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Festa da Colheita de arroz orgânico do MST, em março deste ano, em Nova Santa Rita (RS)
Festa da Colheita de arroz orgânico do MST, em março deste ano, em Nova Santa Rita (RS)| Foto: Gabriela Felin / Divulgação MST

Na entrevista ao Jornal Nacional da Rede Globo, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rasgou elogios à produção de arroz pelo Movimento dos Sem-Terra: “O MST está fazendo uma coisa extraordinária: está cuidando de produzir. Não sei se você sabe, o MST, hoje, tem várias cooperativas e o MST é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil”.

O que, em termos de estatísticas, significa ser “o maior produtor de arroz orgânico no país”? Feitas as contas, o volume produzido pelo MST, na verdade, não arranha a necessidade dos brasileiros e daria para menos de um dia de consumo deste item essencial à segurança alimentar.

Na safra de 2022, o MST no Rio Grande do Sul, estado que concentra 70% da produção nacional de arroz, promoveu a "19ª Festa da Colheita” para celebrar uma safra de 15,5 mil toneladas do produto orgânico.

Arroz orgânico alimentaria brasileiros por 10 horas

“O consumo diário de arroz pelo brasileiro é de 33 mil toneladas. Se fosse viver do arroz orgânico do MST, teríamos alimento só para meio dia de consumo da população, ou nem isso, apenas 10 horas. E nem sei se é garantido que se colha tudo isso, porque o arroz é uma cultura exigente no controle de pragas e doenças”, diz Vlamir Brandalizze, engenheiro-agrônomo e consultor especializado na commodity.

“É um nicho muito específico, que atende uma fatia muito pequena da população. E para conseguirem viabilizar isso, eles têm que vender muito caro”, observa o analista. Uma busca na internet mostra que o arroz orgânico de uma marca conhecida (Tio João) pode ser encontrado a R$ 15,89/kg, contra R$ 5,19/kg do mesmo tipo de produto convencional, de outra marca também conhecida (Tio Urbano).

O analista da Brandalizze Consultoria aponta que, para ser viável economicamente, o arroz precisa render de 8 a 10 toneladas por hectare “em qualquer lugar do mundo, seja na China, na Tailândia, na Indonésia ou no Brasil”. “O pessoal do orgânico colhe de 3 a 4 toneladas, eles não conseguem produtividade. Daí, não tem como ser barato. Podem não gastar com fertilizante e defensivos, mas também não colhem”, afirma.

Anvisa garante segurança do arroz consumido pela população

O Brasil é autossuficiente na cultura do arroz, com produção e consumo anual estimados em torno de 11 milhões de toneladas. A exportação chega a 1,5 milhão de toneladas, equilibrando-se com importações da Argentina e do Paraguai.

O último levantamento do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (2017-18), da Agência de Vigilância Sanitária, apontou que "a exposição crônica aos resíduos de agrotóxicos pesquisados de 2013 a 2018 não representa risco crônico à saúde dos consumidores no Brasil". O relatório lembra que "os equipamentos utilizados nas análises são de alta sensibilidade, com potencial para detectar resíduos na faixa de partes por bilhão (ppb) ou inferior. As concentrações detectadas nessa faixa de concentração, geralmente, são significativamente menores que o Limite Máximo de Resíduo (LMR), quando estabelecido".

O médico Ângelo Trapé, diretor do Ambulatório de Toxicologia do Hospital das Clínicas da Unicamp até 2017, diz que em 40 anos de estudos na área, viajando o país inteiro, nunca teve "nenhum caso em laboratório ou do centro de controle de intoxicações da Unicamp de algum indivíduo que tenha se intoxicado pela alimentação" devido a resíduos de defensivos químicos. "Tive casos de internação intencional, tentativa de suicídio e homicídio, mas isso é outra história", destacou.

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