Quatro famílias dividem mais de 200 hectares de terra e têm a produção de leite como principal atividade econômica em Saudade do Iguaçu, no sudoeste do estado. São cerca de 75 mil litros vendidos por mês para a Nestlé com uma margem bruta aproximada de R$ 0,72 o litro. A dedicação somada ao trabalho de extensão rural consolidou o Condomínio Pizzolatto como referência no Paraná graças à metodologia de trabalho eficiente implantada há mais de 15 anos.
O médico veterinário José Nunes Vieira é o extensionista responsável por atender a propriedade, que funciona no sistema de Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF). A Emater já presta suporte ao condomínio desde 1998, quando apenas um dos irmãos morava lá: Ademir Pizzolatto. Ao longo dos anos seguintes, os outros familiares se estabeleceram no local, até que, em 2001, o negócio ganhou os contornos atuais, com as quatro famílias.
Casada com Eugênio, Claudete é produtora e responsável pela gestão de informações da propriedade. “A Emater presta assistência técnica, tecnológica e também na área de gestão. A gente cresceu muito justamente por essa ajuda.” Ela conta que está sempre por dentro das inovações que podem melhorar suas atividades. “E quando queremos fazer algo diferente, os extensionistas nos levam para ver propriedades onde aquilo já é aplicado para termos certeza de como funciona”, relata.
Nos primeiros anos, a média de produção de leite era de 7 litros diários por animal e havia cerca de 15 vacas leiteiras. “Hoje, são 150 animais e a produtividade subiu para uma média de 21 litros por dia de cada um. Isso foi possível pelas melhorias na qualidade da pastagem e do bem-estar dos bovinos”, explica Vieira. Há cerca de dez anos, foi implantado o sistema silvipastoril em parceria com a Embrapa Florestas, ou seja, o plantio de árvores no pasto (gravílea) que garantem sombreamento. Essas áreas mantêm uma temperatura adequada para as vacas, além de reduzir a erosão do solo.
A propriedade cultiva soja e milho que são transformados em alimento para o gado. “Com isso, produzimos parte da nossa ração e compramos apenas o necessário para complementar. Para cada quilo de soja, economizamos dois quilos de ração, o que melhora o custo/benefício”, comenta Claudete. “Ao invés de comercializar os grãos, eles são usados para agregar valor ao produto principal, que é o leite”, diz Vieira.
Cada pessoa que trabalha no condomínio recebe um salário equivalente à sua função e o restante da receita é investido. “A renda aumentou bastante, temos condições de viver tranquilamente”, afirma Claudete. Vieira diz que em suas visitas é perceptível que a qualidade das casas das famílias melhorou, assim como dos automóveis e vestuário. “Todos os moradores são muito empenhados em colocar em prática as nossas orientações”.
Raízes no campo
Vanderson é filho de Ademir, tem 23 anos, é casado e mora no condomínio. Após terminar o ensino médio, optou por seguir o trabalho da família ao invés de continuar os estudos ou mudar de cidade. “A minha vida é aqui, não pretendo sair, está muito bom!”. Já Rosana Almeida, filha de Inês Pizzolatto, também mora na propriedade, e estuda nutrição na Unipar, em Francisco Beltrão. Mesmo assim, sua prioridade é permanecer perto dos familiares. “Se eu puder atuar dentro do condomínio futuramente, é o que pretendo”, arremata.
A produção de leite também contribui com a sucessão da família Telles, em Renascença, no sudoeste. “Hoje eles produzem 660 litros de leite por dia e pretendem subir para mil litros até 2018. O trabalho dos filhos deve agilizar esse processo”, conclui o extensionista e técnico agrícola Alberto Muller. Dos três filhos de Luiz e Noeli, dois ainda moram na propriedade. “Thiago passou um tempo em União da Vitória estudando Medicina Veterinária e depois voltou para casa, já casado com Andréia. Lucas também foi fazer um curso técnico em Agropecuária e retornou para aplicar seus conhecimentos nas terras da família”, comenta Muller.
Um dos desafios para as entidades que trabalham junto aos produtores rurais é incentivar a sucessão familiar. “Os jovens precisam ter uma fonte de renda e boas condições de vida para ficarem no meio rural”, conclui.



