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O Brasil tem a segunda maior frota mundial de aviões agrícolas, atrás apenas dos EUA. Especialistas dizem que há espaço para crescer mais. | Rogério Machado/Gazeta do Povo
O Brasil tem a segunda maior frota mundial de aviões agrícolas, atrás apenas dos EUA. Especialistas dizem que há espaço para crescer mais.| Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

O crescimento da produção agrícola brasileira nos últimos anos tem impulsionado um elemento cada vez mais presente nas fazendas brasileiras: o avião. Especialmente nas grandes propriedades, este equipamento tem se mostrado um aliado quando o assunto é aumentar a velocidade e a eficiência no manejo da lavoura, o que resulta em um ganho de produtividade. A tendência se reflete nos números. A frota brasileira de aeronaves agrícolas passou de 2.115 unidades em 2017 para 2.194 no ano passado, de acordo com levantamento do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), um crescimento de quase 4%.

Atualmente, o Brasil já possui a segunda maior frota de aviões agrícolas do mundo, atrás apenas dos EUA. Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo têm, respectivamente, o maior número de aeronaves, somando mais da metade do total. Além disso, 66,59% dos aviões utilizados pelo Brasil no campo são operados por empresas que prestam serviços aos produtores rurais. O restante são aeronaves particulares compradas pelos próprios agricultores para realizar pulverizações de defensivos químicos, sementes e fertilizantes em suas propriedades. Às vezes, esses produtores se associam para comprar o equipamento, montar a estrutura de apoio e dividir o custo das operações.

É o caso do engenheiro agrônomo Lucas Stracci, que cultiva junto com o pai e um primo 4,2 mil hectares de soja e milho em São Desidério, região Oeste da Bahia. Há cerca de um ano ele se juntou ao vizinho, o paranaense Jolcinei Marchezan, que tem 4 mil ha de grãos plantados em 3 fazendas da família no município de Luís Eduardo Magalhães. Ambos rateiam o custeio do avião conforme o volume de área aplicada. Quem usa mais, paga mais. Segundo Stracci, o avião – um modelo Embraer 202A “Ipanema” movido a etanol – tem trazido muitos benefícios e deve se pagar em quatro anos.

A aeronave custou aproximadamente US$ 1 milhão e para valer a pena o investimento precisa cobrir no mínimo 25 mil ha ao ano. Stracci conta que utiliza a aviação agrícola há 11 anos. “A vantagem é o rendimento operacional, que é superior ao modelo terrestre. A aplicação é tão boa quanto a outra e o custo fica muito próximo. Então, compensa você ter um rendimento maior por unidade de área e ainda por cima não ter compactação do solo por causa dos tratores”, observa. Ele e Marchezan usam o avião principalmente para aplicar defensivos, como fungicidas e inseticidas, e fazer a semeadura do milheto.

Para o diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Gabriel Colle, um dos principais motivos para o aumento da quantidade de aviões no campo é a percepção do produtor de que precisa colocar mais tecnologia para produzir mais. “A aviação agrícola evolui muito nos últimos 40 anos, com muita tecnologia embarcada, como o DGPS, que guia a aplicação dos produtos e desliga automaticamente o sistema quando o avião sai da área de lavoura”, afirma. Com isso, as pulverizações são reguladas para otimizar a aplicação, gastando de 5 a 8 vezes menos água do que no modal terrestre, segundo ele.

Tempo menor

Marchezan, com o avião utilizado juntamente com o vizinho Lucas Stracci ao fundo: mais velocidade e eficiência na pulverização da lavoura.Rogério Machado/Gazeta do Povo

Na opinião do pesquisador da Embrapa Instrumentação Paulo Cruvinel, é preciso analisar as condições da área cultivada para determinar se o uso do avião é mais vantajoso. “Depende do local onde está a propriedade e a distância da pista de pouso, por exemplo. O avião costuma atender às necessidades do produtor em tempo menor, além de evitar o amassamento da cultura”, pontua.

Além da aeronave e da contratação de um piloto com todas as licenças obrigatórias para operar o avião, Stracci investiu na construção de uma pista de pouso, um angar e outras estruturas necessárias para a operação aérea, como uma pista de descontaminação, onde a calda restante da aplicação precisa ser destinada a uma espécie de caixa d´água para decantar e depois é enviada a outra caixa de evaporação. Com isso, evita-se que o material contamine o lençol freático.

No entanto, Cruvinel salienta que é imprescindível que as operações de pulverização tenham receituário agronômico e sejam feitas por profissionais capacitados. Isso evita contaminações e danos ao meio ambiente e à produção por aplicações feitas de maneira inadequada. Ele aponta também para soluções em que é possível trabalhar de forma colaborativa com comboios de máquinas, ou seja, onde as tecnologias aérea e terrestre podem ser empregadas simultaneamente.

“É preciso olhar para as especificidades da lavoura em função do tamanho de área, a relação custo benefício e o tipo de praga a ser combatida. É necessário ainda ter um modelo de gestão de risco com o olhar voltado às boas práticas de agricultura, que é aquela que gera alimento sob a ótica do desenvolvimento sustentável, sem prejudicar a resiliência dos sistemas naturais”, ensina Cruvinel.

Nesse sentido, o pesquisador diz que a – quando o produto químico se espalha por áreas onde não era para se espalhar, principalmente por causa do vento – não é mais recorrente na pulverização aérea, ao contrário de que se costuma dizer. “Isso é um mito, um equívoco. O que precisa é trabalhar técnicas para minimizar essa deriva, em qualquer meio, sabendo qual o momento certo de aplicar o produto, observando a temperatura, as correntes de vento e outros fatores climáticos.”

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