O clima pode não ter ajudado, mas o principal vilão da agricultura brasileira nos últimos anos tem sido o câmbio. Numa relação desfavorável diante da moeda brasileira, o dólar ocasionou queda nos preços pagos ao produtor, prejudicou as exportações e estimulou a importação, em detrimento da produção interna. Em termos nominais, entre janeiro de 2003 e as taxas praticadas atualmente, o dólar teve uma queda de 39%.
O diretor da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos, usa os números do Banco Central para expor o drama vivido pelos agricultores. Ele mostra que, na safra 2003/04, a lavoura foi plantada a uma taxa cambial de R$ 2,93 e comercializada a R$ 2,99, num resultado positivo entre custo/receita. Na safra 2004/05, a relação se inverteu. No plantio o dólar era cotado a R$ 2,95 e na venda do produto a R$ 2,55. No último, ano os insumos foram adquiridos ao dólar de R$ 2,30 e a safra foi vendida ao de R$ 2,15.
Para a safra 2006/07, a expectativa é de estabalização do dólar, do plantio à colheita. Segundo as tendências apresentadas pelas consultorias de mercado, nesta safra deve haver uma acomodação do câmbio, em torno de R$ 2,15 / US$ 1,00, patamar que irá se manter até a comercialização.
Custeio
Descapitalizado, o produtor deve financiar, em média, de 80% a 90% do orçamento da lavoura. Historicamente, o custeio é feito com 1/3 de recursos próprios, 1/3 é contratado nos bancos e a outra terceira parte com tradings ou cooperativas. A diferença nesta safra é a contratação do custeio somente pela taxa de 8,75% (crédito rural). A modalidade do mix de recursos a juros livres não está sendo praticada.
Nelson Dalgalo, de Cascavel (Região Oeste), vai emprestar dinheiro para 80% do seu plantio de soja. Ele foi buscar custeio em agentes financeiros oficiais e na cooperativa. O produtor está satisfeito por ter conseguido o financiamento, mas reclama de uma condição imposta pelo banco, que estaria interferindo na sua opção de cultivo. Dalgalo tinha a intenção de plantar 100% de sua área de soja com variedades transgênicas. Mas o banco teria exigido, para liberar o dinheiro, que o produtor cultivasse parte da área com soja convencional.
A explicação: o orçamento para o plantio da semente tradicional é mais caro que o da lavoura geneticamente modificada. A conclusão: como precisa do dinheiro, Dalgado vai plantar 70% transgênico e 30% convencional.



