
Apesar de a soja ter alcançado a melhor cotação nominal da história – acima dos R$ 64 pela saca de 60 quilos no Porto de Paranaguá –, os valores pagos pela oleaginosa não representam necessariamente aumento do lucro aos agricultores.
Considerando os dados de produtividade, custo e preço, apenas 14% da safra atual são efetivamente transformados em dinheiro no bolso dos produtores. Em 2008, quando o principal produto da pauta de exportações agrícolas do Brasil também alcançou patamares históricos de comercialização, a margem de lucro era de 42%. Ou seja, o produtor do Paraná ganhou quase o triplo de dinheiro em 2008, conforme a proporção da renda sobre o valor investido.
A explicação está em fatores econômicos e climáticos que interferiram diretamente na queda da produtividade e no aumento dos custos. De acordo com informações Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade de 2008 chegou a quase 49,8 sacas por hectare, enquanto a desta safra é de 40 sacas/ha. A queda de quase 20% é reflexo da estiagem que atingiu o Paraná no final do ano passado e início deste ano, véspera da colheita.
O aumento 37% do custo de produção nos últimos quatro anos também contribuiu para reduzir a margem de lucro dos agricultores. Em 2008 o produtor gastava, em média, R$ 1.470 por hectare – 29 sacas ao preço de R$ 50,69, já corrigido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para a política de metas do Banco Central. A safra 201/12 exigiu investimento de R$ 2.017/ha – 34,8 sacas ao preço de R$ 57,98.
“Os números mostram que essa história [cotação recorde da soja] não é bem assim. O ano 2008 foi uma época melhor para o agricultor do Paraná”, destaca Gilda Bozza, do departamento técnico-econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
Aspectos econômicos, como a alta do dólar, impactaram no aumento dos custos de produção, que depende de produtos importados. Como a moeda americana estava com a cotação menor em 2008, o produtor pagava menos para preparar a terra e proteger a lavoura. “Na época [2008], o dólar mais barato ajudava na importação de fertilizantes”, lembra o economista do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) Marcelo Garrido.



