A duas semanas da largada da colheita de grãos, os produtores rurais de São Paulo preveem que a safra de produtividades recordes do ano passado não se repetirá em 2012. Apesar de o plantio ter ocorrido mais tarde no ciclo atual meados de outubro , faltou água para a maior parte das lavouras do estado, constatou a Expedição Safra Gazeta do Povo.
Uma estiagem concentrada entre o final de janeiro e o início deste mês tende a reduzir em cerca de 15% os rendimentos da soja, afirmam produtores e representantes da região de Cândido Mota (Sudoeste do estado). Com previsão de colher 58 sacas por hectare, Oscar Knuppel espera retirar do campo 10 sacas a menos do que no ano passado. "A chuva chegava sempre em cima da hora. Houve um período de até 20 dias de seca", relata.
O gerente da cooperativa Coopermota, Sandro José Amadeu, complementa que o comportamento do clima neste ano aumentou a incidência de pragas e doenças. "O nematóide, que até o ano passado quase não existia por aqui, está começando a aparecer", afirma ele. Pragas como o percevejo e a lagarta falsa-medideira é que estão pressionando os índices da região.
A alta nos preços das commodities e o aumento no volume de vendas antecipadas da safra, contudo, podem amenizar o quadro em São Paulo. Neste ano, os agricultores venderam cerca de um terço da produção antes da colheita, a preço em torno de R$ 50 por saca.
Além de comercializar metade da safra antecipadamente a R$ 49 R$ 4 por saca a mais do que em 2011 Knuppel busca proteção contra as oscilações do mercado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). "No frigir dos ovos consigo ganhar um pouco especulando", diz ele, que também adota manejo estratégico no campo: a rotação de culturas entre a cana-de-açúcar e a soja. "A cana é meu porto seguro", define. No inverno, ele pretende reduzir a área do cereal e aumentar o canavial.
A 250 quilômetros de Cândido Mota, as perspectivas para os grãos estão mais animadoras. No município de Itaberá (Sul paulista), o comportamento do clima não deve interferir na produtividade dos grãos, avalia Humberto Zommer, agrônomo que acompanha as lavouras da região.
Na fazenda em que trabalha, a Lagoa Bonita, a soja tende a alcançar o mesmo rendimento de 2010/11: 68 sacas por hectare (4 mil quilos/ha). "No milho já constatamos índice igual ao do ano passado, de 201 sacas por hectare, e 90% da área está colhida", revela.
A Lagoa Bonita é considerada um caso à parte no Sul de São Paulo, pela produtividade e por seu funcionamento. Sob o comando de três mulheres e um homem, a fazenda é dividida em dois grandes negócios, o de produção de grãos para a indústria e o de sementes. "Há dez anos, percebemos que a região era carente de pesquisa e desenvolvimento. Por isso, mudamos totalmente de ramo, agregando maior valor à produção", explica Andrea Fellet Orsi, agrônoma que administra o negócio ao lado do pai e duas irmãs. Comprada pela família entre 1997/98, a fazenda de 2 mil hectares era voltada à criação de gado. Hoje, só restaram algumas dezenas de cabeças, que pertencem a um dos funcionários da fazenda.



