• Carregando...
 | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Um por um, nos próximos dias, os agricultores do norte da Índia vão colocar fogo na palha dos campos de arroz recém-colhidos. A fumaça cinzenta e pungente se elevará no ar e, em seguida, se deslocará para sudeste em direção a Nova Délhi, engrossando a poluição que transformou a capital da Índia na metrópole mais poluída do mundo.

Enquanto isso, os 29 milhões de habitantes da grande Nova Délhi estão mergulhados em uma batalha anual contra a poluição atmosférica. No mês de novembro, nos últimos dois anos, o nível de partículas de poluição consideradas mais danosas à saúde humana chegou a mais de 30 vezes acima do limite indicado pela Organização Mundial da Saúde. O ar na cidade fica nebuloso e com aspecto de sujo durante todo o inverno.

Mas o governo da Índia tem um plano de andamento: fechou as últimas fábricas movidas a carvão em Délhi e baniu recentemente o uso de certos combustíveis industriais dentro da cidade. Nos dias em que a poluição sobe, outras medidas são tomadas rapidamente, como parar todas as obras de construção e impedir o acesso de caminhões à cidade.

Mas mudar a maré na luta contra a poluição dependerá de esforços como o que está em andamento no estado de Punjab, a locomotiva agrícola indiana. Lá, as autoridades estão engajadas em uma corrida para persuadir os agricultores a não colocar fogo nos campos, convencendo-os a não usar uma tática que é batata e eficiente em preparar a área para o próximo plantio, mas que também é uma grande fonte de poluição.

O ar poluído que cobre o norte da Índia todo inverno é uma mistura tóxica de fumaça de escapamentos, poeira de construção e emissões industriais que se assentam sobre a região conforme os ventos e a temperatura. O que torna o fenômeno incomum é a adição de fumaça de milhares de incêndios oriundos das fazendas, especialmente com a correria dos produtores para limpar os campos da palha de arroz para substituí-la pelo plantio de trigo no espaço de um mês.

“A singularidade dessa temporada de poluição atmosférica é precisamente porque os campos estão sendo queimados em uma escala inédita no mundo”, diz Siddharth Singh, autor do livro, que deve ser lançado em breve, “The Great Smog of India” (“A grande poluição atmosférica da Índia”, em tradução livre).

Trabalhador indiano separa na peneira a palha do arrozMONEY SHARMA/AFP

De acordo com um estudo patrocinado pelo governo, a queima da palha que fica no campo contribuiu com 26% do total de matéria particulada mais danosa à saúde no inverno de 2013 a 2014; e que chegou a contribuir em quase 50% em alguns dias durante a temporada de queimadas. Essa matéria particulada é 30 vezes mais fina com um fio de cabelo e pode penetrar profundamente nos pulmões.

A tarefa de dissuadir os agricultores a não fazer queimadas é uma parcela do grande desafio indiano de vencer a poluição. Ao contrário do regime autoritário chinês, que conseguiu avançar nos últimos anos em diminuir os níveis de poluição, a Índia, como país democrático, tem de lidar com interesses diversos e superar rivalidades políticas, além de motivar a população a mudar seus comportamentos.

Abordagem difícil

Kahan Singh Pannu, secretário de agricultura de Punjab, que sabe que a abordagens aos agricultores é difícil, está liderando os esforços anti-queimadas no estado. Pela primeira vez neste ano, o governo central da Índia destinou dinheiro para ajudar fazendeiros a comprar maquinários que transformam a palha em adubo. A campanha também envolve ações de conscientização para que os produtores não promovam queimadas.

Muitos agricultores, no entanto, ouvem educadamente as instruções dos agentes governamentais, mas sem qualquer entusiasmo. E se perguntam: Que tal simplesmente pagar aos produtores uma taxa por acre não queimado? Por que o governo pede a pequenos agricultores, já amarrados em financiamento, a raspar o tacho de dinheiro em novos maquinários? Se eles investirem em novas máquinas - que custam cerca de US$ 2 mil cada - o governo vai dar um subsídio equivalente a pelo menos metade do custo?

Gurtej Singh, 42 anos, conta que plantou - e queimou - seus campos por mais de duas décadas. Ele concorda que as queimadas são ruins para o meio ambiente mas diz que ligar com a palha usando outros métodos é mais caro e consome mais tempo. “Os pequenos agricultores não conseguem fazer”.

Ele não concorda em colocar a culpa pela poluição de Nova Délhi nos agricultores. A poluição na capital “é por causa dos veículos e da indústria, não por nossa causa”, pontua. Os produtores não estão sofrendo problemas de saúde por causa das queimadas, diz ele. Problemas de saúde relacionados à poluição são coisa “de gente fraca da cidade”, conclui.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]