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Adriano Massuda, ex-secretário municipal de saúde. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Adriano Massuda, ex-secretário municipal de saúde.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Na terça-feira (28), Adriano Massuda deixou o cargo de secretário da Saúde de Curitiba para assumir a secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, em Brasília. A troca de postos foi confirmada após reunião entre o secretário, o prefeito Gustavo Fruet e o ministro da saúde, Arthur Chioro. As circunstâncias foram estranhas: o nome de Massuda foi publicado em diário oficial enquanto o prefeito estava em viagem oficial, no Vaticano – o que gerou muita especulação.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Massuda disse que tudo não passou de um mal entendido, e que só bateu o martelo depois de muita insistência de Chioro e após aprovação de Fruet. Ele também comentou seu período na gestão da pasta. Na quinta-feira (30), a prefeitura anunciou que seu substituto será César Titton, que fazia parte de sua equipe de gestão na secretaria.

Sua saída da secretaria foi um pouco estranha. O senhor foi nomeado para o Ministério da Saúde antes de sair da prefeitura...

Antes de eu aceitar o convite inclusive... [risos]

Por que isso aconteceu?

Eu havia sido convidado para esse cargo há cerca de um mês e meio. Fiquei muito honrado com o convite, é um cargo importante, estratégico. Mas fiz um cálculo envolvendo minha vida pessoal e ficaria difícil para eu ir [para Brasília]. Então, em um primeiro momento, não aceitei. Na quarta-feira (15 de julho) o ministro me chamou para Brasília para insistir, e se colocou a disposição para ir à Curitiba conversar com o prefeito [ele havia saído em viagem oficial na sexta-feira]. Eu não tinha aceitado, mas o ministro encaminhou meu nome para a Casa Civil a título de consulta. Não sei se você sabe como funciona, mas [quando você é nomeado para algum cargo do governo federal] o seu nome passa por vários tipos de consulta. Isso geralmente leva de um a três meses. Meu nome foi encaminhado na sexta-feira (17) e foi publicado na segunda (20). Era para consultar e saiu a publicação. Foi uma coisa absolutamente excepcional.

Muito se especulou que sua saída teria algo a ver com a saída do PT da gestão Fruet. Há relação?

Não tem nada disso. O fato de um ministro vir para Curitiba solicitar ao prefeito a liberação de um secretário é coisa inédita. Acho que demonstra o quanto o ministro gostaria de que eu compusesse o quadro do ministério, e isso é um reconhecimento do trabalho de toda a equipe da secretaria. Na conversa com o prefeito, o ministro [Chioro] disse que o sistema de Curitiba hoje é “padrão ouro”, pela história, pela tradição, mas muito pelo que foi feito nesses dois anos e meio de gestão. A ida para lá é de uma dimensão técnica. E eu não vim para cá por causa do PT. Eu sou um quadro técnico. Eu sou professor universitário, tenho mestrado e doutorado em saúde coletiva, sou formado em gestão. Minha filiação ao PT é recente, tanto que o povo achava que eu era do PCdoB. O quadro da secretaria é técnico, filiação partidária nunca foi critério para nomeação.

Qual deve ser sua relação com a gestão daqui para frente?

Eu vou continuar, no ministério, sendo um representante de Curitiba. Eu chamei a equipe aqui e não me despedi, estou mudando de posição, mas a gente continua junto. Nosso projeto tem mais um ano e meio, e vamos lutar para que tenha mais quatro.

Então o senhor pretende apoiar o prefeito na sua campanha de reeleição.

Estamos junto com o Gustavo, nossa equipe está junto com o Gustavo. Nesse tempo de nebulosidade na política, o Gustavo é um farol. É um quadro competente, que ama essa cidade. Nessa experiência que tive com ele, aprendi muito e reconheço o caráter que ele tem e a maneira que ele conduz [a administração]. Ele tem um lado humano que às vezes você perde na vida política, é uma coisa muito simbólica.

O senhor ressaltou a qualidade do trabalho da secretaria, na sua visão. Mas pesquisas de opinião colocam a saúde no topo das reclamações da população – desde antes da eleição. Por que essa discrepância de visões?

Há diferentes parâmetros que a gente usa para avaliar nosso resultado. Claro que pesquisa de opinião é um deles, mas elas podem distorcer um pouco a realidade. Um indicador muito rico [para avaliar a recepção da população] é o resultado mensal de nossas ouvidorias. Esse é um parâmetro importante, porque avalia a recepção de quem usa o serviço de fato. A gente nota uma tendência de diminuição nas reclamações, desde 2012. Esse parâmetro de satisfação do usuário é importante. Temos pesquisa de satisfação do usuário, na qual a gente liga para o cidadão depois da consulta, e também estamos melhorando.

Em relação aos indicadores, como está a prefeitura hoje?

Nos indicadores de saúde, a gente tem resultados muito expressivos. Tivemos uma redução, por exemplo, de 20% na mortalidade infantil, e isso é muito simbólico. A mortalidade é um bom parâmetro para avaliar o desempenho de um sistema de saúde, porque depende desde o pré-natal até o atendimento à criança. A gente chegou na marca de 7,7, a primeira vez abaixo de 8. Na saúde mental os indicadores também têm melhorado muito.

Houve, durante a gestão, muitas reclamações referentes a falta de pagamentos a hospitais. O que aconteceu?

Esse é um problema de subfinanciamento global, que afeta os pagamentos [da prefeitura] de maneira geral. Houve atrasos, mas a gente pagou muitas dívidas deixadas pela gestão anterior. Se você for comparar, houve um crescimento considerável nos pagamentos desde o início da gestão.

Qual será o maior desafio do próximo secretário?

O maior desafio é a questão do financiamento da saúde. A gente é cobrado pelo Tribunal de Contas para não gastar mais o que tem e pelo Ministério Público para fazer mais do que estamos fazendo. Você fica nessa pressão. O município atende também uma demanda não programada da região metropolitana. Pela primeira vez na história, a gente passou dos 20% de gasto com saúde [em relação à Receita Líquida]. Mas só o município bancando, não aguenta. O estado e o governo federal precisariam gastar mais.

Ao longo da última década, a participação dos municípios no financiamento da saúde cresceu, e a da União diminuiu – o que rende muitas críticas ao governo federal. Hoje, você está indo de uma ponta para a outra. Como o senhor enxerga essa questão?

Eu sou militante do SUS. Qualquer lugar que esteja, eu defendo o aumento do financiamento da saúde. Mas se a saúde precisa de mais dinheiro, precisa de mais receita. O Brasil perdeu muito, do ponto de vista do financiamento da saúde pública, com o fim da CPMF. É preciso, também, uma maior contribuição dos estados. É uma questão bastante complexa, que precisa ser equacionada para que o SUS possa continuar se desenvolvendo. Com o que a gente tem hoje de recurso, está difícil até manter o que já existe.

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