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O milho e a onda do etanol

Na última coluna, quando falamos sobre o forte ritmo das exportações brasileiras de milho e da conseqüente necessidade de o produtor ficar atento ao mercado internacional, prometemos que voltaríamos ao assunto para explicar o bom momento das cotações do cereal, sustentadas pelo avanço da demanda por etanol nos EUA.

E não há melhor ocasião para cumprir a promessa do que agora, logo após os fortes ganhos da semana passada na Bolsa de Chicago. Na máxima da última quinta-feira, o contrato dezembro/06 do milho bateu em US$ 2,7625 por bushel, o melhor nível de preço para um contrato de primeira posição desde 25 de junho de 2004.

Alcançar a cotação mais alta em quase dois anos e meio seria louvável por si só, mas ir além da barreira dos US$ 2,76 significa mais do que uma mera superação. Com esse resultado, o milho realizou a façanha de romper uma linha de tendência técnica de baixa iniciada em 1996. Isso reforça as expectativas de que ele irá buscar, nos próximos meses, a marca de US$ 3,00, o que lhe dará mais condições de "brigar" na disputa por espaço na safra norte-americana 2007/08, cujo plantio começa em abril do ano que vem.

E espaço é tudo o que o milho precisa nos EUA, onde a febre do etanol está inflando a demanda pelo grão, usado como matéria-prima na fabricação do combustível. Maior produtor de etanol do mundo após desbancar o Brasil no ano passado, os EUA têm 105 usinas em operação e mais 44 em construção, o que deve elevar sua capacidade de produção de 19 para 31 bilhões de litros até 2010.

Isso significa dizer que a demanda anual por milho na fabricação de etanol, atualmente em 48 milhões de toneladas, vai beirar os 80 milhões quando essas novas usinas estiverem operando, se levarmos em conta que um bushel do cereal resulta em cerca de 10,6 litros do combustível.

Só para efeito de comparação, 80 milhões de toneladas de milho significam quase duas vezes o volume colhido pelo Brasil em nossa última safra. Nos EUA, a maior produção já obtida foi de 300 milhões de toneladas.

E o que o agricultor brasileiro tem a ver com isso? Muita coisa. Primeiro, porque o avanço das cotações do milho na Bolsa de Chicago favorece os preços do cereal no Brasil, principalmente se as exportações continuarem em bom ritmo. Segundo, e mais importante, porque o aumento da demanda e dos preços vai fazer os produtores dos EUA plantarem mais milho. Para aumentar a área do cereal, eles terão que reduzir a área de soja, o que pode ajudar o mercado da oleaginosa a tentar sair da crise em meados do ano que vem.

fmuraro@agrural.com.brwww.agrural.com.br

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