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Petralhas x Bolsominions? Não! O Brasil se divide entre quem quer um “salvador da pátria” e quem já entendeu a política
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De tão apaixonados, incansáveis e barulhentos, os fãs dos candidatos que lideram a corrida eleitoral querem crer e fazer crer que o Brasil está dividido entre essas duas torcidas, unidas pelo fato de ver na outra a representação de todos os males da pátria e no próprio grupo todas as virtudes enquanto militam com os mesmos métodos de recrutamento e reações contra adversidades. São duas faces da mesma moeda ou, como alguém me disse no twitter, uma é o feijão do arroz da outra.

Algo que une bolsonaristas e petistas umbilicalmente é a negação persistente e consistente de todo e qualquer fato negativo sobre seus ídolos/candidatos. No caso dos petistas nem é o oficial, Fernando Haddad, mas o paralelo, Lula. Basta lembrar que, para exercer a presidência da República durante 4 anos a pessoa tem de estar em condições físicas e em liberdade. Nenhum dos dois candidatos tem a mais remota possibilidade de garantir 100% ao eleitorado atender a mais básica exigência prática para o exercício do cargo. Não importa, lidamos com emoções, sensação de merecimento, paixões, não com realidade e perspectiva de futuro.

É sob este mesmo ponto de vista que petralhas e bolsominions tentam fazer o país acreditar que está dividido em duas torcidas, as deles. Não está. Não é o que revela a última pesquisa Datafolha, a maior de todas até agora, feita entre 18 e 19 de setembro, com 8596 entrevistados em todo o Brasil, contratada pela Rede Globo e Folha de S. Paulo, com registro no TSE  BR-06919/2018, margem de erro 2 pontos percentuais e confiança 95%.

De acordo com o levantamento, Bolsonaro e o PT somam 44% dos votos. Eles não dividem o país em dois, eles são quase a metade. O Brasil está sim dividido em dois: entre quem quer um “salvador da pátria” e quem já entendeu a política. Esses não se sentem representados pelas demais opções, mas rechaçam os métodos messiânicos e agressivos daqueles que obviamente não pretendem unir o país, mas se vingar dos detratores, inclusive imaginários.

Mais de metade do Brasil busca algo diferente do discurso de “salvador da pátria” que vemos à esquerda com Lula preso e à direita com Bolsonaro convalescente. Ambos vêm fincados na trajetória do herói, contando que o povo esqueça o que fizeram no verão passado, coalhados de palavras de ordem, com um único plano claro: o cara mata no peito e faz gol.

As militâncias, plenamente certas de deter o monopólio da virtude, não economizam em agressividade ao identificar um “inimigo”, que pode ser inclusive alguém que apenas não elogiou seu ídolo. Será imolado em praça pública ou nas redes sociais, ridicularizado, alvo de xingamentos, de ameaças, terá seus dados pessoais divulgados, a honra enxovalhada. Um lado acusa o outro de agressividade, mas estranhamente não se considera agressivo ao perpetrar as mesmas práticas. Talvez creiam fazer parte de uma guerra santa, pela virtude que monopolizam, contra o mal, lançando mão das maiores vilanias em nome do bem maior.

Esse movimento catártico domina os seguidores de Bolsonaro e do PT, que já se apressam em pedir que “não se faça generalizações” quando a característica lhes é apontada. No entanto, sempre que têm a oportunidade de interromper esse tipo de prática – diuturnamente – calam convenientemente, aprovando, em movimento de manada. A divisão do Brasil é exatamente essa: a política de quem patrulha, enquadra e cala quem pensa diferente de seu ídolo em oposição àqueles que desejam finalmente uma política adulta no Brasil, um país unido, planos consistentes para o povo.

A divisão do Brasil é entre aqueles que desejam um governo para unir o país (56%) e os que continuam acreditando nos governos populistas do nós contra eles (44%). As candidaturas extremistas, que dedicaram praticamente toda sua energia nos últimos anos a eleger aleatoriamente inimigos, ameaçar pessoas e tentar destruir reputações dos que não lhes obedecem cegamente e não temem truculência são incapazes de unir o Brasil. Aliás, são forças que só saem ganhando quando colocam brasileiro contra brasileiro, é gente que ganha na guerra e perde na paz. Pense bem, são forças que somem do debate público quando o país vai bem.

Parte do grupo de cidadãos que foi às ruas pedindo o impeachment de Dilma Rousseff começou a se unir pela internet num apelo à união contra o radicalismo político que está tomando corpo nas eleições de 2018. Eles lançaram um manifesto que reproduzo aqui:

APELO À CANDIDATURA ÚNICA CENTRO-DEMOCRATA

Fazemos este apelo em defesa da LIBERDADE de todos os brasileiros: chamemos nossos políticos do centro-democrático à responsabilidade.

Sra. e Srs. Candidatos à Presidência da República, Marina Silva, Alvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e João Amoedo, defendam nossa democracia, unindo-se em torno de uma candidatura única, que nos dê esperança de um país livre do radicalismo, sem que, pra isso, sejamos obrigados, pelo medo, a eleger outro extremista.

Acreditamos que não há espaço para arriscar, por isso, propomos esta convergência imediata.

Somos brasileiros, que fomos às ruas lutar pela nossa jovem democracia. Mas estamos cansados.

Queremos a pacificação do país e seu progresso. Estamos em diferentes regiões e classes sociais, clamando por um ato de desprendimento e generosidade dos atuais candidatos centro-democratas à Presidência da República. Os candidatos da extrema direita e extrema esquerda destilam ódio e medo, dividindo o país e incitando a violência.

Esperamos que reflitam, rapidamente, em que lado da história querem estar nas próximas décadas: a que contará sua grandeza ao convergir para uma candidatura em prol do país e que o salvou, ou a indiferença que acabou levando-o ao caos.

“Eduquem seus filhos, eduquem-se a si mesmos, no amor da liberdade alheia, único meio de não ser a sua própria liberdade uma doação gratuita do destino, e de adquirirem a consciência do que ela vale, e coragem para defendê-la” – Joaquim Nabuco

Faltam pouco mais de duas semanas para as eleições. Serão intensas.

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