• Carregando...
Deputado Ronaldo Fonseca lê o seu parecer na CCJ | Gilmar Felix /Câmara dos Deputados
Deputado Ronaldo Fonseca lê o seu parecer na CCJ| Foto: Gilmar Felix /Câmara dos Deputados

Das 16 irregularidades indicadas pela defesa do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para anular a aprovação do parecer pela sua cassação no Conselho de Ética, apenas uma foi acolhida pelo relator Ronaldo Fonseca (PROS-DF), nesta quarta-feira (6). Fonseca defendeu a retomada da votação no colegiado, que ocorreu no último dia 14 junho. Na avaliação do relator, a votação nominal deveria ter sido realizada pelo painel eletrônico.

“Só seria possível adotar o sistema de votação nominal por chamada dos deputados caso o painel eletrônico disponível na sala de sessões do Conselho de Ética não estivesse funcionando. Segundo é de conhecimento de todos, não havia, na ocasião, qualquer problema com o painel, tanto que esta não foi a razão invocada para se utilizar a chamada”, avaliou o relator em seu voto.

Rito para a sessão de votação do relatório

O presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), marcou a votação do relatório de Ronaldo Fonseca (PROS-DF) para o próximo dia 12.

Para a defesa, o peemedebista disporá do mesmo tempo que o relator usou para a leitura do relatório exposto nesta quarta na comissão. Em seguida, é aberta a fase de discussão da matéria. Segue-se uma nova rodada do relator e da defesa, dessa vez, mais breve, de 20 minutos cada. Além disso, ainda há as apresentações dos votos em separado.

Adversários de Cunha calculam que ele não tem votos no colegiado para fazer seu processo retroceder. O recurso apresentado por ele, analisado por Fonseca, questiona 16 pontos da tramitação de seu processo no Conselho de Ética.

Apesar da tendência de derrota, o grupo de Cunha não se dá por vencido. As articulações se mantém a todo vapor. No último mês, integrantes da CCJ de partidos aliados a Cunha - PR, PTN, SD - foram trocados para favorecer o peemedebista e aumentar o número de votos pró-cunhistas no colegiado.

Fonseca afirmou que houve nulidade ainda mais “gritante” no processo de votação devido a uma interferência indevida do presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA). “Mesmo que se admitisse a votação por chamada de deputado (...) não caberia ao presidente do Conselho escolher, ao seu talante, a ordem em que se daria a chamada, como fez no caso, em que definiu que a ordem seria por bloco e por ordem alfabética no bloco.”

Para o parlamentar, o regimento da Casa é claro ao determinar que a ordem da votação nominal por chamada deveria ocorrer do Norte para o Sul, o que não ocorreu. Segundo ele, a ordem escolhida “arbitrariamente” por Araújo “não encontra previsão em nenhum dispositivo regimental”. “A questão da metodologia de votação adotada pelo Conselho de Ética - chamada nominal por bloco e por ordem alfabética - é ilegal”, declarou.

A ordem da votação foi determinada por Araújo após uma proposta do deputado Zé Geraldo (PT-PA). Em seu voto, Fonseca diz que o presidente deveria ter rejeitado o requerimento do parlamentar, por não possuir embasamento no regimento interno. Ele alega ainda que a solicitação foi aprovada de maneira “açodada” e que não houve tempo suficiente para os membros do colegiado pudessem discutir o seu teor.

Na análise de Fonseca, a forma como a votação foi feita mudou a posição de Wladimir Costa (SD-BA), antigo aliado de Cunha que acabou votando contra ele. “O fato de a votação ter sido realizada por chamada de deputados prejudicou o recorrente, porque permitiu o ‘efeito manada’. Tomando-se os votos um a um, ao invés de colhê-los todos ao mesmo tempo (como é a regra), acabou-se por, aparentemente, influenciar ao menos um voto.”

De acordo com ele, a mudança de posicionamento de Costa no dia da votação pode comprovar o “efeito cascata”. “Percebe-se que o nobre deputado externou, de forma clara, o seu posicionamento acerca do caso (contra o parecer). Momentos mais tarde, porém, ao ser chamado a proferir seu voto, logo após o voto favorável da nobre deputada Tia Eron, manifestou-se a favor do parecer, em total contradição com o que havia assentado.”

Em seu recurso, Cunha alegou que a aprovação de requerimento de votação nominal por chamada de deputados para a votação do parecer do relator Marcos Rogério (DEM-GO) deveria ser nula, porque a utilização do painel eletrônico visa a proteção contra o “efeito manada”. “O efeito manada maculou o resultado e viciou o processo decisório, ... daí porque, exsurge nulidade insanável”, disse a defesa de Cunha.

Fonseca defendeu, por fim, que seja realizada uma nova votação no Conselho de Ética. “Neste particular, portanto, o Recurso deve ser acolhido para que se anule a votação do Parecer realizada no dia 14/06/2016, devendo outra ser realizada, com estrita observância às normas regimentais”, declarou. Caso o parecer de Fonseca seja aprovado, caberá ao Conselho de Ética marcar uma nova votação.

Para contrapor a opinião de Fonseca, havia pelo menos dois votos em separado protocolados na CCJ até o início da sessão desta quarta. Um do relator do caso no Conselho de Ética, Marcos Rogério. Outro, assinado em conjunto pelos líderes do PSol Ivan Valente (SP) e Chico Alencar (RJ).

Um dos pontos mais polêmicos indicados por Cunha dizia respeito justamente ao relator do Conselho de Ética, alegando que ele não poderia exercer a função por ter mudado de partido durante o processo - o DEM faz parte do mesmo bloco do PMDB, partido de Cunha. Fonseca, contudo, rejeitou o recurso. “Consideramos que a escolha de parlamentar do mesmo Bloco Parlamentar do Recorrente não lhe acarreta prejuízo”, avaliou.

Cunha só comparecerá à CCJ na semana que vem

O presidente afastado por decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 5 de maio deste ano poderia comparecer esta manhã na sessão. Chegou a informar à corte que o faria. Usou, contudo, o Twitter para destacar que só aparecerá na Câmara na próxima semana, quando o parecer de Fonseca será votado.

“Decidi não comparecer por enquanto já que será feita a leitura e terá pedido de vistas regimental de duas sessões”, escreveu em seu rede social.

O presidente foi aconselhado por aliados e não comparecer hoje para evitar mais desgaste. Além disso, faz parte da estratégia dele usar a palavra só na próxima semana. Serraglio marcou a sessão de votação para terça (12).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]