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Extensionista  e agricultor avaliam lavoura em local não identificado do Paraná, nos anos 70 | Divulgação/Emater
Extensionista e agricultor avaliam lavoura em local não identificado do Paraná, nos anos 70| Foto: Divulgação/Emater

Como se diz na roça, no final do mês o engenheiro agrônomo Rubens Niederheitmann vai “carpir o trecho” e dar adeus à Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), onde trabalhou por quatro décadas e da qual foi presidente nos últimos sete anos.

Junto com Niederheitmann, que aderiu ao Plano de Demissão Voluntária, está saindo uma legião de servidores públicos (298 no total) – entre eles o ex-governador e ex-secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, que atuou apenas três anos consecutivos como médico veterinário da Emater (1979-1982), licenciando-se em seguida para seguir carreira política. Muitos do que agora vão embora são ainda do tempo em que a empresa se chamava Acarpa, nos anos 70, quando a monocultura do café reinava absoluta na agroeconomia do estado.

Os extensionistas da Emater participaram ativamente do período histórico de maior transformação da agricultura paranaense, com abertura e consolidação de áreas, combate à erosão e diversificação das atividades agropecuárias, tornando o estado um dos maiores produtores de grãos, leite, carne e madeira.

Maria Lúcia Valenga Parizotto entrou na Emater em 1969, como auxiliar de escritório, quando o presidente era o general Costa e Silva, o Brasil ainda era apenas bi-campeão mundial de futebol e o homem tinha acabado de chegar à lua.

“Foi um período de muita importância da assistência técnica, aconteceram profundas transformações”, lembra Maria Lúcia, que logo decidiu seguir carreira em agronomia. Os primeiros 18 anos como extensionista foram em Palotina, no Oeste do estado, “trabalhando muito para a diversificação das propriedades”. “Era só soja e trigo, e o pessoal ainda colocava fogo na palha. Hoje a região tem muita pecuária de leite, criação de frangos, suínos e peixes. O agricultor começou a se preocupar com os custos de produção, com a contabilidade e administração da propriedade, e houve muito avanço no trabalho das cooperativas”, sublinha.

  • Extensionista Iniberto Hammerschmidt usa cartolinas para explicar novas tecnologias a grupo de produtores
  • Um dos primeiros escritórios da Acarpa no Paraná
  • Durante muitos anos, fusca foi o veículo “oficial” do extensionismo rural
  • Inauguração de escritório de agricultura que antecedeu à criação da Acarpa/Emater
  • Serviço de entrega de leite a domicílio (local e data não relacionados)
  • Agricultor é atendido em escritório regional da Emater-PR
  • Engenheira agrônoma Maria Lúcia Valenga Parizotto, que trabalhou por mais de 48 anos na Emater-PR
  • Ramona Endler: 53 anos de serviço na Emater-PR
  • Parte dos quase 300 servidores da Emater-PR que se aposenta neste primeiro semestre
  • Engenheiro agrônomo Jorge Mazuchowskii: 48 anos de Emater-PR

Na época, a produtividade da soja era de cerca de 70 sacas por alqueire (2,42 hectares). “Hoje já alcançamos isso em um hectare”, destaca a extensionista.

O produtor Nestor Araldi, de 71 anos, presidente do Sindicato Rural de Palotina, reconhece o papel fundamental de agrônomos como a “Parizotto”. “Quem trouxe tecnologia para a suinocultura foram os extensionistas. A Emater ensinou a fazer ração e a engordar um suíno em 5 ou 6 meses, e não num ano inteiro como a gente demorava. A evolução tecnológica da agricultura começou com a Emater”, assegura.

Aprendizado

Algo que os agrônomos e técnicos aprendem, logo de saída, é que a extensão rural é uma via de duas mãos, em que, com frequência, é o produtor quem tem ensinamentos a passar. “Confesso que a poda do pessegueiro, por exemplo, só fui aprender com o agricultor. A gente faz o curso e tudo, mas as coisas são muito teóricas e vários macetes temos que pegar com os produtores”, diz Iniberto Hammerschmidt, coordenador estadual de hortaliças da Emater, que também está de saída, após 44,5 anos de firma.

Hammerschmidt se orgulha de ser um dos poucos que nunca saíram da área técnica. “Geralmente o pessoal segue para as áreas gerenciais e acaba perdendo a especialidade. Mas eu consegui me manter na extensão durante todos esses 44 anos”. O agrônomo também se diz feliz por ter ajudado na introdução da agricultura orgânica na Região Metropolitana de Curitiba, a partir de 1982. “Começamos naquele ano com 20 produtores e 500 toneladas de orgânicos; hoje já são 1800 produtores e 55 mil toneladas. Foi uma demanda do consumidor por produtos saudáveis e dos próprios agricultores, porque na época havia muita intoxicação na cultura do fumo em Agudos do Sul e Piên”, recorda.

Após 53 anos ininterruptos na Emater, a administradora Ramona Endler vai se aposentar, mas ainda trabalhará de graça por mais alguns meses. “Vou ficar voluntariamente, até encontrar alguém para me substituir. Eu trabalho com contratos, compras e licitações e ainda tem muita coisa em andamento”.

A esperança de Ramona é que saia logo uma autorização de concurso público para área administrativa, ou então para realocação de servidores ou contratação de terceirizados. “Precisamos urgentemente convidar pessoas de outras áreas para vir para cá. Se não fosse um casal de Maripá que aceitou vir para Curitiba, há um ano, eu estaria sozinha”, destaca. Do setor administrativo da Emater saíram 11 pessoas no primeiro PDV, há três anos, e outas sete nesta segunda leva de demissões voluntárias.

Fazer o impossível

Em 48 anos de serviço, o agrônomo Jorge Mazuchowski, que percorreu o Paraná nos célebres jipes e fuscas da Emater, não titubeia para apontar sua maior satisfação. No início dos anos 70, diz ele, havia o tabu de que a atividade florestal só era viável em grandes propriedades. “Nós introduzimos o componente florestal na pequena propriedade e provamos que era viável economicamente. Diziam que era loucura, que era impossível, mas mostramos que não somente era factível como também altamente rentável”.

No lugar dos 298 servidores da Emater que aderiram ao último PDV, devem ingressar na empresa, em agosto, 262 novos profissionais aprovados em concurso público. Com a substituição dos mais antigos, que recebiam salários maiores, Niederheitmann calcula que a economia para os cofres públicos será de R$ 500 mil por mês. “É um baita negócio para o Estado. Nesse ano, vamos economizar R$ 7 milhões na folha. Para o ano que vem, serão R$ 23 milhões a menos”.

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