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André Nassar não vê prejuízos no longo prazo com revisão nos termos do PAP 2015/16. | Hugo Harada / Gazeta Do Povo
André Nassar não vê prejuízos no longo prazo com revisão nos termos do PAP 2015/16.| Foto: Hugo Harada / Gazeta Do Povo

O agrônomo André Nassar assumiu a secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)no final de março, em meio a um cenário de tensão. De um lado, a pressão do governo federal devido ao ajuste fiscal para sanar as contas públicas. Do outro, a cobrança da ministra Kátia Abreu para antecipar o Plano Agrícola e Pecuário (PAP). O anúncio do PAP trouxe juros 2,25 pontos porcentuais mais elevados em relação ao ano anterior, com orçamento geral 20% maior e corte nos investimentos. Na semana passada, Nassar veio a Curitiba explicar as razões das mudanças, e concedeu entrevista exclusiva para o Agronegócio Gazeta do Povo:

O Mapa chegou a anunciar condições para o pré-custeio da safra, mas não houve liberação. O que ocorreu?O pré-custeio nunca foi uma política do Ministério. Ele sempre foi uma movimentação dos bancos que tinham recursos disponíveis e antecipavam esse dinheiro para os produtores porque havia demanda. Os produtores queriam o pré-custeio para comprar insumos em momentos de melhor preço, por exemplo. Então se criou essa prática de mercado, que é muito boa, mas que você não consegue fazer em um momento de restrição de recursos, porque não há dinheiro. O máximo que foi possível fazer é pegar o dinheiro que havia disponível nesta safra e transformá-lo em um empréstimo de curto prazo para os produtores. Só que esse empréstimo de curto prazo não é aquele pré-custeio alongado, que o produtor financiava em março, abril e só pagava no final da outra safra. Esse dinheiro de agora é associado a comercialização, ou seja, o produtor tinha que vender a produção para pagar a conta. Esse modelo não contemplou todos os produtores porque nem todos queriam vender a produção agora, com preços baixos.

O PAP reduziu o direcionamento de recursos para investimentos. Foi uma escolha deliberada pelo curto prazo?Não se trata de uma escolha deliberada. A questão é que o dinheiro para o crédito com juros controlados tem uma origem. Avaliamos o montante disponível e verificamos que ele é menor do que no ano passado, por conta de uma menor arrecadação via poupança rural e depósitos à vista. Com base nisso avaliamos se era melhor manter o custeio e o investimento no mesmo patamar ou então aumentar o custeio e reduzir um pouco o investimento. Poderíamos ter mantido as mesmas condições do ano passado, pois a conta fechava, mas devido ao aumento nos custos médios de produção e na taxa média de juros do PAP, entendemos que o mais importante era garantir o fluxo de caixa dos produtores. Então decidimos aumentar o montante direcionado para o custeio.

A redução nos investimentos não é prejudicial no longo prazo? Não afeta negativamente programas como o de estímulo à construção de armazéns?Essas mudanças só afetam o longo prazo se o programa estagnar, parar de crescer. É muito cedo para falar sobre isso porque esse é o primeiro ano de mudanças, e elas estão sendo feitas em um ano de ajuste na economia. Não consigo ver o longo prazo afetado. Talvez no ano que vem seja possível ter uma noção melhor. Foi uma decisão tomada para esse momento, mas não quer dizer que a decisão valerá para todos os momentos.

A injeção extra de recurso via Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) vai ser alocada integralmente para o custeio?Não, ela também pode ser alocada para investimentos, mas dentro do prazo que a LCA permite, que são dois anos. Não são investimentos em ativo fixo, como armazéns, máquinas. Mas dá para se fazer investimentos como retenção e compra de matrizes, confinamento, ou seja, investimentos de curto prazo. A LCA tem essa flexibilidade.

Não ficou claro o orçamento para a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). Haverá corte no orçamento? No caso do milho se cogita fazer alguma intervenção?O mercado é que define quanto vamos precisar em recursos para a PGPM. Vai depender de que culturas vão ficar abaixo do preço mínimo. Se cair o preço de determinada cultura, operamos nela, se não cair, não operamos. Sobre o milho, eu acho que ainda é cedo para se falar. O governo já está se preparando, discutindo os possíveis cenários, mas ainda temos que esperar para ver se vai precisar intervir e de que maneira será feito. Ainda não temos uma resposta para isso.

Há risco de novos atrasos nos repasses do seguro rural? Como fica a situação do milho safrinha, que não foi contemplado no programa neste ano? (mais detalhes no texto ao lado)Não tem porque haver qualquer problema quanto aos R$ 368 milhões que estão orçados. Logo vamos liberar a programação de liberação de recursos, como já está feito para as culturas de inverno. Sobre o milho safrinha, o governo nunca anunciou que a cultura entraria no programa de subvenção do seguro. Nos últimos anos a safrinha acabava sendo contemplada por uma prática de mercado. Vendia-se o seguro e depois o governo decidia dar a subvenção. Mas isso ocorria depois, quando o seguro já estava vendido, e não antes, como foi o caso das culturas de inverno neste ano.

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