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100 anos da soja no Brasil

Embarque na Linha do Equador

Agricultura faz nascer um segundo sistema de exportação na metade norte do Brasil, mais próximo do Pacífico

Navio chinês carrega soja em Santarém (PA). Logística dispensa os custos do Sul e Sudeste | Giovani Ferreira/gazeta Doa€‰povo
Navio chinês carrega soja em Santarém (PA). Logística dispensa os custos do Sul e Sudeste (Foto: Giovani Ferreira/gazeta Doa€‰povo)
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Agricultores participam de evento técnico em Roraima: lavoura em expansão |

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Agricultores participam de evento técnico em Roraima: lavoura em expansão

Caminhões carregados de grãos do Centro-Oeste brasileiro se deslocam cada vez mais rumo a um novo sistema logístico que está nascendo na metade norte do país, movido basicamente a soja. Empresas que têm a commodity como principal ativo investem mais de R$ 3 bilhões no chamado Arco-Norte, um complexo de seis portos que começa em Rondônia e segue ao Maranhão.

Neste “segundo” Brasil agrícola — que envolve principalmente Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Tocantins e o Nordeste —, os grãos navegam pelas águas dos rios Madeira, Tapajós e Amazonas antes de embarcarem no Atlântico com destino ao mercado externo. Para chegar aos principais destinos, os navios podem seguir à Ásia pelo Pacífico, via Canal do Panamá.

Para o campo, a alternativa significa redução dos gastos fora da porteira e um país mais competitivo no mercado internacional. Com a ampliação do Canal do Panamá, embarcações que hoje seguem para a China contornando a África vão percorrer 3 mil quilômetros a menos. “Ficaremos imbatíveis”, crava Renato Pavan, presidente da Macrologística, consultoria responsável pelos primeiros estudos de viabilidade econômica do Arco-Norte. A partir da próxima safra, o Canal do Panamá deverá receber navios com 120 mil toneladas de grãos, o dobro do volume atual.

O Arco-Norte exporta cada vez mais soja. Na safra passada, os embarques passaram de 6 milhões de toneladas, um salto de 39% em relação ao ciclo anterior. Por enquanto, são quatro novas portas de saída: Itacoatiara (Amazonas), São Luís (Maranhão), Barcarena (Pará) e Santarém (Pará), as mais próximas da Linha do Equador.

Com a conclusão de obras que estão em execução, ao menos mais dois portos graneleiros colocarão a região no páreo em relação ao sistema do Sul e Sudeste, onde estão concentradas outras seis vias de escoamento da soja. Os portos de Vitória (Espírito Santo), Santos (São Paulo), Paranaguá (Paraná), São Francisco do Sul e Imbituba (Santa Catarina) e Rio Grande (Rio Grande do Sul) são responsáveis por mais de 84% dos embarques brasileiros da commodity, ou 35 milhões de toneladas.

Miritituba, um pequeno e pobre município ao Sul do Pará, tem visto pulsar os investimentos portuários do Arco-Norte. Segundo o coordenador do movimento Pró-logística, Edeon Vaz Ferreira, serão 11 estações de transbordo para grãos de caminhão para barcaças. “Tudo o que está acontecendo ali vai ter um contraponto em outro lugar lá em cima [para entrada no Atlântico]”, explica.

Um desses contrapontos está em Santana (Amapá). A Cianport, empresa que pertence à holding Fiagril, de Mato Grosso, pretende realizar o primeiro embarque até a metade do próximo ano. “O objetivo é ter opção logística própria, reduzir custo de transporte”, afirma Jaime Binsfeld, diretor-presidente da Fiagril. A companhia produz cerca de 2 milhões de toneladas de grãos por ano em Mato Grosso. Segundo o executivo, o desvio de cargas ao Norte representa economia de 50% nos custos logísticos.

Nova estrutura, mais produção

As exportações pelo corredor norte do Brasil têm estimulado a produção regional de soja. Estados como Pará e Roraima preveem incremento de 300 mil e 500 mil hectares, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo em viagem pela região.

Roraima, estado que cumpre o mesmo calendário agrícola dos Estados Unidos por cultivar a soja acima da Linha do Equador, direciona toda a produção ao exterior e depende do Arco Norte. O setor torce para que os investimentos logísticos se concretizem rapidamente para reduzir também os custos dos insumos.

“Estamos a 800 quilômetros ao Norte de Manaus (AM). Como não temos jazidas de calcário, esse e todos os outros insumos das lavouras precisam ser trazidos por estrada. Mas o futuro é bastante promissor”, diz Alvaro Calegari, secretário de Agricultura de Roraima.

O maior incentivador dos investimentos em logística no Arco Norte é o Mato Grosso, principal produtor de soja da região. Em seguida, vêm o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que está expandindo as lavouras e forma a nova fronteira agrícola.

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