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Dono do bumbum que estampou catálogos de calcinha é 100% Bolsonaro – e o capitão aprova
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No mesmo final de semana em que deu um senhor chá de cadeira no candidato a governador de São Paulo, João Doria, que tentou sedimentar uma aliança não-combinada com uma visita surpresa, Jair Bolsonaro recebeu de braços abertos o Lili, maquiador das estrelas, com quem gravou um vídeo que rapidamente viralizou pelo encontro inusitado.

Aloyzio Ferraz é o Lili Ferraz, queridinho das atrizes e modelos pelo talento impressionante como maquiador. Está no topo da profissão há décadas, já trabalhou com as principais redes de televisão do país e também se dedica, em paralelo, às artes: música e shows. Homossexual declaradíssimo, disse no vídeo de apoio ao candidato: “Pensa igual a mim, tá bom?“. Será? Jair Bolsonaro foi quem se encarregou de publicar o vídeo.

Em maio de 2011, Lili Ferraz participou do programa Topa ou Não Topa do SBT, à época comandado por Roberto Justus. Revelou ser, como tantos brasileiros, uma mistura de práticas tradicionais com concessões feitas sob medida para aqueles de quem gostamos e de quem compreendemos as boas intenções.

Chegou com sua alegria irradiante, conhecida de quem convive com ele, reclamou que havia moças demais no cenário – estavam todas de maiô – e disparou um trocadilho maroto que desconcertou o apresentador ao falar da atração que premiava os participantes com malas de dinheiro: “Eu adoraria rapazes, porque ‘mala’ tem tudo a ver com rapazes!”. O auditório foi ao delírio, Roberto Justus cortou a conversa ali. “Mala” é o termo utilizado no universo LGBT para se referir ao volume dentro da sunga dos rapazes.

Logo em seguida, no entando, Lili Ferraz revelou outra faceta: faz caridade, adotou legalmente um sobrinho, que chama de filho e estava no auditório e levou consigo uma estátua de Jesus Cristo, que diz manter ao alcance o tempo todo, inclusive dorme abraçado com ela em tempos difíceis. “E Ele vai fazer você ganhar esse dinheiro hoje aqui?”, perguntou o apresentador. “Ele vai fazer eu ganhar ou perder. Ele manda na minha vida”, disparou Lili Ferraz, beijando a estátua, para delírio da plateia.

Publicitário, Roberto Justus conhecia bem a fama do maquiador, além do talento reconhecido na profissão: o bumbum perfeito. Na década de 90, antes que o Photoshop fosse dono e senhor dos catálogos de roupas íntimas e de banho, essas peças eram produções muito mais trabalhosas. Era preciso ter modelos de rosto e corpo e também de partes específicas, como o bumbum. O quê? Isso mesmo. Quem compra gosta da ilusão da perfeição.

“Nos anos 90, era normal quando você ia produzir um anúncio para revista ou catálogos de lingerie usar dublês de bumbum. E, na época, um dos mais famosos era do Lili Ferraz, que era um homem. Isso era muito interessante. Foi, por várias vezes, o grande bumbum de vários comerciais que tanto fizeram sucesso na época” – lembra o publicitário Eduardo Vergeiro Sabiá.

A fama de Lili Ferraz se espalhava por dois motivos: era um modelo que funcionava nos anúncios e também havia o inusitado de ser um homem cujo bumbum se passava perfeitamente pelo de mulher. Houve até uma marca que, aproveitando-se da história que já ganhava corpo, resolveu escancarar tudo, para revolta de muitos rapazes que apreciavam os talentos de Lili Ferraz. A Roberto Justus, o maquiador contou que, quando lançaram o filme, que passava no cinema, ele precisava sair antes da sessão acabar com medo de ser reconhecido por quem havia se desiludido.

“Eu ia no cinema, eu tinha que sair antes da sessão acabar. Porque antes do filme começar passava a propaganda. Então, quando aparecia a bunda, a molecada: ‘aê, gostosa’, e coisa e tal… Aí, quando subia e mostrava meu rosto: ‘ô, viado! viado!” – lembrou Lili Ferraz no programa de televisão.

