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A verdade sobre os ‘veículos do exército’ que estavam em carreata pró-Bolsonaro
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Um vídeo que circulou no Twitter esse final de semana causou espanto e estranheza para muita gente: veículos militares, supostamente pertencentes ao Exército Brasileiro, estariam participando de uma carreata pró-Bolsonaro no Rio Grande do Sul.

A publicação questiona o Tribunal Superior Eleitoral e o Exército Brasileiro sobre a utilização dos veículos, e até mesmo a presença de supostas pessoas fardadas no evento.

Mas, como os dedos ágeis de muitos brasileiros costumam ser mais rápidos que as sinapses cerebrais, é mais fácil postar, compartilhar e causar mais alarde no grotesco cenário da disputa eleitoral, que realmente pesquisar com um pouco mais de profundidade que um pires de xícara de café.

É claro que os veículos em questão não são pertencentes ao Exército. Na realidade, não mais. A reportagem do blog ‘A Protagonista’ localizou o dono dos veículos, Paulo Souza, de Tramandaí, no litoral do Rio Grande do Sul.

Os veículos já foram usados no transporte de equipamentos e militares pela Aeronáutica e Exército Brasileiro, mas há anos foram arrematados em leilão pelo Paulo, que os utiliza para levar turistas pelas praias gaúchas.

Hoje, fazem parte de um acervo que já tem ônibus panorâmico e um caminhão com reboque para passageiros batizado de ‘carrosauro’.

Os modelos em questão foram fabricados pela Engesa, antiga indústria nacional de material militar, e datam da década de 1980.

Na conversa que tive com Paulo, ele conta sobre a repercussão que o caso tomou nas redes sociais. “Os veículos foram adquiridos legalmente em leilão do Exército e têm toda documentação em meu nome. Sou apoiador de Jair Bolsonaro aqui no litoral gaúcho e faço campanha gratuita para ele. Achei prudente fazer parte dessa carreata com meus familiares. Não imaginava que isso tomasse essa proporção, pois todo mundo aqui [na região] conhece meus caminhões, mas como era feriado, havia muitos turistas que fotografaram sem saber que são veículos particulares”, disse.

“Os veículos foram legalmente adquiridos por mim em um leilão do Exército e uso para transporte de turistas no litoral gaúcho”, explica Paulo Souza, dono dos caminhões flagrados na carreata.

Paulo acrescenta que os advogados do PSL estão preparando defesa com os documentos dos veículos para provar que não são de propriedade do Exército Brasileiro.

A importância de checar fatos é fundamental. Qualquer pessoa um pouco mais atenta, poderia verificar que os veículos não são oficiais. Em primeiro lugar, obviamente que nem na situação mais inusitada, insólita, ou maluca, um veículo militar sairia com faixas de qualquer candidato que fosse. Seria insubordinação gravíssima, passível da expulsão do quadro militar, além de responder a processo por improbidade, por exemplo.

Depois, na própria gravação, é possível ver que os veículos possuem placas, como qualquer carro civil. Nenhum veículo militar, seja de transporte ou de combate, é emplacado.

Emblema antigo (1) do Exército Brasileiro (que figura nos caminhões), ao lado do atual (2)

Há ainda o brasão do Exército que está no veículo. Ele está pintado com o emblema que há bastante tempo não está em uso.

Bem diferente do atual, padronizado de acordo com a norma estabelecida pela Portaria do Comandante do Exército nº 095, de fevereiro de 2005: “Escudo formado por um resplendor de vinte lâminas, cruzado no seu eixo vertical, de baixo para cima, por um sabre prata, este sobreposto por três elipses, nas cores verde, amarelo e azul, contendo, este último, a constelação do Cruzeiro do Sul na cor prata”.

Ou seja: em linhas gerais, pela legislação eleitoral é proibido o uso de bens públicos. Se a Justiça Eleitoral considerar que a caracterização dos veículos configura um símbolo nacional, processo pode ser aberto, mas ainda não houve qualquer denúncia.

Aqui, até então, apenas o exercício do fenômeno fake news em um dos exemplos mais simples: compartilhar antes de pensar e analisar.

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