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Movido a diesel, maquinário agrícola é fundamental para o sucesso das lavouras. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Movido a diesel, maquinário agrícola é fundamental para o sucesso das lavouras.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

A agricultura só é o que é hoje graças à mecanização, que há décadas permitiu otimizar o trabalho nas lavouras e reduzir custos. Entretanto, o que sempre jogou à favor, ultimamente tem colocado produtores rurais contra a parede. O problema não é exatamente com o maquinário, mas com aquilo que o move: diesel.

Historicamente, o combustível pesou relativamente pouco no bolso do agricultor. Nos últimos doze meses, porém, ele teve, em média, um aumento de R$ 0,27 por litro no Paraná – o que representa 9,5%. Comparativamente, a inflação do Brasil em 2017 deve fechar em torno de 3%, segundo o Banco Central.

O principal fator no aumento do preço do diesel foi a alta na alíquota dos combustíveis, aplicada pelo governo federal. O PIS e Cofins cobrados sobre a venda do produto saltou de R$ 0,25 para R$ 0,46 por litro – aumento de 88%. Mas também pesa no reajuste o fato de que, desde o início de julho, a Petrobras mudou sua política de preços. Considerando-se apenas o segundo semestre, o aumento por litro passa de R$ 0,40 no estado.

Desde aquele mês, a Petrobras passou a permitir reajustes até mesmo diários (se necessário) dos combustíveis de acordo com a oscilação da cotação do petróleo no mercado internacional. Independentemente dos motivos, a questão tem preocupado produtores. O município com maior reajuste no Paraná foi Cornélio Procópio, onde o preço médio saiu de R$ 2,93 para R$ 3,32, ou seja, 13,3%. “Se fizéssemos o plantio como antigamente, seria inviável a agricultura hoje, está muito pesado a questão do óleo diesel. O que posso dizer é que o agricultor brasileiro é muito batalhador para se manter na atividade com o patamar de preço que estão os nossos produtos hoje”, diz Marcos Gerais, vice-presidente do Sindicato Rural de Cornélio Procópio.

Divulgação

O pecuarista Cristiano Leite Ribeiro, também de Cornélio Procópio, conta que uma alternativa encontrada por produtores na região é comprar diesel direto da distribuidora. No entanto, essa é uma alternativa que exige um porte maior do produtor, já que é preciso investir em estrutura de armazenamento. “É comum ir buscar diesel na distribuidora em Ourinhos, costuma ser em torno de 5% mais barato, então acaba compensando. São alternativas para diminuir o custo, porque é uma situação que vem nos atrapalhando”, compartilha.

No Oeste do Paraná, o presidente do Sindicato Rural de Toledo, Nelson Paludo, lembra que a aplicação de defensivos pode alterar de acordo com a incidência maior de algumas pragas ou doenças. “O diesel tem sido mais uma preocupação em um cenário no qual os custos de produção têm aumentado ano após ano”, revela.

Divulgação/FAEP

O engenheiro-agrônomo Nilson Hanke Camargo, do Departamento Técnico Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), reitera que a situação vivida nas diferentes regiões paranaenses é um efeito em cadeia, já que aumento em combustível significa repasse a todos os setores. “A diferença no caso da agricultura é que o produtor paga a conta, porque não tem um consumidor para repassar. Os preços das commodities são definidos pelo mercado internacional. O que fazemos é reivindicar uma política de incentivos fiscais que faça o produtor ter um cenário mais competitivo para poder trabalhar”, sinaliza.

Setor de fretes

O diesel representa quase metade do custo operacional do frete, de acordo com cálculos da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Fetranspar). Para o setor, a política da Petrobras está tornando a atividade mais difícil. “Sabemos que determinar o preço de combustível é algo complexo, que depende de cotações internacionais, mas da forma como está não temos como nos planejar. Imagine uma viagem que dura três dias, o caminhão sai com o diesel a um preço e chega no destino com outro, como vamos fazer um planejamento dessa maneira?”, questiona o presidente da Fetranspar, Sérgio Malucelli.

Para tentar resolver o problema, Malucelli comenta que o setor está se mobilizando em uma comissão. O objetivo é ir à Petrobras para tentar chegar a uma alternativa para os reajustes. “A política de reajuste deveria ser diferente, mas se continuar da forma como está, temos que ao menos ter uma projeção de gatilho, anunciar o reajuste de 30 em 30 dias, por exemplo. Hoje, com esses aumentos, a transportadora está assumindo todo e qualquer custo, e isso é absolutamente inviável”, comenta.

Retorno

Em nota, a Petrobras afirma que a política de preços da companhia para gasolina e diesel vendidos às distribuidoras, que permite reajustes frequentes, até mesmo diariamente, passou a vigorar em 3 de julho de 2017. Anteriormente, desde 15 de outubro de 2016, a empresa já vinha praticando política de preços para o diesel e a gasolina com reajustes mensais. A periodicidade frequente dos reajustes permite uma maior aderência dos preços do mercado doméstico ao mercado internacional no curto prazo e possibilita a companhia competir de maneira mais ágil e eficiente com importadores.

Segundo a Petrobras, 49% do preço pago pelo consumidor final pelo diesel correspondem à parcela da Petrobras. Os demais 51% referem-se a parcelas sobre as quais a Petrobras não tem gerência.

Ainda de acordo com a empresa, as revisões feitas por ela podem ou não se refletir no preço final ao consumidor, uma vez que a decisão de repassar o reajuste cabe às distribuidoras e aos proprietários dos postos de combustível. Além disso, outros agentes atuam na comercialização de derivados para as distribuidoras no Brasil, praticando assim sua própria política de preços.

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