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Em meio ao clima de tensão pela abertura de investigação de políticos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras – alvo da Operação Lava Jato –, empreiteiros presos há quatro meses vivem outro momento, de resignação. “O que não posso esquecer é que estou preso, que isso não é uma situação normal na minha vida”, desabafou o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite. A empreiteira é apontada como uma das empresas do “cartel” que atuou na estatal petrolífera.

As impressões dos empreiteiros estão relatadas em documento inédito ao qual o jornal Estado de S. Paulo teve acesso elaborado pela Procuradoria da República no Paraná. O documento, um relatório de inspeção sobre as condições da carceragem da superintendência da Polícia Federal em Curitiba em que se encontram os executivos, foi feito após surgirem boatos sobre a precariedade do local. Onze dirigentes de construtoras estão presos desde 14 de novembro, quando foi deflagrada a 7.ª fase da Lava Jato, que mirou nas empreiteiras.

O presidente da UTC, Ricardo Pessoa, acusado de ser o chefe do “clube” de empreiteiras que pagava propina em troca de contratos na Petrobras, se queixou da imprensa. Críticas que ele disse ter condições de fazer porque, ao contrário dos demais presos, foi “capa de revista”. Em janeiro, reportagem da revista Veja mostrou anotações feitas por Pessoa nas quais o empreiteiro liga contratos da Petrobras sob suspeita ao caixa de campanha da presidente Dilma Rousseff.

“A imprensa tem praticado leviandades desde que começou esse sensacionalismo todo sobre isso aqui. Se você for olhar ao longo do tempo, ela não tem compromisso com nada, só com vender e fazer a escandalização. Não podemos nos pautar pelo que sai na imprensa em hipótese alguma. Eu posso falar isso porque sou capa de revista, sei muito bem do que eu falo.”

O comentário de Pessoa complementava queixas de outros colegas de cárcere sobre o noticiário. “O cara que apanha tanto já tá acostumado, mas é uma exposição pra gente e as famílias chegam aqui destruídas”, disse o vice-presidente do Conselho de Administração da OAS, Mateus Coutinho de Sá Oliveira. Os momentos de tensão são descontados na comida. “É ruim que às vezes a gente tem um surto de compulsão e come uma barra daquela (de chocolate) toda”, disse Oliveira.

Presidente de uma das maiores empreiteiras do país, a OAS, José Aldemário Pinheiro Filho disse que não perdeu sua dignidade na prisão. “É preciso deixar bem claro que não fere nenhuma dignidade nossa estar lavando alguma coisa. Lavo (a cela) porque quero.” Oliveira complementou: “A gente está limpando (a cela) porque quer, para limpar do nosso jeito.”

Biblioteca

Os executivos também têm preenchido o tempo com leituras. O vice-presidente da Mendes Júnior, Sérgio Mendes, o presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa, João Auler, e o diretor executivo da Galvão Engenharia, Erton Medeiros Fonseca, que estão na mesma cela, montaram uma biblioteca comunitária.

A preocupação para que as famílias sejam poupadas já chegou aos advogados. Sérgio Mendes afirmou aos procuradores que pediu aos seus defensores que “não façam comentários” com jornalistas sobre o que é dito nas visitas. Os advogados têm acesso aos presos diariamente e, uma vez por semana, as conversas são presenciais. Os familiares dos presos da Lava Jato não passam por vistoria nos dias de visita. A PF justificou que não se trata de um privilégio porque um policial acompanha a visita.

Os pedidos dos presos da Lava Jato são comuns: passar mais tempo com a família, acesso a telefonemas e até o isolamento de um compressor barulhento que existe nas proximidades. Eduardo Leite, da Camargo Corrêa, disse aos inspetores que gostaria de ter mais tempo para banho de sol. As demandas estão sendo analisadas pelos procuradores que fizeram a inspeção.

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