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Peixes à venda no Mercado Municipal de Curitiba: bacalhau é uma das espécies em extinção, mas que não tem restrições legais no Brasil | HUGO HARADA/GAZETA DO POVO
Peixes à venda no Mercado Municipal de Curitiba: bacalhau é uma das espécies em extinção, mas que não tem restrições legais no Brasil| Foto: HUGO HARADA/GAZETA DO POVO

O costume determina que Sexta-Feira Santa é dia de peixe, uma vez que comer carne vermelha, segundo a tradição cristã, seria pecado. Mas e quando a espécie é ameaçada de extinção?

Segundo o último levantamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que avaliou 4.494 espécies de peixes marinhos e continentais nas costas brasileiras, 408 estão ameaçados de extinção. Dos 3.147 peixes de água doce avaliados, 312 (9,91%) estão ameaçados. Entre as 1.347 espécies marinhas, 96 (7,13%) estão na lista.

Professor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba, Ricardo de Souza Rosa é um dos pesquisadores brasileiros que ‘mergulham’ no tema. Ele recomenda - durante a semana santa, principalmente - evitar o consumo de peixes cartilaginosos, como tubarões e raias.

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Rosa foi um dos autores do estudo “Os Peixes Brasileiros Ameaçados de Extinção”, em 2005, e destaca que, especialmente na zona oceânica, a principal ameaça é a pesca ilegal que acaba chegando aos mercados. “Até para a fiscalização é difícil, pois a pesca acaba coletando peixes ameaçados e não ameaçados, e raias que acabam descaracterizadas durante o corte”, diz.

Espécies ameaçadas e comercializadas

Claro, grande parte dos peixes à venda não chegou ao varejo de forma ilegal e há alternativas boas e baratas. Contudo, a atenção deve ser redobrada, segundo o professor, para algumas espécies.

Uma delas é o Galeorhinus galeus, mais conhecido como cação, um tipo de tubarão que está ameaçado de extinção. “Já fomos comunicados de embarcações estrangeiras que operam na costa brasileira e desembarcam no Uruguai. De lá, o peixe é exportado para o Brasil, fugindo da fiscalização”, afirma Rosa.

Outra opção que aparece nos mercados e está ameaçada no Sul do país é uma raia com nome científico de Rhinobatos horkelii. “No caso de peixes ósseos (não cartilaginosos) podemos destacar nessa situação o peixe mero, o garoupa e o cherne-poveiro. Há uma restrição legal para captura e comercialização”, avalia o professor, mostrando a importância do registro para a oferta aos supermercados.

E o bacalhau? Souza Rosa explica que ele segue restrito em alguns países da Europa e no Canadá. Mas como não pertence à fauna brasileira, aqui não há restrição legal. “Vários países têm vedado a captura. Na época de Páscoa acaba sendo bastante consumido e importado no Brasil. Mas continua sendo uma espécie ameaçada”, explica o professor. Um estudo da WWF, por exemplo, destaca que em 30 anos, 70% da população desse peixe acabou desaparecendo, forçando os países a promoverem planos de recuperação da espécie.

“O problema é que esse é um problema socioambiental. Muitas comunidades dependem desse recurso”, pondera o professor.

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