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Renan (ao fundo) observa Eduardo Cunha: o senador chegou a ensaiar uma reaproximação do  deputado, desafeto de Dilma. | Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas
Renan (ao fundo) observa Eduardo Cunha: o senador chegou a ensaiar uma reaproximação do deputado, desafeto de Dilma.| Foto: Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas

Considerado hoje uma espécie de contrapeso positivo para o Planalto dentro da “guerra do impeachment” deflagrada na Câmara dos Deputados, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não é um aliado histórico do PT, nem da presidente Dilma Rousseff. Há cerca de um ano, o próprio parlamentar alagoano não escondia problemas na relação do PMDB com o Planalto. Em fevereiro de 2015, chegou a encabeçar as queixas sobre a participação da sua legenda na coalizão, poucos dias após ter sido eleito presidente do Senado com o apoio do PT e do Planalto.

Na mesma época, na esteira do descontentamento geral do maior partido da base aliada, Renan ensaiava até uma reaproximação com um desafeto, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Em comum, as críticas ao governo petista. No mês seguinte, em março, Renan e Cunha se tornaram alvos da Operação Lava Jato. Aos poucos, a dupla novamente se distanciou.

Em meados do ano, menos bélico em relação ao Planalto, Renan lançava uma “Agenda Brasil”, um conjunto de propostas para melhorar os números da economia. “Um jogo de espuma”, classificou Cunha, na época, sobre o anúncio do colega de partido.

No segundo semestre do ano, a insatisfação do PMDB ganhou corpo e a bancada do partido na Câmara dos Deputados rachou ao meio, viabilizando a deflagração de um processo de impeachment contra a presidente Dilma, anunciado por Cunha no início de dezembro – horas depois de a bancada do PT decidir apoiar a abertura de um processo contra ele no Conselho de Ética da Casa.

Desde então, o Planalto tem se apoiado em Renan para manter os senadores do PMDB na base aliada e frear o processo de impeachment.

Ainda em dezembro, o Planalto comemorou o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os ritos do impeachment no Congresso Nacional: para a Corte, o Senado não é obrigado a instalar de forma “automática” o processo de impeachment, a partir de uma eventual deliberação favorável da Câmara dos Deputados.

A tese da independência entre as duas Casas legislativas também era defendida por Renan.

“Aliança de ocasião”

A Operação Lava Jato teria influenciado na formação da “aliança de ocasião” entre Renan e o Planalto, conforme classifica o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer. “O Renan tem cada vez mais investigações nas costas e se agarrou a Dilma para tentar se salvar. Acredito que o procurador-geral da República [Rodrigo Janot] esteja agindo com independência, mas a postura do Renan mudou a partir das investigações. Antigamente, ele era mais anti-Dilma”, comenta.

Para o cientista político, há pelo menos outros dois fatores no jogo político de Renan, além do temor das investigações. A “ideia de poder” defendida por parte do PMDB teria outro peso para Renan. Sem nomes internos para lançar nas eleições de 2018, o PMDB nacional capitaneado pelo vice-presidente da República Michel Temer teria visto no impeachment uma possibilidade de colocar o partido no comando do País. Renan, contudo, não teria o mesmo foco: “Para ele, continuar presidente do Congresso Nacional já é um ganho pessoal”.

Outro fator para Renan defender a permanência de Dilma, avalia o cientista político da UnB, estaria no campo do “toma lá, dá cá”. “Ao manter a presidente desta forma, enfraquecida, é mais fácil para o PMDB obter benesses, nomeações, fatias do orçamento, essas coisas”, afirma ele.

Paralelamente aos três fatores, Fleischer lembra ainda que o próprio desentendimento constante entre os três caciques do PMDB – Renan, Cunha e Temer – também influencia na “aliança de ocasião” do presidente do Senado com o Planalto. Com Cunha e Temer na defesa do impeachment, Renan seguiria naturalmente para o lado oposto. “Mas a aliança de ocasião é um risco. A qualquer momento, o Renan pode adotar outra postura”, acredita ele.

NA MIRA DA PGR

Com aval do Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria Geral da República (PGR) confirmou em março do ano passado a abertura de investigação contra uma lista de políticos, incluindo dois caciques do PMDB, Renan e Cunha. De lá para cá, Cunha já se tornou alvo de uma denúncia – em agosto – e continua sendo investigado em outros casos. Em breve, o STF deve decidir se acolhe ou não a denúncia da PGR. Renan já está na mira de seis inquéritos abertos pela PGR, mas ainda não foi denunciado ao STF no âmbito da Lava Jato. Em contrapartida, o presidente do Senado poderá virar réu em breve, em função de um caso denunciado pela PGR em 2013, envolvendo a pensão da filha do peemedebista, supostamente paga pela empresa Mendes Júnior. O ministro do STF Luiz Fachin recentemente liberou o caso para análise da Corte e Renan pode responder por peculato, uso de documento falso e falsidade ideológica.

TOM CONCILIATÓRIO

No início do fevereiro, ao abrir oficialmente os trabalhos no Congresso Nacional após um recesso de quase 40 dias, Renan Calheiros adotou um discurso conciliatório. Em contraponto à animosidade de Cunha com o Planalto, declarou que a presença da presidente Dilma Rousseff na cerimônia era uma “demonstração de quem busca o diálogo e procura soluções” e defendeu a necessidade de “minimizar o debate pelas responsabilidades da crise”. “Não somos e não seremos habitantes da fracassolândia. Os novos tempos pedem, exigem, que esqueçamos projetos pessoais e nos unamos em torno de um Brasil melhor, aquele que todos os brasileiros merecem”, discursou ele.

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