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Zelada (de jaqueta marrom), no IML de Curitiba: ex-diretor internacional da Petrobras mantinha contas secretas com 11 milhões de euros em Mônaco e US$ 1 milhão na China. | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Zelada (de jaqueta marrom), no IML de Curitiba: ex-diretor internacional da Petrobras mantinha contas secretas com 11 milhões de euros em Mônaco e US$ 1 milhão na China.| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

O ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada foi preso nesta quinta-feira (2) durante a deflagração da 15.ª fase da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. De acordo com o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Carlos Fernando Lima, a prisão de Zelada fecha a “camarilha dos quatro” da Petrobras – núcleo de corrupção formado pelos ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Nestor Cerveró e Zelada.

Prejuízo da estatal pode chegar a R$ 19 bilhões

De acordo com o delegado da PF Igor Romário de Paula, de 15% a 20% dos contratos eram desviados pela corrupção na estatal

O esquema de desvio de dinheiro da Petrobras e pagamento de propina investigado pela Operação Lava Jato é ainda maior do que o que vinha sendo estimado. De acodo com o delegado da Polícia Federal (PF) Igor Romário de Paula, um dos responsáveis pela investigação, o prejuízo com a corrupção na estatal pode chegar a R$ 19 bilhões – um laudo será divulgado na próxima semana para ratificar o valor. Em abril deste ano, a Petrobras admitiu ter tido um prejuízo de R$ 6,2 bilhões com a corrupção investigada na Lava Jato.

Segundo o delegado, os laudos estão sendo elaborados com base em lotes específicos de contratos. “Não é uma perícia em toda a movimentação da Petrobras ou de uma diretoria, são de alguns contratos investigados”, disse. O dinheiro desviado da estatal não era apenas os 3% de cada contrato, conforme foi revelado pelos delatores do esquema. O valor do prejuízo para a estatal girava em torno de 15% a 20% dos contratos.

“Eles [laudos] derrubam a tese de que a corrupção nesses contratos era em torno de 2%, 3%. Provavelmente nós vamos chegar em patamares de 15% a 20% do valor dos contratos sendo destinados a corrupção”, disse Igor Romário de Paula. “Esses laudos que estão sendo feitos agora estão considerando não só a corrupção destinada aos agentes públicos. Estão embutidos aí superfaturamento, jogo de planilhas e montagem de projetos destinados a também haver uma grande parcela de destinação de recursos para favorecer as empresas”, disse o delegado.

De acordo com ele, o laudo está sendo feito por peritos contábeis e por peritos de engenharia. “Temos a impressão que nunca chegaremos a um número fechado [de desvios]. E, infelizmente, nunca vamos recuperar um número próximo a esse valor”, afirmou Igor Romário.

Valor recuperado

De acordo com o procurador do Ministério Público Federal Carlos Fernando Lima, a força-tarefa espera recuperar espontaneamente R$ 1 bilhão até o fim deste ano. Até o momento, já voltaram ao cofres públicos cerca de R$ 700 milhões. Os valores se refere ao dinheiro devolvido pelos acordos de delação premiada. A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contrato com a Petrobras, mas a assessoria de imprensa informou que a estatal não vai comentar o assunto. (KK)

Veja quem são os diretores acusados de corrupção na Petrobras

“Depois de um ano e meio de investigações, creio que nós não temos indicativos de maiores desvios em outras diretorias sob responsabilidade de outros diretores”, disse o procurador. “Não posso dizer que não vá surgir porque eu me surpreendo a cada dia com o nível de prova que conseguimos, mas acho que o núcleo básico, que chamamos de camarilha dos quatro, já está bem delineado”, afirmou.

Apesar de dar por encerradas as investigações nas diretorias da Petrobras, Lima disse que outros crimes ainda podem ser investigados na estatal. “Temos outros crimes acontecendo que não foram perfeitamente investigados.”

Movimentações

A 15.ª fase foi intitulada Conexão Mônaco, em referência a operações financeiras de Zelada no principado de Mônaco. Segundo o procurador do MPF Carlos Fernando Lima, Zelada realizou diversas transferências no exterior em maio e dezembro de 2014. O ex-diretor mantinha 11 milhões de euros em uma conta em Mônaco e US$ 1 milhão em outra na China. “Quanto a esses valores, não temos dúvidas que são originários de corrupção”, disse Lima. “Isso é um dos motivos pelos quais foi expedido a prisão, porque não só indica a continuidade do crime de lavagem de dinheiro como uma tentativa de proteção desses valores para [evitar] que a Justiça alcance”.

De acordo com o despacho que determinou a prisão preventiva de Zelada, há indícios de recebimento de propina no período em que ele foi gerente da área de Serviços da estatal e também no período em que sucedeu o Nestor Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobras, entre 2008 e 2012.

O juiz federal Sergio Moro apontou ainda como motivos para a prisão uma série de irregularidades encontradas na contratação do aluguel de dois navios sonda pela Petrobras em 2008 e 2009. Entre as irregularidades, Moro cita superfaturamento; necessidade de contratação baseada em premissas otimistas, sem o embasamento em dados geológicos ou negócios firmes; falta de pesquisa no mercado de negócios com melhores condições para a Petrobras; assinatura dos contratos antes da autorização da Diretoria Executiva; taxa de bônus de performance de 17% em favor da contratada, superior à praxe de mercado de 10%; e extensão do prazo para a apresentação de um dos navios-sonda, com um ano de atraso, com aditivo sem aplicação de qualquer penalidade.

A prisão de Zelada foi decidida com base nas contas secretas que ele mantém no exterior e com base na delação premiada do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que relatou o recebimento de propina pelo ex-diretor internacional. Relatórios internos da Petrobras também indicam irregularidades na gestão de Zelada.

Prisão

Zelada foi preso no Rio de Janeiro e chegou à Superintendência da PF em Curitibana tarde desta quinta-feira (2). Logo depois, fez exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) da capital paranaense.

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