
Depois de cortar quase 48 milhões de toneladas das projeções de consumo de soja e milho nos Estados Unidos, o Departamento de Agricultura do país (Usda) levantou uma questão entre os participantes do mercado: será mesmo possível racionar a esses níveis a demanda pelas duas commodities?
A questão tem sido discutida e maior parte dos especialistas acredita que a missão é quase impossível, porque o apetite do mundo pelos dois produtos não para de crescer.
Diante das seguidas quebras climáticas sofridas pelas lavouras que mais produzem grãos no planeta, o consumo começou a ser reduzido nos Estados Unidos, mas de forma muito tímida, o que abre espaço para novas altas nas cotações de soja e milho.
Essa é a análise de Scott Shellady, um operador que atua no floor (local onde são realizados os negócios na da Bolsa de Chicago, nos EUA) e que concedeu entrevista à Gazeta do Povo. Ele confirma que o mercado ainda pode explodir. Confira:
Você acha que o relatório de oferta e demanda que o Usda solta na manhã desta quarta-feira (12) irá confirmar as expectativas de uma safra de milho menor do que o previsto há um mês? Quanto?Sim. Eu acho que a colheita total de milho será menor do que o mercado gostaria de admitir, está mais perto de 10 bilhões de bushels (254 milhões de toneladas).
E sobre a soja, as chuvas recentes amenizaram o estrago das lavouras?As chuvas não tiveram quase nenhum efeito. A estimativa de produção também deve ser reduzida pelo Usda.
A quebra de produção na América do Sul na última temporada e neste ano nos Estados Unidos força racionamento de consumo? Isso já está acontecendo? Como e onde?O racionamento na demanda começou, mas muito timidamente. Na verdade, nós temos um problema de demanda, não de oferta.
Os preços já atingiram um patamar capaz de frear o consumo? Não. Eu acho que a soja pode chegar a US$ 20 por bushel e o milho a US$ 10 por bushel [em Chicago]. É isso o que os números do Usda nos dizem neste momento.
O foco do mercado já mudou para a América do Sul?Sim e não. O mercado ainda está em negação em relação ao tamanho da quebra de safra nos Estados Unidos. Se a América do Sul também tiver problemas climáticos as cotações vão explodir.
O Brasil terá uma participação ainda mais importante no abastecimento mundial em 2012/13? Com certeza. A safra brasileira será fundamental para amenizar a escassez. Entretanto, o Brasil sozinho não resolve o problema. Nós também vamos precisar de uma grande safra nos Estados Unidos no próximo ano.
O mercado em Chicago está precificando de alguma forma os problemas logísticos brasileiros?Existe preocupação com o escoamento da safra, mas esses problemas são notícias velhas para o mercado. Nós entendemos a questão já está considerada nesse cenário de preços.