É esta personalidade complexa que o presidenciável Jair Bolsonaro acolheu para gravar um vídeo que divulgou nas redes sociais no mesmo final de semana prolongado em que não recebeu o candidato ao governo de São Paulo João Doria.

“Pessoal, tô aqui hoje no Rio tendo o prazer maravilhoso de conhecer aqui essa figura linda que é o Bolsonaro. Longe do que falam, é uma pessoa maravilhosa. Pensa igual a mim, tá bom? Bolsonaro, eu só vou te pedir uma coisa: manda um abraço para algumas pessoas da minha família que te amam e alguns amigos meus homossexuais que não têm medo e que te adoram também. São raríssimos os amigos que não gostam.” – disse Lili Ferraz, numa felicidade que mal cabia nele.

“Todos nós do Brasil somos seres humanos, somos brasileiros, patriotas, cumpridores dos nossos deveres e a opção de cada um interessa apenas para ela e o Estado não tem que interferir nessa área. Então, quero agradecer ao Lili aqui o apoio, a consideração, a confiança. Afinal de contas, nós precisamos sim é de segurança, é de emprego, é de meios para que todos possam ser felizes. Então, com esse propósito, eu mando um abraço à tua família, aos teus amigos, aos teus clientes e vamos juntos – eu disse juntos, hein, Lili? – mudar o destino do Brasil. Valeu, pessoal!” – respondeu Jair Bolsonaro. Lili Ferraz selou com um “amém!”.

Os petistas e seus apoiadores, que se consideram donos dos homossexuais, das mulheres, dos negros, dos indígenas e de toda e qualquer minoria que exista ou venha a ser descoberta no país, podem argumentar que Jair Bolsonaro está mudado e, no fundo, não é assim verdadeiramente, não tolera homossexuais. Não creio que o farão. Seria um pouco de cara-de-pau a afirmativa logo após trocar o vermelho por verde e amarelo e simplesmente apagar a figura histórica de Lula da campanha presidencial.

Posso ser uma otimista incorrigível. Alguns amigos dizem que minha fé na humanidade é a mãe e o pai das minhas desilusões. Prefiro assim a desistir do ser humano completamente. Nestas eleições, já compramos o bilhete do Titanic: escolhemos uma briga interminável, a eleição plebiscitária, o embate dos antis, que tende a se estender pelo mandato do futuro presidente e prejudicar qualquer tentativa que ele faça de unir o país. Mas os dois candidatos, ao contrário de suas torcidas, já aprenderam que não é atirando pedras que as pontes são construídas.

Prefiro acreditar que Jair Bolsonaro evoluiu sim, que seguiu o mesmo caminho que vimos nossos pais, tios e avôs percorrerem dos anos 80 até aqui e entendeu que há limites na interferência do Estado na vida dos cidadãos. Prefiro acreditar que, embora não goste da ideia da homossexualidade, como já expressou diversas vezes, está convencido de que os homossexuais não fazem nada de errado e são parte de um só Brasil que quer progredir.

Da mesma forma, também prefiro acreditar que, pela pressão popular, o PT foi forçado a enxergar que o Brasil é verde e amarelo, que nosso povo não se enxerga por cores partidárias, por tentativas de separar as pessoas ideologicamente. Prefiro acreditar que, embora tenha saudades da época em que dominou o país e tinha um projeto de poder que poderia realmente executar, está dando o braço a torcer e reconhecendo, pelo verde e amarelo, a chegada de numa nova era, em que nenhuma ideologia é maior que o bem do Brasil.

Ainda que as torcidas continuem movidas pela fúria e pelo medo, é nítido que os candidatos já perceberam que o estoque de quem se mobiliza por essas forças esgotou. O número de cidadãos que permanece agarrado aos próprios princípios e propósitos, apesar da agressividade e das coações de torcedores é assustadoramente e, ao mesmo tempo, deliciosamente grande. Quem quer que chegue ao poder, se quiser fazer pontes com gente séria, terá de agir com seriedade. Se a campanha servir para isso, alguma coisa já ganhamos nesse país.

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