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  • Manejo integrado de pragas terá de passar a ser regra.
  • Logística cara exige mais investimento em ferrovias para aliviar o Centro-Oeste.
  • CAR será marco para garantir produção sustentável ao Brasil.

São Paulo (SP) - Destinado à posição de maior exportador de comida do planeta, o Brasil faz uma avaliação crítica e abrangente de suas reais condições. A missão de alimentar o mundo exigirá muito mais do que aumento na produção de grãos e carnes. Ainda há muito a fazer diante de problemas que vão da proliferação de pragas nas lavouras ao desconhecimento dos mercados consumidores externos. E as principais tarefas exigem ação integrada: envolvem o campo, a indústria, o governo, o mercado e os investidores. Como se não bastasse, o setor produtivo chegou a uma constatação alarmante: o Brasil não tem um plano de mobilização coletiva e terá de “suar a camisa” para não decepcionar, numa época em que 180 mil pessoas entram no mercado de alimentos por dia. Essa foi a conclusão do Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado na última semana em São Paulo. Por outro lado, os mais diversos segmentos dizem saber o que deve ser feito. E argumentam que assumir a posição de maior exportador de alimentos fará muito bem para a economia brasileira, no médio e no longo prazo. Saiba os passos que tornarão o país um “celeiro do mundo”.Em 2024,o Brasil deve assumir a liderança global nas exportações de produtos agrícolas. A previsão é da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Atualmente, o posto é ocupado pelos Estados Unidos, que exportam mais soja e milho que o Brasil. O agronegócio brasileiro deve chegar à liderança assumindo também primeiro lugar nas vendas de carne bovina, posto atualmente ocupado pela Índia.

Mais grãos por metro quadrado

A meta do Brasil é passar de vez de 3 mil quilos de soja por hectare em 2015/16. Para passar de 200 milhões a 300 milhões de toneladas de grãos por safra em dez anos – conforme projeção do Ministério da Agricultura –, a agricultura brasileira terá de crescer mais em produtividade do que em área, avalia o coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues. A renda do produtor, sujeito aos preços de mercado tanto para insumos quanto para os produtos finais, é determinada pelo resultado das tecnologias que utiliza, considera. A lucratividade tem sido maior para quem investe mais na melhor adubação ou na melhor semente, aponta.

Lei ambiental na prática

Nesta terça-feira (11/08), a 266 dias do fim do prazo para fazer o CAR, perto de 40% das áreas ainda não foram cadastradas, conforme o Serviço Florestal Brasileiro. Com um Código Florestal amplamente discutido e diante da preocupação crescente com o aquecimento global, o Brasil precisa fazer valer sua nova lei ambiental para mostrar compromisso com a sustentabilidade. A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) acaba de encampar essa meta. Passou a estimular o Cadastro Ambiental Rural (CAR) em seu site (www.abag.com.br). Recém aberto, o Portal de Regularização oferece o CAR e também plataforma para compra e venda de Cotas de Reserva Ambiental, divulga o presidente da Abag, Luiz Carlos Carvalho.

Logística é um dos desafios para a expansão.

Ferrovias até os portos

Renato Pavan

CAR será marco para garantir produção sustentável ao Brasil.

Sustentabilidade

Maurício Antônio Lopes

Revolução tec

Uma revolução na concepção da agricultura deve ocorrer nos próximos anos. Trata-se da era da tecnologia da informação, que permite a gestão de “cada palmo” da propriedade com adoção de sementes e defensivos adequados ao perfil do solo metro por metro – e não mais por talhão –, descreve o presidente da Monsanto no Brasil, Rodrigo Santos. Essa revolução vai além dos avanços prometidos por novas sementes e defensivos ou pelo refinamento no manejo das culturas. Associada à automação e ao controle de máquinas com uso de GPS, a “agricultura de decisão” (em que as opções por quadro de lavoura se multiplicam) vai perseguir a eficiência, afirma.

Renda nas indústrias

A receita com a exportação de alimentos pode ser multiplicada se as matérias-primas forem processadas antes de atravessarem o Atlântico. A indústria alimentícia faturou R$ 530 bilhões em 2014 e teve saldo positivo de US$ 35 bilhões na balança comercial, mas esse superávit ainda é relativamente baixo, considera o presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Edmundo Klotz. O país está exportando 50 milhões de toneladas de soja em grão em 2015, que poderiam render que mais que os US$ 20 bilhões previstos se a commodity fosse processada (para embarque de farelo e óleo) ou transformada em carne.

Foco no consumo

O consumidor, ainda ignorado por boa parte das indústrias brasileiras de alimentos, está mudando significativamente seus hábitos com o uso de smartphones, alerta o consultor da PwC Sergio Alexandre Simões. E, se as fábricas de comida – que processam cerca de 60% da matéria-prima nacional – têm dificuldade para entender o cliente brasileiro, terão de se esforçar ainda mais no mercado internacional. O que têm orientado as projeções de exportação são basicamente previsões de volume de consumo. O comércio internacional de soja, por exemplo, deve passar de 112 milhões para 150 milhões de toneladas em dez anos, de acordo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA. O Brasil ampliaria participação de 50 para 67 (milhões de t). Nas carnes (bovinos, suínos e aves), o comércio passa de 25 para 29 e as vendas brasileiras de 6 para 10 (milhões de t).

Insumo nacional

A redução da dependência brasileira de insumos importados surge como estratégia para reduzir o custo dos alimentos. A regularidade da produção -- em volume e preço -- passa a influir cada vez mais na economia dos países importadores e no próprio combate à fome, conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). “Hoje o Brasil é o segundo exportador de alimentos [atrás dos Estados Unidos]. Pelas condições tropicais, nos próximos dez anos pode se tornar o primeiro, em volume e valor”, prevê o representante da FAO em território brasileiro, o agrônomo Alan Bojanic. O Brasil importa 75% das 32 milhões de toneladas de fertilizantes que utiliza e pode se distanciar ainda mais da autossuficiência enquanto não implantar o Plano Nacional de Fertilizantes, conforme a Embrapa.

Manejo será outro desafio a produção nacional.

Tecnologia duradoura

A eficiência de tecnologias como a das sementes Bt – em que a planta elimina insetos – está se perdendo rapidamente no campo. Tornou-se necessária a mobilização dos agricultores para cultivo de refúgio (com outras sementes) que alongam a “vida útil” de cada opção, afirma a diretora do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani. Além do custo e do tempo – uma semente transgênica de milho exige US$ 135 milhões e leva 15 anos para chegar ao mercado – as próprias alternativas são limitadas. Existem somente 10 proteínas Bt disponíveis (para combinações genéticas), aponta. “E o que vem por aí é algo muito semelhante com o que já temos no campo”, alerta. Em sua avaliação, o interesse na preservação dessas tecnologias põe produtor e indústria do mesmo lado.

 

Revisão das leis trabalhistas

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