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Qualquer perda de apoio a Trump nos estados agrícolas conservadores, que foram cruciais para sua vitória em 2016, pode causar problemas para os republicanos na eleição legislativa de novembro. | SAUL LOEB/AFP
Qualquer perda de apoio a Trump nos estados agrícolas conservadores, que foram cruciais para sua vitória em 2016, pode causar problemas para os republicanos na eleição legislativa de novembro.| Foto: SAUL LOEB/AFP

Donald Trump prepara um pacote de US$ 12 bilhões (R$ 45 bilhões) em assistência aos agricultores americanos para compensar o impacto econômico negativo de sua guerra comercial.

O novo plano de assistência é dirigido aos produtores de soja, suinocultores e outros agricultores prejudicados por tarifas retaliatórias impostas pela China. O dinheiro será oferecido através da Commodity Credit Corporation, uma agência criada na era do New Deal que tem autoridade para emprestar dinheiro a agricultores ou comprar suas safras, em momentos de emergência econômica, de acordo com reportagens na mídia americana.

A ‘ajuda’ do governo surgiu em um momento no qual Trump vem sofrendo críticas de empresas e agricultores americanos e da ala do Partido Republicano no Congresso que é favorável ao comércio internacional, sobre as consequências econômicas de suas tarifas. Também surgiu na véspera de uma visita de Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, a Washington, para negociações com o objetivo de reduzir as tensões cada vez mais fortes no comércio transatlântico.

Em um sinal das preocupações do governo com as críticas internas, o presidente viajará nesta semana ao Missouri e a Illinois para tentar convencer os eleitores quanto ao seu plano de tarifas e sua estratégia mais ampla para reverter as décadas de desequilíbrio comercial que ele argumenta terem prejudicado o coração industrial dos Estados Unidos.

Qualquer perda de apoio a Trump nos estados agrícolas conservadores, que foram cruciais para sua vitória em 2016, pode causar problemas para os republicanos na eleição legislativa de novembro.

Os Estados Unidos já impuseram tarifas ao aço e ao alumínio importados de todo o mundo e a cerca de US$ 34 bilhões em produtos chineses. O presidente ameaçou expandir as tarifas a até US$ 350 bilhões e incluir carros e autopeças, bem como mais US$ 500 bilhões em produtos importados da China.

Produtores

Os produtores, principalmente de soja, questionam o propósito e o momento do resgate. “Provavelmente não precisamos [da ajuda] em nossa fazenda”, diz Anna Balvance, que cria soja e gado no norte de Iowa e espera fortes lucros nesta temporada. “Muitos produtores são céticos sobre esse pacote de ajuda. Ele não vai mudar a forma como fazemos negócios”, conta.

O impacto das tarifas chinesas foram menores para os produtores de soja por causa do uso generalizado de contratos futuros. As vendas antecipadas permitiram que muitos agricultores fechassem bons contratos na primavera passada. E os analistas também preveem que as cotações serão impulsionadas pela forte demanda global por soja.

A situação é semelhante para a carne suína, que também foi atingida pelas tarifas chinesas, mas desfrutou de bons preços em maio e junho. “Quem sabe qual teria sido o preço sem tarifas”, questiona Dustin Baker, economista do National Pork Producers Council. “Mas, na maior parte, os produtores americanos não perderam dinheiro ainda”, explica.

As tarifas da China chegam em um momento em que o setor agrícola dos EUA tem sido prejudicado por anos consecutivos de produção recorde e preços deprimidos. A União Europeia, o Canadá e o México também impuseram tarifas para as exportações agrícolas norte-americanas, incluindo suíno, milho, queijo, maçãs e amendoim.

Mas a capacidade de recuperação dos produtores americanos tem mostrado muita eficiência e levanta questões sobre a lógica de usar subsídios para proteger os agricultores a curto prazo sem tomar medidas para evitar uma prolongada guerra comercial. Muitos dos mecanismos que protegem os agricultores nesta temporada enfraquecerão na próxima safra se os preços continuarem baixos. “Eu sei que meus produtores de soja podem estar interessados no pacote de ajuda”, diz o senador Chris Coons. “Mas eles preferem ter contratos de longo prazo do que pagamentos de curto prazo”, complementa. O prometido pacote de ajuda é o resultado de meses de pesquisa do Departamento de Agricultura (USDA).

O pacote de Trump inclui pagamentos diretos aos agricultores, esforços para promover os bens dos EUA no exterior e uma expansão de um programa que compra bens agrícolas excedentes e distribui a bancos de alimentos. O USDA prometeu ajuda aos produtores de soja, milho, algodão, trigo, carne suína, laticínios.

Os preços da soja caíram mais de 20% desde o final de maio, quando o presidente Trump anunciou tarifas de US$ 50 bilhões em produtos chineses. A China retaliou com tarifas rígidas, levando os preços da soja para o patamar mais baixo em 10 anos, para US$ 8,19 por bushel, no momento em que a colheita recorde e grandes estoques já haviam impulsionado os preços para longe de seu auge em 2012.

Mas como os produtores de soja podem vender suas safras a qualquer momento do ano, é improvável que tenham sofrido um grande impacto financeiro na safra deste ano, disse Kevin McNew, economista-chefe da Farmers Business Network (FBN), uma empresa de inteligência de mercado. “Muitos fazendeiros venderam a soja com bons preços antes do início da guerra comercial”, diz. Em uma pesquisa com 7 mil agricultores, a FBN descobriu que quase metade da safra de soja deste ano foi comercializada antecipadamente.

Em relação ao preço da soja, os corretores americanos estão otimistas. “A demanda global é forte”, afirma Arlan Suderman, principal economista de commodities da empresa de consultoria INTL FCStone. “E os Estados Unidos são o maior produtor mundial de soja”, complementa.

Segundo o analista, o Brasil, segundo maior produtor, deverá esgotar a oferta de soja exportável no final de setembro. Se somar essa informação, com o provável baixo desempenho da próxima safra americana, previsto pelo USDA, as cotações serão impulsionadas. “Os Estados Unidos serão a única fonte real de soja no mundo até outubro”, confia Suderman.

Produtores de grãos e oleaginosas também têm outras almofadas. Muitos estão planejando armazenar a colheita deste ano até que ela se torne lucrativa.

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