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Greve dos caminhoneiros: motoristas protestam contra alta dos combustíveis em todo o Brasil. Na imagem, a BR-040, na altura de Brasília | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Greve dos caminhoneiros: motoristas protestam contra alta dos combustíveis em todo o Brasil. Na imagem, a BR-040, na altura de Brasília| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A greve dos caminhoneiros que teve início nesta semana já coloca em alerta diversas entidades do agronegócio. Algumas, inclusive, destacam os efeitos imediatos da paralisação que acontece em diversos trechos das estradas brasileiras.

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) informa que o abastecimento está sendo afetado em vários estados. Presidente executivo da entidade, Péricles Salazar, que também preside o Sindicarne do Paraná, afirma que “são centenas de caminhões parados nas estradas com animais vivos, leite e produtos resfriados para serem entregues nos pontos de varejo em todo o País”.

Leia mais: Entidades do agronegócio apoiam motivos da greve

A Cooperativa Central Aurora, por exemplo, estima mais de R$ 50 milhões em prejuízos na cadeia produtiva.

Diretor executivo da central cooperativa Frimesa, Elias José Zydek alerta que com o problema de transporte de leite “em dois ou três dias deveremos começar a ter problemas no abastecimento do varejo”, afirmou à Gazeta do Povo. Contabilizando o setor de proteína animal e lácteos, a entidade tem faturamento diário de 12 milhões. “Este é o valor que estamos deixando de vender por dia”, destaca.

Proteína animal

Representante de mais de 140 agroindústrias de avicultura e à suinocultura, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) destaca que já há relatos de unidades produtoras com turnos suspensos. Este é o caso da C.Vale, de Palotina: a cooperativa decidiu suspender o abate diário de 530 mil frangos e 50 mil tilápias.

“A retomada das atividades ocorrerá assim que as rodovias forem liberadas. Para isso, a direção da C.Vale espera que governo federal e representantes dos caminhoneiros cheguem a um acordo o mais brevemente possível tendo em vista o risco de grandes prejuízos e transtornos para produtores, funcionários, indústrias e consumidores”, afirmou Alfredo Lang, presidente da C.Vale, em comunicado enviado à Gazeta do Povo.

Policial rodoviário dialoga com manifestantes na BR 163, em Capitão Leônidas Marques (PR)PRF/Divulgação

Também a partir desta quarta-feira, a Frimesa deixará de abater cerca de 8 mil suínos diariamente: 6,9 mil em Medianeira e 1,1 em Marechal Cândido Rondon, ambas no Paraná.

“Nossas câmaras frias e caminhões estão cheios. Só em Medianeira, temos 23 veículos carregados [de carne suína]”, afirma Elias Zydek. Nesta terça-feira o ritmo já foi menor: foram abatidos apenas os animais que já estavam na região e que foram liberados nos bloqueios por serem carga viva. Em nota, a Cooperativa Central Aurora Alimentos comunicou a paralisação total das indústrias de processamento de aves e suínos em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, inicialmente, a partir de quinta e sexta-feira, dias 24 e 25 de maio de 2018.

Os produtores de aves também sentem os efeitos da greve. Em nota, o Sindiavipar (Sindicato dos Produtores de Aves do Paraná) destaca que “a paralisação já afeta o transporte de grãos até as fábricas de ração e, consequentemente, a entrega de insumos para alimentação das aves no campo. Além disso, há prejuízo na transferência de animais vivos das granjas aos abatedouros e de produtos resfriados entre a indústria e os pontos de venda e exportação. No Paraná, pelo menos oito frigoríficos e quatro incubatórios decidiram paralisar as atividades até o fim desta semana por falta de matéria-prima ou de espaço para armazenar pintainhos e produtos já processados”.

Lácteos

O setor de leite também está sendo afetado. No Rio Grande do Sul, o Sindicato das Indústrias de Laticínios (Sindilat) destaca que há cargas perecíveis paradas nas estradas do estado.

“Sem a liberação dos veículos, os laticínios gaúchos ficam impossibilitados de realizar a captação de 12,6 milhões de litros de leite cru em 65 mil propriedades rurais do Rio Grande do Sul”, informou o sindicato. “O leite é um produto vivo e sujeito a rígidas normas de captação. Se os veículos não chegarem às propriedades dentro do prazo, os produtores terão sua produção descartada”.

A Frimesa também destaca o prejuízo no setor: cerca de 500 mil litros por dia estão deixando de ser captados pela cooperativa. A cooperativa afirma que tem matéria-prima para a produção de lácteos até quinta-feira nas unidades de Matelândia, que produz iogurtes e sobremesas, e de Marechal Cândido Rondom, que produz queijos. Após isso, deve haver desabastecimento.

Safra de soja

Além de produtos de origem animal, a safra de soja já apresenta dificuldades de escoamento. Presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio Galvan destaca que 30% da soja de Mato Grosso ainda precisa ser retirada do Estado, sendo que 20% da safra ainda não foi negociada pelos produtores.

Parte dessa produção é encaminhada ao Porto de Paranaguá, que na tarde desta terça-feira estava com o pátio de caminhões de recebimento de soja vazio. Segundo a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), em 24 horas, mais de 1 mil caminhões de grãos de soja deveriam ter entrado no local. Ao todo, apenas 47 conseguiram chegar ao destino.

Apesar disso, os embarques para exportações continuam. Segundo o porto, seriam necessários cerca de dez a 15 dias sem a entrada de veículos para que as exportações de grãos fossem afetadas, uma vez que os armazéns continuam cheios.

Entidades do agronegócio apoiam motivos da greve

Apesar dos prejuízos e risco de desabastecimento, diversas entidades vêm manifestando apoio à greve nas estradas. “Enxergamos essa paralisação como último recurso de uma categoria que não consegue mais sobreviver. Somos solidários a esse movimento e temos que lembrar que todos nós consumimos combustíveis. Não é possível que uma categoria e a sociedade pague pela roubalheira da Petrobras”, afirma Elias José Zydek, diretor executivo da Frimesa.

“A direção da C.Vale espera que governo federal e representantes dos caminhoneiros cheguem a um acordo o mais brevemente possível tendo em vista o risco de grandes prejuízos e transtornos para produtores, funcionários, indústrias e consumidores”, afirma o presidente da entidade, Alfredo Lang.

Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal também manifestou sua posição quanto à greve: “A ABPA apoia as motivações da paralisação, mas entende que o movimento deve preservar o fluxo dos alimentos e dos insumos para a produção. É de conhecimento nacional a grave crise enfrentada pela cadeia produtiva de proteína animal, que há meses luta para preservar os postos de trabalho do setor. Impedir a continuidade da produção poderá gerar consequências graves para todo o País, especialmente nos pequenos municípios onde o sistema produtivo está instalado”.

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