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Leandro Daiello assumiu o cargo em 2011, durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) | l/ELZA FIUZA AGENCIABRASIL-ABr
Leandro Daiello assumiu o cargo em 2011, durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT)| Foto: l/ELZA FIUZA AGENCIABRASIL-ABr

Desde que foi deflagrada, em março de 2014, a Operação Lava Jato cresceu em volume, importância e em número de crises e ameaças à atuação dos investigadores. Até agora a força-tarefa já enfrentou com preocupação o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a tentativa de investigados políticos de abafar as investigações, a aprovação desfigurada de medidas contra a corrupção no Congresso, entre outras ameaças. Agora, porém, a Lava Jato enfrenta também uma crise interna que pode levar à substituição do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Leandro Daiello.

Este cargo é subordinado ao ministro da Justiça e o titular atua como seu secretário. Além disso, comanda a atuação das superintendências da corporação em todo o país. A Associação Nacional dos Delegados Federais (ADPF) enviou nesta segunda-feira um pedido de substituição de Daiello ao presidente Michel Temer (PMDB).

A entidade vê riscos às investigações de corrupção sob o comando de Daiello e atribui a saída de delegados da força-tarefa da Lava Jato à gestão dele. Recentemente, o delegado Marcio Anselmo, que atua desde o início da operação, pediu transferência de Curitiba alegando “esgotamento físico e mental”.

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Anselmo é o quinto delegado da PF a deixar a Lava Jato desde o início da operação. Antes dele, foram deslocados os delegados Eduardo Mauat, Luciano Flores, Duilio Mocelin e Erika Mialik Marena – especialista em crimes financeiros e lavagem de dinheiro.

“Os delegados da PF entendem que a atual direção-geral não vem atendendo às necessidades do órgão e que a sua constante omissão vem causando o enfraquecimento da instituição, pois não promove o apoio devido àqueles que se dedicam às grandes operações, nem aos que estão a cargo das investigações rotineiras, resultando em um clima geral de insatisfação e indignação”, afirmou a ADPF, em nota.

“Em razão da falta de apoio da direção-geral da Polícia Federal, diversos delegados federais que coordenavam operações policiais foram deslocados para outras áreas e locais, devido ao esgotamento físico, mental e operacional a que são submetidos”, afirmou a entidade, em referência à transferência de Marcio Anselmo.

Gestão

A atuação de Daiello frente à Polícia Federal é, de fato, discreta. O diretor-geral raramente comenta a atuação da corporação em casos em investigação. Ele assumiu o cargo em 2011, escolhido pelo então ministro da Justiça do governo Dilma, José Eduardo Cardozo. Está na PF desde 1995.

Na gestão de Daiello, a PF deflagrou operações como a Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na Petrobras; a Zelotes, que apura suspeitas de propina no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e a suposta vinculação de repasses a um filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com edição de medidas provisórias; e a Acrônimo, que investiga o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), por suposto recebimento de propina em troca de financiamento no BNDES.

Também foi na gestão de Daiello que foram deflagradas operações como a Porto Seguro, que teve como alvo Rosemary Noronha, então chefe de gabinete do escritório da presidência da República em São Paulo e amiga íntima do ex-presidente Lula; e a Monte Carlo, que investigou esquema envolvendo o empresário de jogos Carlinhos Cachoeira e atingiu vários políticos.

Ainda assim, a atuação do diretor-geral está longe de ser unanimidade na corporação. Em 2013, uma pesquisa da Federação Nacional dos Policiais Federais mostrou que 69% dos policiais federais avaliavam a gestão de Daiello como péssima e outros 21,8% afirmaram que ela era ruim. A pesquisa revelou ainda que para 94%, a “falta de investimento nos últimos anos na PF” é “um castigo pelas investigações sobre corrupção”.

Na corda bamba

No início do ano passado, já se especulava a possibilidade de substituição de Daiello, após a confirmação da saída de Cardozo do Ministério da Justiça. O sucessor dele, Eugênio Aragão, causou polêmica ao dizer, em entrevista à Folha de S. Paulo, que trocaria toda a equipe de investigação em caso de “cheiro de vazamento”. Mesmo assim, Daiello foi mantido na direção-geral da PF.

Após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), a ADPF chegou a defender que Daiello continuasse no cargo para evitar atrasos nas investigações da Lava Jato. O diretor-geral da PF foi mantido pelo presidente Michel Temer (PMDB) e pelo ministro licenciado da Justiça, Alexandre de Moraes, que temiam que uma eventual substituição pudesse soar como tentativa de interferir nas investigações. Mesmo assim, havia uma previsão para que Daiello deixasse o cargo após a Olimpíada, o que não aconteceu.

Agora, com a licença de Moares do Ministério da Justiça – ele foi indicado por Temer para a vaga deixada pelo ministro Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal (STF) – a ADPF tenta emplacar também a saída de Daiello do cargo.

Lista tríplice

No ano passado, a ADPF chegou a abrir uma consulta entre os associados e montou uma lista tríplice com indicações para o cargo de diretor-geral da PF. A lista foi entregue ao presidente Michel Temer.

Quem encabeça a lista é a delegada Erika Mialik Marena, que fez parte da força-tarefa da Lava Jato. Ela foi a mais votada na consulta aberta pela ADPF no ano passado. Também integram a lista os delegados mineiros Rodrigo de Melo Teixeira e Marcelo Eduardo Freitas.

A indicação do diretor-geral da PF, porém, não precisa ser necessariamente baseada na lista elaborada pela instituição.

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