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Região do Oeste da Bahia tem produção de grãos altamente tecnificada | Rogério Machado/Gazeta do Povo
Região do Oeste da Bahia tem produção de grãos altamente tecnificada| Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

Principal estado produtor de grãos do Matopiba, a Bahia, que no ano passado colheu uma safra de 6,3 milhões de toneladas de soja (5,3% do volume total produzido pelo país), este ano deverá ver sua produção reduzida para 5 milhões de toneladas (4,4%), segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A redução de 21% foi motivada por uma estiagem que deixou o Oeste baiano 40 dias sem um pingo de chuva. A região engloba 11 municípios e produz mais de 90% da soja e do milho da Bahia. No entanto, muitos entendem que não se trata propriamente de uma quebra de safra.

“O ano passado foi um ano excepcional em que não passamos mais de 10 dias sem chuva. Com isso, chegamos a 66 sacas por hectare de média, um recorde histórico. Este ano tivemos o veranico de janeiro, que na verdade começou em dezembro, e ficou muito tempo sem chover. Anotamos uma redução de 18% em relação à média do ano passado”, afirma o assessor de Agronegócio da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Luiz Stahlke.

Ele observa que a média de produtividade esperada para este ano é de 54 sc/ha, com expectativa de subir um pouco mais nos próximos levantamentos, já que a Bahia colheu até agora apenas 25% da área total cultivada. “Estamos falando de uma produtividade 6 sacas acima da média dos últimos 10 anos, que é de 48 sc/ha. Não é uma quebra de safra, mas uma redução em cima de uma expectativa que inicialmente era muito alta”, explica.

De acordo com Stahlke, os produtores já se acostumaram com a presença dos veranicos, até porque o clima no Nordeste é bem definido, com seis meses de chuva e seis meses de estiagem. Na Bahia, planta-se a soja no início de novembro, mas como choveu mais cedo no segundo semestre do ano passado, muita gente iniciou o plantio logo no final de outubro. Foram essas áreas, com cultivares precoces, que sofreram mais com a estiagem, segundo o agrônomo da Aiba.

Solo arenoso

O paranaense de Palotina Jolcinei Marchezan, que cultiva 4 mil hectares em Luís Eduardo Magalhães, no Oeste baiano, estima para este ano uma quebra de 20% a 25% na região. Ele tem 3 mil hectares de soja, 730 hectares de milho e “alguma coisinha” de feijão. No milho, a perda será de 30%, segundo o produtor.

Produtor Joel Marchezan, paranaense radicado no Oeste da Bahia: plantas murchas às 10h da manhãRogério Machado/Gazeta do Povo

Marchezan, que administra as três fazendas da família juntamente com os irmãos, espera colher uma média de 50 sacas de soja nesta safra. Isso porque uma das fazendas sofreu bastante com o veranico. Foram 26 dias sem chuva, com sol forte e altas temperaturas que atingiram as plantas na fase de crescimento vegetativo. “Era um sol de rachar logo cedo. As plantas já estavam murchas às 10 da manhã”, conta.

As lavouras de Marchezan vão produzir neste ano dez sacas a menos do que costumam produzir em média. Um revés que acaba pressionando os produtores ainda mais. Segundo o agricultor, a Bahia teve quatro anos ruins e um ano muito bom (2018), o que impossibilita recuperar todo o investimento feito em maquinário, sementes e fertilizantes. “Tivemos que nos endividar, não teve jeito”, sintetiza.

Um fato que impede os produtores de alavancar a produção é a dificuldade para formar uma boa palhada no solo, já que a segunda safra de milho não é comum na região. Com uma janela climática estreita, sem chuvas no inverno, diminui-se a quantidade de palhada, essencial para um bom teor de matéria orgânica.

De acordo com Stahlke, dos 1,6 milhão de hectares cultivados na Bahia, 700 mil onde havia cultivares plantados mais cedo podem receber o plantio do milheto, uma alternativa interessante para formar palhada. “Quem for colher a soja depois de fevereiro até o final de abril já não consegue plantar a forragem porque aí não tem mais chuva”, explica.

Outra alternativa tem sido usar a braquiária, que é plantada em consórcio com o milho primeira safra. Onde se adotou esse sistema, os resultados para a cultura posterior – geralmente a soja – estão sendo muito bons, especialmente em épocas de estiagem, afirma o assessor da Aiba. Mesmo assim, de modo geral, a lavoura sofre bastante por que muitas vezes a palhada não consegue resistir seis meses sob o sol forte e sem nenhuma chuva, comprometendo a umidade do solo para a próxima safra.

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