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Após a aprovação, no Senado, das medidas que endurecem a concessão do seguro-desemprego e do abono salarial, o senador Paulo Paim, petista histórico do Rio Grande do Sul, afirmou à reportagem que pode deixar o partido. Conhecido politicamente como “defensor dos aposentados”, ele diz que a presidente da República, Dilma Rousseff, faz o contrário do que disse “dia e noite na campanha”. Ontem, após votar contra a orientação do governo, ele já havia dito que poderia tirar uma licença em decorrência da discordância com o Planalto. Paim se diz constrangido com a atuação do governo e qualifica a articulação política com o Congresso como “péssima”.

Como ficou a relação do senhor com o governo Dilma após a votação das medidas do ajuste no Senado?

Há um certo constrangimento. Eu mesmo já havia dito ontem que vou ao Supremo contra a medida do abono salarial. Reafirmei e repito que o governo está indo no rumo errado. É uma situação constrangedora para nós que escrevemos e participamos da constituinte. Ninguém nunca foi contra o abono. E, agora, é nosso governo que atua contra ele. Nosso governo tirar o abono é o fim do mundo.

O senhor já disse que pode tirar licença do mandato. Também pensa em deixar o PT?

Minha situação está ficando muito difícil. Vou esperar para ver como será a votação do fator previdenciário. Já é a terceira vez que o Congresso se posiciona sobre o tema, e eu sempre fui um defensor do fim (do fator previdenciário).

Então há realmente essa possibilidade de o senhor deixar o partido?

Uns falam em licença, outros falam em mudar logo (de partido). É melhor dar tempo ao tempo. Eu fui cobrado por todos os partidos. Muitos falaram comigo sobre o que está acontecendo. Há o pessoal da Rede que conversou comigo. Várias pessoas.

Qual é a avaliação do senhor sobre o atual governo?

Eu digo que há uma decepção minha. Eu fiz campanha para a presidente Dilma Rousseff. Nós, assim como grande parte da população, o que nós vimos logo depois da posse não foi nada do que ouvimos dia e noite durante a campanha.

O senhor concorda com o argumento da posição segundo o qual houve um “estelionato eleitoral”?

Não vou usar essa fala porque não estou no campo da oposição. Sou governo, mas respeito muito o papel da oposição. No mínimo, nós ficamos muito constrangidos com o que aconteceu com o nosso partido.

Quais partidos já conversaram com o senhor?

Todos.

Todos?

Sim, todos. Alguns, por exemplo: PSol, Rede, PCdoB, PDT e outros.

Como seria essa licença, caso decidisse ficar no PT?

Eu não consigo ter um discurso quando sou governo e quando estou na oposição. se eu tiver que sair, vou sair. Se for a licença, não participaria mais das reuniões da bancada. Seria uma licença política.

Como o senhor avalia a articulação do governo com Congresso?

Muito ruim, para não dizer péssimo. Por exemplo: esses duas MPs, nem os ministros do governo sabiam dela. Como você baixa sem saber, sem discutir? A terceirização, que é a esculhambação total do trabalhador, não teve articulação. Essas MPs, nós só ficamos sabendo da existência dela pela primeira vez pela imprensa. O momento é muito difícil. Há uma forçação de barra. Ontem, se não fosse o Michel Temer, que falava com cada senador, as MPs tinham caído. Foi uma pressão que eu nunca vi antes.

O que acontecerá a partir de agora com o ajuste?

Se ela vetar (a mudança no fator previdenciário), nós vamos acampar aqui (no Senado) dia e noite.

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