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Produtor e agrônomo Rui Jackson Zanetti mostra soja morta por estresse hídrico | Michel Willian/Gazeta do Povo
Produtor e agrônomo Rui Jackson Zanetti mostra soja morta por estresse hídrico| Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo

Bastava erguer os olhos para o céu que lá estavam elas. As nuvens de chuva, que pareciam acompanhar a equipe da Expedição Safra, teimavam em não atestar o discurso dos produtores de São Gabriel do Oeste (MS) de que a estiagem do final do ano passado e comecinho deste ano semeou desigualdades nas lavouras de soja do município. Algumas produziram resultados excelentes, enquanto outras nem sequer conseguiram sobreviver.

Um exemplo foi o que ocorreu na propriedade de mil hectares do produtor Gustavo Fassini. Cerca de 10% da área de plantio foi afetada pela falta de chuvas. A lavoura não resistiu e morreu. A cem metros ali, dentro da mesma propriedade, ele aponta para outro talhão onde a soja está verdejante e com porte mais alto. “Nessa parte a soja está bem bonita e na outra parece que tinha uma barreira invisível que não deixava a chuva passar”, conta Fassini. Enquanto ele espera colher 70 sacas por hectare na área em que choveu, na outra vai tirar no máximo 25 sacas.

De acordo com a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), este ano foi um ano atípico para os produtores do estado, com condições climáticas variáveis em que a sorte favoreceu mais alguns do que outros. A expectativa é colher neste ano de 8,5 milhões a 9 milhões de toneladas de soja – uma quebra de 15% em relação à safra de 2017/2018, que rendeu 59 sacas/ha. Neste ano, a produtividade deve chegar a 52,5 sc/ha, em média.

Para o presidente da Aprosoja-MS, Juliano Schmaedeck, a estiagem deve afetar principalmente os pequenos produtores. “Os pontos onde a falta de chuvas pegou mais forte devem ter péssima produtividade, e para quem já não estava bem de caixa fica mais difícil. Até porque o custo dos defensivos, adubos, diesel e manutenção de peças e serviços vêm subindo”, observa. Fora isso, ainda tem o problema do tabelamento do frete, que eleva os custos para escoar a produção.

Juliano Schmaedeck, presidente da Aprosoja-MSMichel Willian/Gazeta do Povo

Em São Gabriel do Oeste, no norte do Mato Grosso do Sul, a chuva parece que escolheu uma faixa específica do território do município para cair. Em torno de 5 mil hectares foram bem cobertos pelas precipitações, o que dá uns 10% do município, segundo os produtores. O engenheiro agrônomo Rui Jackson Zanetti, que também é produtor na região, estima que a quebra da safra em São Gabriel será de 15% a 20%. “A minha média nos últimos dois anos foi de 64 sacas/ha. Este ano não vou colher 45”, lamenta. A área dele foi uma das mais afetadas pela estiagem.

Segundo Zanetti, normalmente os meses de dezembro e janeiro são chuvosos no Mato Grosso do Sul, o que não ocorreu na virada do ano. “As chuvas foram de baixa intensidade, o que criou lavouras não uniformes. Tenho talhões em que vou colher 30 sacas e tenho outros que estão em desenvolvimento e ainda posso me recuperar”, afirma. O produtor diz que de novembro a janeiro o normal é chover 600 milímetros, mas choveu no máximo 70 milímetros neste ano na melhor área da fazenda dele, que tem um total de 880 hectares.

A falta de chuvas, além de atrapalhar o enchimento dos grãos e o crescimento da planta, também resseca o solo e impede os produtores de aplicar o fungicida, que na condição de estiagem pode prejudicar ainda mais a soja. “Não adianta. Se faltou chuva, você fica impotente”, sentencia Zanetti.

Realidade diferente

Na propriedade de 1,6 mil hectares de Sergio Marcon, a falta de chuvas também trouxe problemas, mas nada do que ele possa reclamar, diante da realidade de alguns vizinhos. Dos 15% da área cultivada que já foi colhida, houve uma redução de 10% na produtividade, principalmente por causa da estiagem na fase de enchimento de grãos. Mesmo assim, o paranaense de Francisco Beltrão está colhendo uma média de 65 sacas/ha. “Pela pouca chuva que deu até que estamos produzindo bem”, resume o produtor, que já iniciou o plantio do milho safrinha.

Produtor Sergio Marcon vistoria lavoura castigada pela secaMichel Willian/Gazeta do Povo

De acordo com a Aprosoja-MS, a perspectiva para a segunda safra deste ano é muito boa. O milho safrinha, que no ano passado rendeu uma média de 76 sacas/ha pode render uma produtividade de 90 sacas/ha nesta safra. Isso porque a colheita da soja foi antecipada em 15 dias no Mato Grosso do Sul, criando uma boa janela para o cultivo do grão.

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