foi o servidor Fernando Ramos Silva, que ocupa o cargo de coordenador-geral de produção e divulgação de informações do Palácio do Planalto.

O petista criticou a notícia de que o servidor também incluiu elogios a ele no site. Segundo Padilha, na época em que Silva fez as mudanças ele não era servidor do Planalto --e, sim, terceirizado do Ministério da Saúde-- e não usou um computador público. "O servidor usou seu computador pessoal, durante a noite e fora do expediente", disse o candidato. "Não se pode cercear as pessoas de colocar elogios ou críticas."

É impossível identificar quem alterou perfis na Wikipedia, diz Planalto

A assessoria do Palácio do Planalto informou nesta sexta-feira (8) que é "tecnicamente impossível" identificar os responsáveis pelas modificações nos perfis dos jornalistas Míriam Leitão e de Carlos Alberto Sardenberg, na Wikipédia, porque não há mais registros dos acessos feitos em maio do ano passado. Em nota, o governo afirmou que o caso é "lamentável" e que é "absolutamente condenável a utilização de equipamentos públicos com o intuito de atacar a imagem de qualquer cidadão".

Segundo a assessoria, como a rede de internet utilizada também funciona para a rede wi-fi, "qualquer pessoa, mesmo que estivesse em visita ao Palácio do Planalto, poderia, em tese, ter realizado as alterações". No entanto, na época das modificações não existia uma rede liberada para visitantes, o que só foi criado a partir da Copa do Mundo, em junho e julho deste ano.

A rede utilizada na época exigia que cada pessoa que quisesse usar conexão sem fio tinha que alterar as configurações de rede do computador e pedir uma senha específica.Até julho deste ano, os conteúdos acessados a partir da rede interna eram arquivados por no máximo seis meses. "Diante disso, não é possível identificar as máquinas utilizadas para estas alterações", afirma a nota.

A assessoria informa que em julho deste ano um novo software foi instalado e triplicou a memória do servidor do Palácio do Planalto para possibilitar o arquivamento por mais tempo de todas as operações realizadas pelos mais de 3,7 mil computadores vinculados à Presidência. Ao fim da nota, o governo diz que sempre "se pautou por uma relação respeitosa com a imprensa". " A liberdade de imprensa é um dos pilares da nossa democracia", afirma nota.

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