• Carregando...
“O inquérito foi feito o mais rápido possível, dentro do que dispúnhamos para trabalhar. Valeu a pena esperar os laudos da perícia.”Armando Braga de Moraes, delegado responsável pelas investigações, que demoraram três meses | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
“O inquérito foi feito o mais rápido possível, dentro do que dispúnhamos para trabalhar. Valeu a pena esperar os laudos da perícia.”Armando Braga de Moraes, delegado responsável pelas investigações, que demoraram três meses| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Entenda o caso

Relembre os principais acontecimento do caso Carli Filho:

7 de maio – O então deputado es­­­tadual Fernando Ribas Carli Filho, de 26 anos, protagoniza um acidente de trânsito que causa a morte de Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20. Com fratu­­­ras no rosto, Carli é internado na UTI do Hospital Evangélico, em Curitiba.

9 de maio – A família Yared denuncia uma série de falhas na investigação do acidente. Embora o relatório preenchido pelos socorristas do Siate informasse que o deputado estava com "hálito etílico", não foi solicitado ao hospital nenhum exame para medir a quantidade de álcool no sangue do parlamentar.

10 de maio – Carli é transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

12 de maio – Reportagem da Gazeta do Povo mostra que Carli estava com a carteira de habilitação suspensa e não poderia dirigir desde julho do ano passado.

13 de maio – A família Yared protocola na Assembleia um pedido de cassação do mandato de Carli por quebra de decoro parlamentar. O delegado Armando Braga decide solicitar ao Hospital Evangélico uma amostra do sangue do deputado para a realização de exame de dosagem alcoólica.

19 de maio – O exame de dosagem alcoólica comprova que o parlamen­­tar estava embriagado no momento da colisão.

29 de maio – Carli renuncia ao man­­­­dato de deputado estadual. É a primeira renúncia da história da Assembleia.

6 de junho – Carli recebe alta do Hospital Albert Einstein.

22 de junho – A reconstituição do acidente conclui que o carro de Carli decolou pelo menos dez metros antes da batida.

24 de junho – O prefeito de Guarapuava e pai do ex-deputado, Luiz Fernando Ribas Carli, diz que a carreira política do filho não acabou.

6 de julho – Em entrevista à Gazeta do Povo, Carli revela que necessita de tempo para se encontrar, que sofre com traumas do acidente e que ainda não sabe se vai voltar à política.

11 de agosto – O inquérito é concluído e Carli é indiciado.

A Delegacia de Delitos de Trân­­­sito terminou ontem o inquérito do acidente que envolveu o ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho e deixou dois jovens mortos em Curitiba. O delegado Armando Braga de Moraes, que comandou as investigações, concluiu que o ex-deputado, que estava embriagado e com a carteira de motorista suspensa, foi o responsável pela colisão. Carli Filho foi indiciado por duplo homicídio com dolo eventual – quando a pessoa não tem intenção de matar, mas assume o risco de tirar a vida de outras pessoas em virtude de suas ações.

Amanhã, o inquérito será encaminhado ao Ministério Público (MP), que poderá denunciar ou não Carli Filho à Justiça. Se o juiz da 2.ª Vara de Delitos de Trânsito acatar uma eventual denúncia do MP, o ex-deputado será julgado por um júri popular. A pena para o crime pelo qual Carli Filho foi indiciado varia de 6 a 26 anos de prisão.

Alta velocidade

Segundo os laudos do Instituto de Criminalística anexados ao inquérito policial, o ex-parlamentar dirigia a 167 quilômetros por hora no momento da batida (com uma variação possível entre 161 e 173 quilômetros por hora).

Ontem, o delegado afirmou que, desde o início das investigações, iniciadas há três meses, descartou a possibilidade de o ex-parlamentar estar a 190 quilômetros por hora, como afirmava a família Yared, de uma das vítimas. "Os socorristas do Siate viram o velocímetro travado em zero. Eu mesmo estive no pátio do Detran e chequei essa informação", revelou. "A Crimi­­­na­­lística concluiu que, se o carro estivesse a essa velocidade, teria passado por cima do Honda Fit (veículo das vítimas) e, nesse caso, os dois jovens não teriam morrido."

Os laudos do inquérito ainda revelam que, naquela velocidade, Carli Filho precisaria de pelo menos 230 metros para frear seu carro e evitar a batida. O Instituto de Crimalística também comprovou que o ex-parlamentar "decolou" pelo menos dez metros antes da colisão e atingiu o outro veículo a cerca de um metro do chão.

Braga afirmou que a velocidade do carro do ex-deputado, um Passat alemão, não foi o único fator que pesou na decisão final do inquérito. Segundo ele, já estava comprovado que Carli dirigia embriagado no momento do acidente, com 7,8 decigramas de álcool no sangue – taxas acima de seis decigramas são consideradas crime.

Além disso, o ex-parlamentar teve a habilitação suspensa depois de acumular 130 pontos na carteira, fruto de 30 multas de trânsito nos últimos seis anos. Ele não poderia dirigir desde julho de 2008. "O ex-deputado sabia que não podia conduzir um veículo por estar com a carteira suspensa e assumiu o risco de causar um acidente quando bebeu e dirigiu àquela velocidade", declarou o delegado. "Por isso o indiciamento por dolo eventual."

33 testemunhas

Para concluir o inquérito, com 668 páginas, o delegado ouviu 33 testemunhas, além de Carli Filho. Apesar disso, a polícia não conseguiu definir o trajeto feito pelo ex-deputado entre o restaurante no qual ele bebeu com amigos poucas horas antes do acidente, no bairro Bigor­­­rilho, e o local da colisão, no Mos­­­sunguê. "Mas isso não interferiu no an­­­damento do inquérito", ponderou Braga.

O delegado revelou ainda que recebeu os últimos laudos do Instituto de Criminalística na noite da última sexta-feira, dia em que o acidente completou três meses, e rebateu críticas de que houve lentidão na conclusão das investigações – o prazo para o término do inquérito foi prorrogado duas vezes. "O in­­­quérito foi feito o mais rápido possível, dentro do que dispúnhamos para trabalhar. Valeu a pena esperar os laudos da perícia", argumentou.

Apesar de ter indiciado Carli, o delegado alegou que não existem elementos que justifiquem um pedido de prisão preventiva do ex-deputado. Segundo ele, o ex-parlamentar não oferece perigo à ordem pública nem há relatos de que ele estaria intimidando testemunhas.

Assista abaixo à simulação produzida pela Polícia Científica que mostra como foi o acidente envolvendo o deputado Carli Filho. Clique em "play" e aguarde o carregamento do vídeo

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]