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Safra cheia, destino incerto

Produção de trigo cresce, mas moinhos formam estoque com grão estrangeiro. Volume de cereal “sem mercado” deve passar de 500 mil toneladas

Depois de dois invernos só no milho, os produtores Reinaldo e Rogério Bonotto (pai e filho, da esquerda para a direita) voltaram a dedicar 215 hectares à triticultura em Nova Cantu, mas têm renda incerta | Ruderson Ricardo/gazeta Do Povo
Depois de dois invernos só no milho, os produtores Reinaldo e Rogério Bonotto (pai e filho, da esquerda para a direita) voltaram a dedicar 215 hectares à triticultura em Nova Cantu, mas têm renda incerta (Foto: Ruderson Ricardo/gazeta Do Povo)

Se o clima não atrapalhar e o Paraná confirmar o recorde de 4 milhões de toneladas de trigo projetadas pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), mais de 500 mil toneladas do cereal terão de ser armazenadas por falta de liquidez diante da indústria. A previsão é do próprio setor produtivo, que alerta o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a necessidade de intervenção por meio dos programas de garantia de preço mínimo.

Com a retomada da produção no Paraná, o país deve colher uma safra recorde de 7,4 milhões de toneladas, a maior desde 1987, conforme a Companhia Nacional de Abaste­ci­mento (Conab). A necessidade de recursos para operações de Aquisição do Go­verno Federal (AGF) ou leilões de escoamento é dada como certa, pelo risco de as cotações ficarem abaixo do preço mínimo (R$ 557,50 por tonelada ou R$ 33,45 por saca, trigo pão tipo 1).

“Não queremos alarmar o produtor, mas se essa safra se confirmar, teremos um excedente de pelo menos 500 mil toneladas só no Paraná”, estima o gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.

O cenário, já preocupante em caso de safra cheia, foi agravado depois que o governo resolveu isentar 1 milhão de toneladas do cereal de fora do Mercosul da cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10%, em junho. “Por mais que não tenhamos autossuficiência de produção, essa oferta extra veio próxima da colheita. Falta planejamento de longo prazo do governo”, critica o economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Pedro Loyola.

O comércio do trigo no país já está travado, conforme o setor produtivo. “Já vimos essa situação acontecer. Eles fazem estoques e acabam pressionando os preços para baixo”, afirma Loyola.

Produtores do Rio Grande do Sul têm tido dificuldade de vender o restante da última safra (cerca de 600 mil toneladas). Para rebater a isenção da TEC, o governo gaúcho tenta baratear o escoamento com redução do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 8% para 2% até meados deste mês.

O presidente da Coopavel, de Cascavel, Dilvo Grolli, também critica a isenção dada pelo governo. “Os moinhos vão escolher a melhor opção. Se o importado estiver mais barato, eles não vão comprar do [trigo] brasileiro”, aponta.

Indústria alega descompasso

A indústria moageira tem capacidade instalada para absorver a maior parte da produção nacional. Só as fábricas paranaenses podem processar 2,54 milhões de toneladas do cereal anualmente. Somadas às indústrias de São Paulo e Rio Grande do Sul, o processamento em 12 meses chega a 6,19 milhões de toneladas, conforme levantamento de 2013 da Associação Brasi­leira da Indústria do Trigo (Abitrigo).

Porém, há um descompasso entre a necessidade de venda dos produtores e a velocidade de consumo da indústria. “Poderíamos usar todo esse trigo, mas ao longo de um ano. O problema é esse: a produção se concentra em apenas três meses”, alega o presidente da Abitrigo, Marcelo Vosnika. “Não temos como armazenar essa quantidade por muito tempo. Falta espaço e capital”, completa.

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