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Campeão da feijoada: estado produz sozinho quase 80% do feijão preto do país

De cada dez pratos de feijoada servidos no Brasil, oito têm origem no Paraná, que lidera com folga a produção de feijão preto no país.
De cada dez pratos de feijoada servidos no Brasil, oito têm origem no Paraná, que lidera com folga a produção de feijão preto no país. (Foto: Gilmar Koizumi/Pixabay)

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Oito de cada dez pratos de feijoada servidos no Brasil têm origem no Paraná, que lidera com folga a produção de feijão preto no território nacional. Segundo estimativa da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab) para as três safras de feijão preto do ciclo 2024/25, das 811,6 mil toneladas do grão produzidas pelo país, 630,9 mil toneladas (77,7%) vêm de propriedades paranaenses. 

Em relação ao ciclo anterior, o estado – que abriga 75,2% da área de cultivo da variedade no Brasil – deve ampliar a produção em 16,8%. 

Em segundo lugar, Santa Catarina deve ser responsável por 90,7 mil toneladas (11,2%), enquanto o Rio Grande do Sul, terceiro colocado, colocará no mercado cerca de 56,2 mil toneladas (6,9%). 

Somente na primeira safra, entre outubro e dezembro de 2024, o Paraná ampliou em 117,5% a oferta do grão para o país, na comparação com o ano anterior – 240,1 mil toneladas em 2024/25 ante 110,4 mil toneladas em 2023/24. 

A ligação da variedade de leguminosa com o estado paranaense, pouco difundida nacionalmente, é agora tema de uma campanha do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). A entidade lidera um movimento para a criação da Rota do Feijão Preto, um polo de turismo rural e gastronômico entre os municípios de Palmeira, na região dos Campos Gerais, e Guarapuava, no Centro do Paraná. 

O projeto, um dos eixos da iniciativa “Viva Feijão do Paraná”, conta com apoio de diversas entidades, como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o Serviço Nacional do Comércio (Senac) e o governo do estado do Paraná. 

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que também apoia o projeto, estuda ainda o registro de Indicação Geográfica (IG) do feijão preto paranaense, como já ocorre com o vinho da Serra Gaúcha e o café do Cerrado. 

A IG é conferida a produtos característicos de seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de distingui-los em relação a similares no mercado. São produtos que apresentam qualidade única em razão de recursos naturais como solo, vegetação, clima e know-how. 

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Marcelo Eduardo Lüders, presidente do Ibrafe, explica que a cultivar plantada no Paraná – desenvolvida ao longo das últimas décadas por pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – tem particularidades que a torna única no país.

“É um feijão que não mancha e é mais resistente do que outras variedades, além de ter uma excelente qualidade culinária, por crescer em uma região cercada de florestas de araucária e com clima subtropical”, diz. 

“Existem várias cultivares de feijão preto, que dão diferença de caldo, de sabor, de resistência do grão”, explica Lüders. “É por isso que algumas vezes cozinhamos o feijão e o caldo vira uma gelatina, ou alguns grãos ficam mais duros do que outros.”

Exportação de feijão preto cresceu 1.027% em um ano

Até 2018, o Brasil importava uma grande quantidade de feijão preto, mas Lüders já acreditava que o país poderia ser autossuficiente no setor, de modo a exportar o excedente da produção. 

Em 2023, com uma quebra de safra no Hemisfério Norte, principalmente no México e Estados Unidos, o Ibrafe liderou um trabalho de incentivo aos produtores, o que fez com que, naquele ano, a safra tenha atingido patamares recordes. 

Com isso, o Brasil, que até 2017 importava 114,2 mil toneladas e exportava apenas 2 mil toneladas de feijão preto, inverteu a balança comercial do produto. Em 2024, vendeu 91 mil toneladas da leguminosa ao exterior, enquanto recebeu 4,1 mil toneladas, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). 

Em comparação a 2023, quando foram embarcadas para o mercado internacional 8,1 mil toneladas do produto, o aumento nas exportações foi de 1.027%. De 2023 para 2022, as vendas externas do feijão preto já haviam crescido 95%. 

Do volume total de feijão preto brasileiro entregue ao mercado global no ano passado, 69% (62,9 mil toneladas) foi produzido no Paraná.

Variedade chegou ao Paraná antes dos europeus

Nas pesquisas para a criação da Rota do Feijão Preto, o presidente do Ibrafe descobriu curiosidades sobre a presença da leguminosa na região Centro-Sul paranaense. 

“A literatura diz que o feijão preto chegou ao Paraná mais ou menos quando os europeus desembarcaram aqui, mas, na verdade, o grão é o mesmo da região de Cusco, no Peru, o que significa que ele já era cultivado aqui há milhares de anos”, conta. 

A leguminosa teria chegado ao território paranaense por meio do Caminho de Peabiru, uma rede de trilhas com 4 mil quilômetros de extensão que liga o Oceano Pacífico ao Atlântico, saindo do Peru e passando por Bolívia e Paraguai até chegar ao litoral brasileiro. 

O trajeto, construído ao longo de milênios por povos indígenas sul-americanos, era uma rota espiritual da população povo guarani e tornou-se também caminho para os europeus acessarem o interior da América do Sul. 

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“Hoje, das feijoadas que são servidas no Fasano e no Bolinha, em São Paulo, ou nas escolas de samba cariocas para arrecadar fundos para o carnaval, 70% vêm do Paraná. Deveria ser motivo de orgulho para a região”, considera Lüders. 

O cultivo de feijão preto na região destaca-se ainda pelo uso de bioinsumos. Enquanto o uso dos materiais biológicos giram em torno de 26% da área cultivada no Brasil, considerando todas as culturas, há produtores de feijão paranaenses que já lançam mão de insumos biológicos em 95% da produção, segundo o Ibrafe. 

A campanha “Viva Feijão do Paraná”, liderada pela entidade, está alinhada com o Movimento Pró-Feijão, aprovado na Câmara Setorial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e que institui pilares para o desenvolvimento do setor. 

A ideia é aumentar o consumo, profissionalizar a cadeia, garantir renda ao produtor e qualidade ao consumidor, posicionando o feijão brasileiro como um superalimento estratégico para a segurança alimentar nacional e global.

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