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Brasil cria bananas resistentes a fungo que devasta plantações no mundo

Cultivares de banana criadas pela Embrapa servirão como barreira natural contra fungo causador de murcha de Fusarium raça 4, que vem devastando plantações inteiras pelo mundo e causando prejuízos bilionários
Cultivares de banana criadas pela Embrapa servirão como barreira natural contra fungo causador de murcha de Fusarium raça 4, que vem devastando plantações inteiras pelo mundo e causando prejuízos bilionários. (Foto: Michel Bertolotti/Pixabay)

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Falava-se até em extinção da banana. Responsável por uma doença que vem acabando com plantações inteiras da fruta pelo mundo, uma nova cepa do fungo Fusarium oxysporum chegará ao Brasil a qualquer momento. Mas, graças ao trabalho de pesquisadores da Embrapa, o país é um dos únicos no mundo preparados para enfrentar o patógeno.

Duas cultivares de banana desenvolvidas nas últimas décadas pela instituição de pesquisa mostraram-se resistentes à forma mais grave da murcha de Fusarium, a raça 4 tropical (R4T). A confirmação permite que essas variedades, a BRS Princesa e a BRS Platina, sejam utilizadas como barreiras naturais contra a disseminação da doença em escala global.

Já presente em países das Américas, Ásia, África e Oceania, o fungo é disseminado por solo contaminado a partir de sapatos e ferramentas, mudas visualmente sadias e plantas ornamentais hospedeiras. Ao infectar a bananeira, o patógeno bloqueia seu sistema vascular, interrompendo o fluxo de água e nutrientes e matando a planta.

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Conhecida também como mal-do-Panamá, a R4T já foi identificada em pelo menos três vizinhos brasileiros – Colômbia (2019), Peru (2020) e Venezuela (2023), o que fazia com que a chegada da doença ao Brasil fosse apenas questão de tempo.

A preocupação era ainda maior em regiões como o Vale do Ribeira, onde há 30 mil hectares plantados de banana e 70% da economia local depende da produção da fruta.

O fitopatologista Fernando Haddad, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, explica que a BRS Princesa e a BRS Platina foram desenvolvidas ao longo das últimas décadas por meio de melhoramento genético, com foco justamente na resistência ao Fusarium.

Os trabalhos foram iniciados pelos pesquisadores Sebastião Silva e Zilton Cordeiro, hoje aposentados, em uma época em que o problema era a raça 1 do fungo. A primeira cepa identificada do patógeno praticamente acabou com uma variedade chamada Gros Michel, a mais vendida no mundo até a década de 1950.

A maior parte das bananas produzidas no mundo hoje é vulnerável à raça 4, incluindo a Cavendish, variedade de banana nanica mais consumida no mundo.

“O problema da raça 4 é que ela afeta também a nanica, além de ser mais agressiva nas variedades”, explica Haddad.

As cultivares brasileiras foram testadas na Colômbia, em uma parceria da Embrapa com a Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (AgroSavia). Os experimentos ocorreram na primeira fazenda em que foi identificada a R4T no país, em área cedida pelo proprietário para pesquisas, com vigilância do Instituto Agropecuário Colombiano (ICA).

As mudas foram enviadas à Colômbia em janeiro de 2022 e permaneceram por oito meses in vitro em uma estação do ICA para confirmar a ausência de fungos, bactérias, vírus e nematoides. Após a quarentena, receberam o patógeno em casa de vegetação e seguiram para testes em tanques de água com solo contaminado. Em seguida, passaram para o campo, em área onde a doença também estava presente.

Menos de 1% das bananeiras de BRS Princesa e BRS Platina foi afetado, índice que assegura a resistência à R4T.

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Com a confirmação, diploides – parentes ancestrais das variedades que foram utilizados no melhoramento da espécie – servirão de base para um programa de melhoramento genético na Colômbia para a variedade Cavendish.

Em parceria com a Corporação Bananeira Nacional (Corbana), da Costa Rica, a Embrapa também desenvolve novos híbridos da variedade Cavendish com diploides resistentes à R4T.

A BRS Princesa é uma cultivar de banana maçã, enquanto a BRS Platina, de banana prata, a mais consumida no Brasil. Os testes prosseguem para o lançamento de uma nova cultivar do tipo prata em 2026.

Hoje, segundo o fitopatologista da Embrapa, a BRS Princesa já está amplamente distribuída pelo país e em poucos anos vai dominar o mercado. “Na Ceagesp [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo] mais de 90% do que é comercializado de banana maçã é Princesa”, diz.

Já a Platina está entrando no mercado. “A gente tem tecnologia e aí o mercado e os produtores vão adotando à medida que vai expandindo o plantio de substituição. Não é um processo rápido, vai ocorrendo ao longo do tempo”, explica.

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