
O produtor Adão Milak, que dedica 9 hectares às tangerinas, afirma que os R$ 3,50 que recebe por caixa não seriam suficientes para manter o negócio se não contasse com ajuda de parentes no cultivo de ponkan, mexerica e morgote. Pelo menos R$ 2 por caixa são necessários para cobrir colheita e transporte, isso computando remuneração de R$ 20 por dia para quem apanha as frutas e uma distância de menos de 10 quilômetros entre o pomar e o atravessador, que leva as frutas para centros de consumo.
Milak aponta para a paisagem de morros cobertos de pastagens e florestas para comprovar a pressão do mercado. "Tinha pomar de tangerina para todo lado, mas muita gente teve que parar", relata. As árvores que chegam ao final da vida não são repostas. Muitos produtores simplesmente plantam pasto e soltam algumas cabeça de gado sobre os antigos pomares.
Segundo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítisca (IBGE), a área das tangerinas foi reduzida em 25% no Paraná nos últimos dez anos. Metade dos cerca de 9,8 mil hectares cultivados atualmente, que rendem 7 milhões de caixas de 20 quilos ano ano, fica em Cerro Azul, no Vale do Ribeira, a 100 quilômetros de Curitiba. O município é o maior produtor de tangerinas do Brasil.
Milak é um dos fruticultores que ajudam a manter essa marca. Sua estratégia de resistência inclui a diversificação. Para não depender só das tangerinas, cultiva também uva e pêssego, que exigem investimento até três vezes maior, mas rendem mais a longo prazo.
O agrônomo Newton Sponholz afirma que o recuo no cultivo não deve ser tão grande neste ano justamente por causa da alta produtividade. A região que ele monitora produziu perto de 750 mil caixas ano passado e, nesta safra, está colhendo 1,2 milhão de caixas, avalia.
As chuvas ajudaram a carregar os pomares. As frutas chegaram ao mercado menos doces do que em anos de produtividade média. Agora, a cerca de um mês do final da colheita, a concentração de açúcar aumentou, relata o técnico, que também cultiva 3 hectares com tangerinas.



