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Protesto de servidores no Riode Janeiro: salários estão atrasados ou são pagos de forma parcelada. | Fernando Frazão/Agencia Brasil/Fotos Públicas
Protesto de servidores no Riode Janeiro: salários estão atrasados ou são pagos de forma parcelada.| Foto: Fernando Frazão/Agencia Brasil/Fotos Públicas

As contas chegam em dia. Já o salário, desde outubro, está parcelado e atrasado. Diante desse quadro, que começou a se desenhar com as sucessivas mudanças no calendário de pagamento ao longo do ano passado, alguns servidores do estado do Rio de Janeiro, principalmente os aposentados, resolveram lançar mão de bicos para amenizar o drama financeiro que estão vivendo. São pessoas que cozinham, vendem produtos e consertam roupas e objetos para terem algum dinheiro na conta, devido ao agravamento da crise do estado.

Aposentada pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio (Proderj), Moema do Carmo, 54 anos, decidiu apostar no antigo sonho de trabalhar com confeitaria quando os problemas de parcelamento dos salários ainda se desenhavam, no início do ano passado. Hoje, ela prepara doces e chocolates decorados e já chegou a ganhar R$ 2 mil por mês com o serviço, o que ameniza a sensação de receber o salário “pingado”. Ela lamenta que, sem o 13.º e sem saber exatamente quando terá direito ao benefício, não consegue investir na nova carreira. Com o dinheiro contado, economiza até o material usado para os doces: “A renda dos doces sempre me ajuda. Semana passada demorou muito para cair [o salário]. Parece pouco, mas com o que eu vendo eu pago minha luz, compro comida. É difícil não ficar no vermelho, mas eu tenho administrado”, diz.

Frequentadora de manifestações de servidores, ela diz que só não vende os produtos no local porque chocolate derrete no calor das ruas. Com o que aprendeu pela internet e com amigas doceiras, Moema pensa em organizar oficinas de confeitaria para outros aposentados do estado. E, quem sabe, ajudá-los a ganhar um dinheiro extra. “O que estão fazendo com os servidores é errado. Tem gente morrendo de depressão”, afirma.

“As contas não esperam”

O aluguel da auxiliar de enfermagem aposentada Mariá Casa Nova, 66 anos, está atrasado há dois meses. No fim do ano passado, quando passou a recorrer a doações de cestas básicas para ter o que comer, ela decidiu fazer rifas de lençóis para pagar as contas e comprar os 11 remédios que usa diariamente. Hipertensa e cardíaca – tem três pontes de safena –, ela ainda ajuda a mãe, de 90 anos, que mora com ela e o marido em um apartamento em Niterói.

“O pagamento atrasa, mas as contas não esperam. Cada um tem uma ideia. Um vai fazer salgadinhos, o outro lava roupa. Com 66 anos, não tenho mais condições de cuidar de idosos. Já tenho a minha idosa para tomar conta”, afirma Mariá, que só sai de casa se alguém cuidar da mãe.

Ao todo, ela já vendeu três lençóis, arrecadando de R$ 150 a R$ 200 por rifa. O valor não paga nem a sua conta de luz, de aproximadamente R$ 300. Quem costuma comprar são os próprios servidores, compadecidos da situação da aposentada, que recebe pouco mais de R$ 1 mil por mês do estado. Foram eles também que, em meio às manifestações na porta da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), no fim do ano passado, se quotizaram para pagar o aluguel de novembro de Mariá.

“Eu vendia [as rifas] para servidores, repórteres, diretores de sindicatos. Estou vendo o momento de eu passar um chapéu para pedir dinheiro”, diz Mariá, antes de cair no choro. “Isso não é vida. Estou aposentada, mas vivendo de forma indigna. Tem pessoas morrendo. Eu, que nunca dependi de tomar antidepressivos, agora estou tomando.”

A aposentada conta que está com vergonha de passar nos corredores do prédio onde mora, devido ao atraso do aluguel e do condomínio. A próxima rifa já está pronta. No papel, ela avisa: “É por grande necessidade que estou rifando meu último conjunto de lençol”.

Já o policial militar aposentado Carlos Antônio Oliveira de Aquino, 53 anos, diz que complementa a renda mensal paga pela corporação – com atraso, mas sem parcelamento – vendendo frutas em Araruama, onde mora com a família. No ano passado, ele conta que ficou sem dinheiro para almoçar e tentou comer no rancho do Quartel Central da PM, mas não conseguiu. “Os meus filhos de 11 anos estão trabalhando na roça para me ajudar. Costumo pegar jacas em terrenos perto de casa para revender. Eu vendo mesmo. É melhor do que passar fome”, garante.

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