• Carregando...

Agora vai. Mais de três anos após sua criação e regulamentação, a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) finalmente ganha efetivo para funcionar, senão plenamente, pelo menos satisfatoriamente. Na semana passada o governador Beto Richa autorizou a contratação de 169 concursados para os quadros da agência e colocou fim à novela das contratações, que já dura quase um ano, desde a seleção realizada em julho de 2014.

Os novos guardiões da sanidade agrícola e pecuária do Paraná são veterinários, agrônomos e técnicos de meio-ambiente e de laboratório. Com a estrutura que herdou do Defis, o antigo departamento de fiscalização da Secretaria de Estado da Agricultura (Seab), a Adapar passa a contar com um pequeno exército de pouco mais de 700 profissionais, espalhados pelas regionais da Seab/Adapar de Norte a Sul, de Leste a Oeste do estado, com especial reforço às divisas estaduais.

O fim da vacinação contra a febre aftosa foi a motivação maior que pressionou o governo a decidir pela nomeação dos novos servidores na Adapar. Porém, nem tudo está resolvido. Vencido o desafio das contratações, o que não deve ter sido fácil, a considerar a situação econômica e de caixa do estado, surge um novo embate. A questão agora é de natureza prioritariamente técnica. Mas que tem seus interesses econômicos envolvidos.

Deixar de imunizar o rebanho não se resume ao extenso e demorado processo burocrático de reconhecimento nacional e internacional de um novo status. O estado precisa ampliar o debate, comunicar o mercado e a sociedade de que o rebanho está protegido, que a estrutura e a estratégia da vigilância sanitária têm condições de manter o vírus fora de circulação e que não há risco à economia ou à segurança alimentar.

Em um ambiente sem vacinação, casos como o aparecimento do vírus em 2005 pode ter seu impacto multiplicado. Na época, o Paraná teve que sacrificar milhares de cabeças de gado, indenizar pecuaristas e amargar um enorme prejuízo econômico. Em especial nas exportações, que somente foram retomadas ao nível pré-aftosa dez anos depois. Além da carne de boi, dezenas de países fecharam seus mercados também à carne de frango e de suínos.

Do ponto de vista econômico, de aferir maior renda à pecuária de corte, não há dúvidas de que o status pleiteado pode credenciar à abertura de novos mercados, onde agregar valor sanitário também é agregar valor monetário ao produto. Exemplo bom vem de Santa Catarina, o único estado no país livre de aftosa sem vacinação. O rebanho bovino catarinense é praticamente a metade do Paraná. Mas eles são grandes produtores de suínos e aves.

Não raras vezes, o balanço das exportações de carne daquele estado é menor em volume, mas maior em receita cambial na comparação com os embarques paranaenses. Uma das explicações está no fato de eles acessarem mercados mais exigentes em critérios de sanidade e que remuneram melhor o produto. Em tese, o livre sem vacinação significa uma área altamente protegida e vigiada, um diferencial competitivo e valorizado no comércio internacional.

Divergências e interessesO outro lado dessa moeda, questionado por profissionais do setor, associações de criadores e até produtores, está justamente no efeito contrário que o possível fim da vacinação pode trazer no caso de o vírus vencer o sistema de vigilância e pegar o rebanho desprotegido. Tem ainda o lobby das empresas de vacina, embora isso seja menos importante.

Apesar de o rebanho do Paraná ser relativamente pequeno em relação a outros estados, o mercado de imunização não deixa de ser milionário por aqui. Com aproximadamente 9,2 milhões de cabeças, o estado gasta perto de R$ 20 milhões ao ano com duas campanhas de vacinação. O Paraná representa menos de 10% do rebanho nacional, estimado em mais de 200 milhões de animais.

Enfim, há concordância, bem como divergências e interesses. Um cenário que nos obriga a abrir e discutir exaustivamente o tema, esclarecer a sociedade e dividir a responsabilidade. Não duvido da competência do estado e das autoridades sanitárias do Paraná quanto à segurança em encaminhar o pleito de livre sem vacinação. Mas assim como a vacina, é preciso precaução.

Mais do que sentir-se seguro, é preciso dar segurança. E não há como fazer isso que não seja pela informação e mobilização. Então, vamos ao debate. Nesta segunda-feira (10), inclusive, há uma audiência pública sobre o assunto. Será às 9 horas, no plenarinho da Assembleia Legislativa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]