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O dia em que o processo de impeachment foi enfim admitido pelo Senado Federal também foi o dia dos discursos – um de despedida, outro de chegada ao poder.

Um, questionou a legalidade do processo, do novo governo que começou e tinha um tom pessoal, evitando falar em derrota. O outro, buscou aproximação de setores mais conservadores da sociedade e pediu respeito às instituições.

Cada qual falou com seu público. Dilma, com a militância e com os que não aceitam o novo governo. Temer, com os setores descontentes com a presidente afastada, como os empresários e o próprio Congresso Nacional.

Os dois discursos, de acordo com o professor Michael Mohalen, professor da FGV Direito-Rio, estão recheados de fatos simbólicos.

Pela manhã, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) falou aos jornalistas e seguiu para o lado de fora do Palácio do Planalto, onde cumprimentou apoiadores de seu governo. Em sua fala, Dilma afirmou que não cometeu crime nenhum e chamou o impeachment de conspiração. “Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgada injustamente por ter feito tudo o que a lei me autorizava a fazer”, disse.

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Dilma falou também da sua trajetória pessoal e pediu à militância que não aceite o novo governo e que continue nas ruas. “Aos brasileiros que se opõem ao golpe, independentemente de posições partidárias, faço um chamado: mantenham-se mobilizados, unidos e em paz. A luta pela democracia não tem data para terminar”.

Para Mohalen, o discurso de Dilma teve um grau de emotividade e algo que nunca havia se visto na história de presidentes afastados, depostos ou que renunciaram. “Ela saiu e encontrou um grupo de pessoas que a apoiavam, o que nunca tinha acontecido. Era um grupo pequeno, mas existia”, afirmou.

Temer buscou o setor conservador

Já o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) falou no fim da tarde, logo depois de empossar os ministros que o devem acompanhar, pelo menos, até o final do julgamento da presidente afastada.

Temer falou em confiança nas instituições democráticas e falou em união do governo com o setor privado. “Unidos podemos enfrentar os desafios desse momento, de grande dificuldade. É urgente unificar a nação, unificar o Brasil”, afirmou.

O presidente interino também falou em uma nova relação com o poder legislativo – um dos motivos que levou o governo Dilma à ruína – e falou de religião, afirmando que um ato religioso significa uma religação. “Vamos religar toda a sociedade com os valores fundamentais do país”.

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Para Mohalen, o discurso de Temer ficou dentro do esperado, mas demonstrou claramente o anseio do presidente em exercício em conectar-se com o setor mais conservador da sociedade, seja pelo discurso ou pelos ministros escolhidos por ele para compor o governo. “Os nomes são da política tradicional e tradicionalmente ligados às alas mais conservadoras da sociedade, que devem se sentir mais calmos com o novo governo”, afirmou.

O professor ainda acredita que, diferente do discurso que “vazou” no WhatsApp meses atrás, Temer acertou ao trazer o tema da corrupção. “No outro discurso, ele não citava uma das principais críticas da população que era a corrupção e agora fez menções à Operação Lava Jato buscando tirar qualquer dúvida de que o processo deve se encerrar”, disse.

Para ela, golpe. Para ele, legalidade

Enquanto Dilma se afastou do governo afirmando que não há representação legítima, Temer defendeu a legalidade de sua chegada ao Planalto. O presidente em exercício buscou enfatizar sua titulação em direito constitucional e que busca defender a Constituição.

Na opinião de Mohalen, o questionamento sobre a legalidade de seu governo deve acompanhar Michel Temer, seja até o julgamento de Dilma ou até as próximas eleições. “Ele busca qualificar sua chegada ao poder e marcar, sempre que possível que o processo é legal, já que a questão deve acompanhá-lo por bastante tempo”, concluiu.

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