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A longa sessão desta terça-feira (09) no Senado ganhou ares de “cumprimento de tabela”. Tanto o grupo favorável ao retorno de Dilma Rousseff à presidência da República quanto os defensores do impeachment calculavam um placar desfavorável à petista. Até as 23h30, contudo, a votação ainda não havia iniciado no plenário. Dos 47 discursos feitos pelos senadores na tribuna ao longo do dia, 28 indicavam voto contra a petista.

Para que Dilma Rousseff vá a julgamento por crime de responsabilidade - foco da votação desta terça-feira - são necessários ao menos 41 votos, entre os 81 senadores. Até às vésperas da votação, o Planalto trabalhava informalmente com cerca de 60 votos contra Dilma Rousseff.

Durante as manifestações, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), classificado até então como “indeciso”, confirmou o voto a favor do julgamento de Dilma Rousseff, dando destaque à crise econômica e política. “Voto em função da falta de vigor transformador do governo Dilma, da incapacidade de resolver os problemas do País”, discursou o pepessista.

Presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, a sessão foi tumultuada pela manhã. À tarde, os ânimos dos senadores já estavam controlados. Do lado de fora, pouco movimento: nenhum manifestante em frente ao Congresso Nacional, ao contrário do que ocorreu na votação anterior, em maio, quando Dilma Rousseff foi afastada temporariamente.

“BLINDAGEM” A TEMER

A manhã foi marcada por uma avalanche de “questões de ordem” dos aliados da presidente Dilma Rousseff. O presidente do STF, acostumado a conduzir só as sessões da Corte máxima do Judiciário brasileiro, tentou se equilibrar no meio do falatório dos senadores. Mas, o balanço da manhã, segundo o próprio ministro, foi positivo: “Todos foram corteses e conseguiram expor seus pontos de vista livremente”, declarou ele, em entrevista à imprensa.

Uma das questões de ordem, capitaneada pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), já era esperada pelo plenário. O petista queria a suspensão do processo de impeachment alegando que seria a única forma de garantir uma investigação contra Michel Temer. O senador se refere ao fato de o empresário Marcelo Odebrecht, segundo reportagem da revista Veja, ter declarado aos investigadores da Lava Jato ter repassado R$ 10 milhões em dinheiro vivo ao PMDB, a pedido de Temer.

Se efetivado no cargo, Temer poderia ser “blindado” de qualquer investigação, na visão de Lindbergh Farias. Trecho do artigo 84 da Constituição Federal, destaca o senador, define que um presidente da República, na vigência do seu mandato, não poderá ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício das suas funções.

A questão de ordem, contudo, foi negada por Lewandowski. Para o presidente do STF, o tema é “estranho” ao parecer em debate na Casa, do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG), que trata da edição de créditos suplementares sem aval do Legislativo e de pedaladas fiscais, supostos crimes de responsabilidade cometidos por Dilma Rousseff. A suspeita contra Temer também pouco reverberou no plenário, entre os senadores.

RITMO DA SESSÃO

Por causa das questões de ordem, contrários ao impeachment foram chamados de “procrastinadores”. Já aliados de Michel Temer tentaram acelerar o ritmo da sessão ao longo do dia. A bancada do PSDB, por exemplo, definiu que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) seria o representante da legenda na tribuna, eliminando oradores tucanos da lista.

O grupo contou também com a ajuda do próprio presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tem se aproximado de Temer nos últimos dias. Calheiros conversou diretamente com parlamentares para tentar reduzir o número de oradores. Senadores inicialmente inscritos para falar foram desistindo ao longo da sessão.

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