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No Paraná, chuva impediu que o trigo fosse retirado na época correta, gerando queda na qualidade do produto final. | Hugo Harada/Gazeta do Povo
No Paraná, chuva impediu que o trigo fosse retirado na época correta, gerando queda na qualidade do produto final.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil vê frustrada a possibilidade de colher mais de 7 milhões de toneladas de trigo. Novamente, a questão está ligada aos prejuízos registrados com o cereal do pão nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que concentram mais de 90% da safra nacional. No total, de acordo com os órgãos estaduais de agricultura, a quebra ultrapassa 1 milhão de toneladas, reflexo do excesso de chuva nos últimos meses na região Sul do país.

Com isso, a dependência nacional em relação ao trigo importado aumenta. Ou seja, no próximo ano, perto da metade do consumo interno de trigo, estimado em 11 milhões de toneladas, terá que ser comprada de outros países, principalmente da Argentina, Paraguai e Estados Unidos. O reflexo deve ser o aumento no preço dos produtos derivados do cereal, como o pãozinho, massas e biscoitos.

Andreas Keller Junior, com a sua lavoura de trigo ao fundo, em Guarapuava. Atraso de mais de 20 dias na colheita.Hugo Harada/Gazeta do Povo

No Paraná, os produtores colheram 3,4 milhões de toneladas, volume 10% abaixo da previsão inicial, de acordo com levantamento da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). “O excesso de chuva impossibilitou tirar o trigo na época certa. Isso atrasou inclusive o plantio da soja. Choveu dia sim, dia também”, relata o produtor Andreas Keller Junior, de Guarapuava, Centro-Oeste do Paraná.

No Rio Grande do Sul, o cenário é ainda pior. Os triticultores gaúchos contabilizaram produção total de 1,5 milhão de toneladas, 34% em relação à estimativa do início da safra (2,2 milhões de toneladas), segundo dados da Emater local. No ano passado, o estado registrou perda de 1 milhão de toneladas, também por causa de chuva.

O agricultor Alberto Maurer, do município de Não-Me-Toque, colheu volume equivalente a metade do potencial das lavouras. Mas as 2,7 mil sacas (30 por hectare) não foram rebaixadas a triguilho. Assim, ele conseguiu perto de R$ 30 por saca, cobrindo os custos. Sua sensação, no entanto, é de que trabalhou em vão. “No ano que vem, vamos ter redução geral na área do trigo”, aposta.

Qualidade

Além da queda na produção, a situação é ainda pior em função da baixa qualidade do trigo colhido. As chuvas que castigaram os estados do Sul, principalmente nos meses de outubro e novembro, coincidiram com o período que as plantas ficam sensíveis às precipitações, o que interfere diretamente na qualidade.

No Rio Grande do Sul, parte significativa das lavouras foi infectada no ciclo de maturação por fungos produtores de toxinas, provocando perda de qualidade do grão, inclusive com restrição para consumo humano e animal. “Mais do que uma redução significativa na oferta do produto, é a péssima qualidade do pouco que foi colhido que impede que o produtor possa mitigar seu prejuízo com a cultura”, aponta o relatório da Emater gaúcha.

No Paraná, a Seab registrou redução no volume de trigo de PH acima de 78. Nesta safra, este cereal responde por 66% da produção, enquanto o índice era de 70% na temporada anterior.

Santa Catarina

Santa Catarina também registrou prejuízo. Mesmo no Oeste do estado, onde o clima é invejável, as chuvas em excesso deixaram as contas da triticultura no vermelho, relata o gerente comercial da Cooperalfa em Abelardo Luz, Dirceu Debastiani.

“Tivemos cinco problemas no percurso. A chuva no plantio em julho, o calor em agosto, a geada em setembro, o granizo em outubro e, por último, as chuvas na colheita em novembro. Deu menos trigo e a qualidade caiu”, detalhou.

O produtor José Nicolau Ludwig é um dos líderes de produtividade na soja em Abelardo Luz e tem especial apreço pelo trigo, mas perdeu dinheiro na triticultura. “Deveria haver um sistema de alerta que nos avisasse o ano em que não vale a pena plantar trigo. Neste ano eu não deveria ter plantado, por causa do El Niño”.

Com as chuvas contínuas, ele levou 17 dias para plantar uma área pequena, de apenas 30 hectares. Colheu 28 sacas por hectare, metade do potencial das lavouras. E os grãos tiveram de ser vendidos como triguilho (para ração) por R$ 22 a saca, cobrindo “metade dos custos”, lamenta.

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