
A maioria dos produtores tem optado por variedades mais produtivas na hora de realizar o plantio, mesmo sem a garantia de compra. Segundo Volmir Sergio Marchioro, pesquisador da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), isso ocorre porque a aposta em qualidade, mesmo com melhor possibilidade de venda, ainda não tem sido lucrativa após a colheita.
"Há um preço diferenciado pela qualidade, mas o produtor ainda não sentiu isso no bolso. Enquanto essa situação permanecer, ele vai escolher uma variedade que produza bem", explica.
O produtor Ricardo Voltre, que planta trigo em Carambeí, nos Campos Gerais, confirma essa realidade. Segundo ele, é praticamente impossível produzir o trigo melhorador, que tem a melhor classificação, na região. "A gente fica entre a cruz e a espada, mas o jeito é apostar na produtividade e rezar para que o produto tenha qualidade razoável", relata. Ele conta com o apoio de uma cooperativa para fazer a comercialização, mas destaca que isso não resolve os problemas.
Outro aspecto que deixa os produtores em dúvida é o leque de opções na hora de escolher um cultivar. Nos últimos dois anos, a Coodetec lançou oito novas sementes, enquanto a Embrapa Trigo produziu outras quatro. Desde 2008, a Biotrigo, que tem cerca de 55% do mercado nacional, lançou dez variedades em todo o país.
Para Ivo Arnt Filho, produtor e presidente da Comissão de Cereais da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep), a grande oferta impede que as culturas ganhem maturidade, a ponto de se perceber as especificidades de cada tipo. "Não dá tempo da variedade se estabilizar, para que o produtor avalie qual a melhor finalidade para o produto. Isso seria importante, até porque ainda não é possível aliar qualidade e produtividade", afirma.
Eduardo Caieirão, pesquisador da Embrapa Trigo, confirma o prejuízo que a troca constante de cultivares acarreta. "É uma autocrítica ao setor de pesquisa. Todo ano são lançadas novas variedades, incentivando o produtor a trocar. Isso reduz a vida útil dela, e dificulta a análise do produto", comenta.
Uma solução para isso é a adoção de um padrão de cultura que atenda toda a cadeia produtiva, relata Jacson Zuchi, pesquisador da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (Fepagro). "Falta uma identidade, e isso poderia ser proposto pelas cooperativas e empresas do segmento", pontua.
Pesquisa e investimento têm feito a diferença
Embora a produtividade seja o item valorizado pela maioria dos triticultores, o rendimento médio do cereal paranaense ainda é baixo, se comparado ao de outras regiões. Dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) mostram que no plantio 2011/12 a produtividade média do estado foi de 2.793 quilos por hectare. O núcleo regional de Ponta Grossa obteve o melhor desempenho, atingindo 3.420 quilos/hectare. Mesmo assim, a condição climática favorável não gera superioridade frente a estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade média da safra 2011/12 em Minas Gerais foi de 3.917 quilos/hectare, numa área pequena, de 23 mil hectares. Em Goiás, onde a área é de apenas 9 mil hectares, o rendimento obtido foi de 4.949 quilos/hectare. No Paraná, o plantio ocupou 760 mil hectares, indica a Seab.
Hugo Godinho, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, explica que nesses casos a diferença ocorre pois a produção é irrigada, algo que não ocorre nas lavouras paranaenses. "Com a irrigação, o estado poderia se aproximar desses níveis de produtividade, mas isso é inviável no estado", explica.
No mercado internacional, a diferença se acentua ainda mais. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o Usda, mostram a superioridade das lavouras de países que integram a União Europeia. Na média, obtêm-se 5 mil quilos de trigo em cada hectare plantado. Marca que supera, inclusive, o rendimento norte-americano, que é de 3.124 quilos/hectare.
Nesses casos, afirma Godinho, a tradição da cultura é um fator diferencial. "Em regiões como a Rússia e a Ucrânia, a qualidade do solo é espetacular. Além disso, essas regiões são o berço da cultura, o que torna a pesquisa mais avançada".
Produtor e presidente da Comissão de Cereais da Federação de Agricultura (Faep), Ivo Arnt Filho destaca que o foco em qualidade ajuda a diferenciar o produto estrangeiro. "Em países como a Alemanha, não se busca tanto a produtividade, mas sim a qualidade". Ele ressalta que, além de lançar novas variedades, deve-se estabelecer o melhor destino comercial para a cultivar plantada. "A própria pesquisa não está direcionando a variedade para o fim mais adequado", argumenta.
Para avaliar a adequação das variedades, a Fundação Pró-Sementes realiza ensaios em campos experimentais em polos produtivos. Os resultados em alguns casos chegam a dobrar a produtividade média da região, ainda que os produtos não obtenham a maior classificação.
Mesmo assim, a coordenadora da unidade de cultivos de inverno da instituição, Kassiana Kehl, explica que o manejo correto pode equalizar qualidade e produtividade. "Há muito material parecido sendo lançado. Por isso, é importante procurar um diferencial. Na prática o resultado pode ser diferente", diz.
De acordo com Godinho, a troca de informações entre a indústria e os produtores pode melhorar o desempenho no campo. "Um acompanhamento da produção e da qualidade do produto colhido poderiam ajudar o produtor a escolher o trigo certo, mais adequado ao seu objetivo", complementa.



