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Rico em proteínas, óleo e fibras, o amendoim tem retomado a relevância comercial na agricultura brasileira nos últimos anos, e deve ter uma produção 60% maior na safra atual em relação à anterior. Em comparação ao que se colhia dez anos atrás, o volume mais que triplicou.
Originário da América do Sul, o amendoim já foi uma cultura importante no país até a década de 1970, numa época em que seu óleo despontou como substituto da banha de porco. A cultura, porém, perdeu espaço a partir dos anos 1980 com o avanço da soja. E agora "renasce" movido a outros fatores, entre eles a expansão do mercado fitness e estímulos oficiais – em Mato Grosso do Sul, por exemplo, há uma política de fomento à produção da leguminosa.
A área plantada, que na safra de 2014/15 era de 108,9 mil hectares, deve chegar a 279,4 mil hectares na safra 2024/25, um aumento de 156% em dez anos, segundo números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A Associação dos Produtores, Beneficiadores, Exportadores e Industrializadores de Amendoim do Brasil (Abex-BR), no entanto, estima que a área cultivada seja ainda maior, entre 380 e 400 mil hectares.
A produção saiu de 346,8 mil toneladas na safra 2014/15 para 733,7 mil toneladas em 2023/24 – um avanço de 211,6%, mesmo com uma quebra de safra no ano passado, de acordo com a Conab. Para 2024/25, a autarquia projeta uma produção de mais de 1,18 milhão de toneladas, ou 60,3% maior que na safra anterior.
Desse total, 78,2% devem ser cultivados em São Paulo, cuja produção está estimada em 920,3 mil toneladas. O estado historicamente concentra a cultura do amendoim, em razão da necessidade de substituição da banha de porco em um período de êxodo rural, entre as décadas de 1950 e 1970. Na época, o óleo de amendoim surgiu como alternativa, antes de ser substituído pelo óleo de soja.
Para se ter uma ideia, até dez anos atrás, a agricultura paulista respondia por mais de 90% da produção nacional. Diante da boa rentabilidade, com preços em alta, e por auxiliar no controle de nematoides, o cultivo de amendoim é muito utilizado no estado como cultura de rotação nas renovações de canaviais.
Grande parte da produção é destinada à exportação, mas a demanda interna também tem crescido em razão das propriedades benéficas do amendoim, como o elevado teor de proteínas e ácidos graxos.
Além do consumo in natura, por meio de produtos de confeitaria, em doces ou salgados com base nos grãos moídos ou inteiros, como no pé-de-moleque e na paçoca, o amendoim também pode ser destinado para outros fins, como ração animal, cosméticos e produtos destinados ao mercado fitness, como na forma de pasta de amendoim.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), o brasileiro consome, em média cerca de 1,6 kg do produto por ano, o que equivale a cerca de metade da produção anual. O número ainda é relativamente baixo quando comparado a outros países, como os Estados Unidos, com um consumo per capita de 6,7 kg. e a China, com 13 kg.
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Com o aumento dos preços e diante das condições climáticas, que têm prejudicado a soja, o amendoim, mais resistente a estiagens, passou a ganhar espaço em outros estados, como Minas Gerais e principalmente Mato Grosso do Sul, que se consolidou como o segundo maior produtor nacional.
O estado, que em 2019/20 produziu 7,2 mil toneladas da leguminosa, colheu 70,5 mil toneladas em 2023/24, um avanço de 879% em quatro anos. A projeção da Conab para a safra atual é de 181,8 mil toneladas, 157,8% a mais que na anterior.
O avanço do amendoim resulta ainda de uma política de fomento à diversificação da base produtiva agrícola por parte do governo do estado.
“É uma excelente opção para áreas arenosas, onde o risco de plantio de soja é maior”, explicou o secretário-executivo de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Rogério Beretta.
Em fevereiro, o governo sul-mato-grossense liberou incentivos fiscais para a instalação da primeira indústria de amendoim no estado, na cidade de Bataguassu. A unidade da Casul, cooperativa de São Paulo, receberá um investimento de R$ 117,5 milhões.
“A estratégia do governo do estado tem por objetivo consolidar o amendoim como alternativa de diversificação da base produtiva e de agroindustrialização”, disse Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação.
Custo de produção do amendoim é maior, mas o lucro também é
Neste mês, a consultoria agro do Itaú BBA publicou um relatório sobre o mercado de amendoim no Brasil. Segundo o levantamento, os custos de produção do amendoim são relativamente mais elevados que os da soja, chegando a R$ 7.421/ha, dos quais 70% são gastos com sementes e defensivos.
A margem de lucro, no entanto, também é superior à da soja, embora possa ser reduzida neste ano diante da queda do preço, principalmente para produtores que arrendam áreas para plantio em São Paulo, em razão do alto custo de arrendamento.
Em uma comparação entre as duas culturas, utilizando como referência a produção no primeiro trimestre de 2025 na cidade de Tupã (SP), o amendoim apresentou um custo maior, mas a receita operacional foi superior à da soja, resultando em uma margem de 50%, contra 42% da oleagionosa, o que tem chamado a atenção de alguns produtores para o cultivo na primeira safra.
De acordo com a consultoria, com a safra recorde no mercado brasileiro, espera-se que as exportações em 2025 sejam maiores do que em 2024, o que pode fazer deste o melhor ano em termos de volume exportado da leguminosa.
A produção mundial de amendoim gira em torno de 50 milhões de toneladas anuais, das quais cerca de 4,5 milhões são destinadas à exportação.
Considerando os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 2024 o Brasil ocupou a oitava posição entre os maiores produtores de amendoim do mundo, atrás de China, Índia, Nigéria, Estados Unidos, Myanmar, Senegal e Argentina.
No comércio global, segundo o International Trade Centre, o Brasil foi o quarto maior exportador de amendoim em 2023, somando US$ 437 milhões na venda de 297,7 mil toneladas do grão in natura ao exterior.
Entre os derivados, o Brasil é o segundo maior exportador global de óleo de amendoim, atrás apenas da Índia. Em 2024, as vendas externas do produto brasileiro somaram 61,7 mil toneladas, com receitas de US$ 106,9 milhões.






